Acabámos de ler uma tese
de mestrado sobre o monumento aos Combatentes do Ultramar. Apresentada por Mónica
Sofia Ramos Sarreira, orientada por Nélia Susana Dias, em 2016, no ISCTE, com o
tilulo “O Complexo Memorial ao Combatente Português em Belém: Um Lugar de
Reconciliação?”.
A arguente disserta em 85 páginas de texto o historial da coisa, onde refere, num parágrafo, na página 51, duas vezes o Pai da ideia e, sobretudo, o corajoso Barrosão que à época, sem medos e receios, deu origem a grandioso projecto – BARROSO da FONTE. O que diz é verdade, porque o conteúdo é do próprio Barroso da Fonte, publicado num artigo do Notícias do Douro.
“Faz
hoje 25 anos que foi inaugurado o Monumento de homenagem aos Combatentes da
Guerra do Ultramar. Situa-se Junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém. A sua
administração ficou a cargo da Liga dos Combatentes. A ideia desse monumento
partiu da ANCU - Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar - que convidou
mais oito associações. Todas elas formaram a Comissão Executiva que convidou o
General Altino de Magalhães para presidente dessa Comissão Executiva.
Este
general era sócio da ANCU, cujo fundador tivera a ideia e que convidou as oito
associações representativas dos três ramos das Forças Armadas.
Contou
para essa nomeação o facto de Altino de Magalhães ser um militar prestigiado e
ser, na altura, o Presidente da Liga.
O
sonho nasceu, em 1984 e foi inaugurado em 15 de Janeiro, dez anos depois, em
1994, com a presença dos dois ministros que nesse período tiveram a chefia do
Ministério da Defesa: Eurico de Melo e Fernando Nogueira. Todos os passos
relacionados com este Monumento foram publicitados pelo Jornal SENTINELA, mais
tarde, alterado para a Voz do Combatente. Nesse ato inaugural, o então presidente
da República, Mário Soares, foi fortemente apupado pelos militares, porque ele
fora contra esse mausoléu, junto do qual passaram a celebrar-se, anualmente, os
desfiles do dia 10 de Junho.
Importa salientar que as diversas associações
de militares acordaram criar a Federação para que, de ora em diante, dialogue
com os poderes políticos no intuito de reconhecer todos os Combatentes como
cidadãos de pleno direito, face ao descrédito, menosprezo e ostracismo a que
foram votados, nestes 45 anos de arrogância e de auto-convencimento por parte
da Liga que nasceu aquando da Grande Guerra. Sobretudo o seu atual Presidente,
General Chito Rodrigues nunca aceitou a sã convivência com as associações que,
ao longo das guerras da Índia Portuguesa, quer das diversas frentes de combate
nos treze anos da chamada Guerra do Ultramar.
O poder político, durante o Estado Novo
encostou-se muito à Liga dos Combatentes que teve, inegavelmente, papel
importante no apoio aos sobreviventes da Grande Guerra. Foi somando competências,
direitos adquiridos e até bens materiais que, por todo o país, marcaram terreno
fértil que hoje não se justificaria se essa Liga não tivesse alargado o âmbito
associativo aos novos combatentes das duas guerras posteriores: da Índia (em
1955-61) e Ultramar (1961-1975).
Acontece que a Liga, que foi um feudo oficioso
do Estado Novo, em nome da Grande Guerra, com a revisão dos Estatutos,
açambarcou o universo de recrutamento de associados da segunda metade do século
XX. E foi tendo ciúmes à medida em que cada especialidade militar foi criando
associações concorrentes a esse feudo.
Os
combatentes da Grande Guerra já partiram. Os bens materiais da Liga e as leis
nacionais que lhes foi aplicando, deveriam ser atualizadas e extensivas os
combatentes novos. O Presidente da Liga soube enquadrar-se no espírito
ideológico dos sucessivos governos. E, de repente, só a Liga é parceira do
governo, só os sócios da Liga beneficiam das leis adaptadas e os verdadeiros
Combatentes nem são achados nem ouvidos.
Quando,
em 1984, tivemos a ideia de erguer o Monumento aos Combatentes do Ultramar,
fomos apupados de reacionários, de fascistas, de criminosos. A liga viu perigar
o seu fim à medida em que surgia mais uma associação.
E
até a autoria da ideia do Monumento que na altura nos valeram essa chusma de
nomes feios, passou a ser pomo de discórdia, reclamando a paternidade do
Monumento.
Ora
o Monumento não foi ideia da Liga, o dinheiro foi atribuído pelo Ministério de
Defesa, pelas associações de Combatentes e pelas Juntas de freguesias de todo o
país.
A
Liga apenas teve, graças ao prestígio profissional do seu presidente, o encargo
que as associações lhe deram, ao elegê-lo para presidente da Comissão
Executiva.
Hoje,
assinalou os 25 anos da inauguração. Muito bem. Mas ignorou as associações,
nomeadamente o «pai» da ideia e as associações que, de boa-fé, lhe confiaram a
administração do Monumento. O general Chito Rodrigues gosta muito de fazer
figura com as obras alheias. Mas enquanto eu for vivo - na qualidade de pai da
ideia, de sócio fundador nº 1 da ANCU que operacionalizou essa ideia e que foi,
20 anos, seu presidente, não deixarei de responsabilizá-lo por tão indecoroso
atrevimento.”.
Após este elucidativo comentário, quem quiser saber mais sobre a coisa com o devido aprofundamento, clique nos sites que seguem, todos eles publicados neste blogue:
http://tempocaminhado.blogspot.com/2019/01/liga-dos-combatentes-procura-louros.html
https://tempocaminhado.blogspot.com/search?q=Barroso+da+fonte%2C+monumento+aos+combatentes
https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/04/a-verdade-historica-do-monumento-dos.html
https://tempocaminhado.blogspot.com/2014/10/monumento-aos-combatentes-inaugurado-ha.html
https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/06/almirante-vieira-matias-um-combatente.html
https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/07/todos-contra-os-combatentes-ate-quando.html
https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/04/quando-contra-factos-nao-ha-argumentos.html
Actualizado a 8 de Março de 2021.
AGORA ESTOU DE CÁ
ResponderEliminarAgora estou de cá
em posição de à vontade
fitando os cobardes e pensando nos heróis
que sois vós todos os de ontem os de hoje e os de amanhã
Agora estou de cá
neste arrabalde de negociantes
onde o parasitismo é lei
e se confunde o sangue dos mortos
com o wisque dos cabarets
Agora estou de cá
com os pés enlameados dos vícios dos apátridas
e com bagagem de repórter das trincheiras
Agora estou de cá
sem arma e sem bornal
mas voluntário para a escolta a Nambuangongo
para a operação Quissonde
ou para a emboscada no trilho de Kisakasaka
na picada da Pedra Verde
ou no repovoamento da serra do Uíge
Agora estou de cá
na terra pervertida dos compradores de vidas
onde tudo é diferente
até a morte das crianças.
BARROSO DA FONTE (É preciso amar as pedras)
In Trinta Anos de Poeta