domingo, 7 de março de 2021

Um Monumento aos Combatentes

 

Acabámos de ler uma tese de mestrado sobre o monumento aos Combatentes do Ultramar. Apresentada por Mónica Sofia Ramos Sarreira, orientada por Nélia Susana Dias, em 2016, no ISCTE, com o tilulo “O Complexo Memorial ao Combatente Português em Belém: Um Lugar de Reconciliação?”.

A arguente disserta em 85 páginas de texto o historial da coisa, onde refere, num parágrafo, na página 51, duas vezes o Pai da ideia e, sobretudo, o corajoso Barrosão que à época, sem medos e receios, deu origem a grandioso projecto – BARROSO da FONTE. O que diz é verdade, porque o conteúdo é do próprio Barroso da Fonte, publicado num artigo do Notícias do Douro.

Já no final do texto, a arguente refere a sala Nambuangongo. Exactamente o local onde Barroso da Fonte cerrou fileiras. Para quem não sabe, Nambuangongo situava-se nos Dembos, a região simbólica para os revoltosos. O último reduto. Não foi por acaso que tomado Nambuangongo, as tropas portuguesas praticamente derrotaram o inimigo. Um cheirinho disto está em "crónicas do tempo  da Guerra" de quem se aborda neste escrito. Sobre isto estamos á vontade, porque foi na região dos Dembos que nascemos.
É claro que a arguente foi orientada no sentido de alguma coisa que estava escrita e no sentido de inquirir certos personagens, cujos nomes alonga ao longo da dissertação, não tendo a preocupação de entrevistar o percursor da ideia e daquele que deu origem ao Monumento, quando ocupou, durante 20 anos, o cargo de Presidente da Direção da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar (ANCU).


Barroso da Fonte, neste blogue, já disse de sua justiça. Ouçamo-lo a 15 de Janeiro de 2019:

“Faz hoje 25 anos que foi inaugurado o Monumento de homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar. Situa-se Junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém. A sua administração ficou a cargo da Liga dos Combatentes. A ideia desse monumento partiu da ANCU - Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar - que convidou mais oito associações. Todas elas formaram a Comissão Executiva que convidou o General Altino de Magalhães para presidente dessa Comissão Executiva.

Este general era sócio da ANCU, cujo fundador tivera a ideia e que convidou as oito associações representativas dos três ramos das Forças Armadas.

Contou para essa nomeação o facto de Altino de Magalhães ser um militar prestigiado e ser, na altura, o Presidente da Liga.

O sonho nasceu, em 1984 e foi inaugurado em 15 de Janeiro, dez anos depois, em 1994, com a presença dos dois ministros que nesse período tiveram a chefia do Ministério da Defesa: Eurico de Melo e Fernando Nogueira. Todos os passos relacionados com este Monumento foram publicitados pelo Jornal SENTINELA, mais tarde, alterado para a Voz do Combatente. Nesse ato inaugural, o então presidente da República, Mário Soares, foi fortemente apupado pelos militares, porque ele fora contra esse mausoléu, junto do qual passaram a celebrar-se, anualmente, os desfiles do dia 10 de Junho.

 Importa salientar que as diversas associações de militares acordaram criar a Federação para que, de ora em diante, dialogue com os poderes políticos no intuito de reconhecer todos os Combatentes como cidadãos de pleno direito, face ao descrédito, menosprezo e ostracismo a que foram votados, nestes 45 anos de arrogância e de auto-convencimento por parte da Liga que nasceu aquando da Grande Guerra. Sobretudo o seu atual Presidente, General Chito Rodrigues nunca aceitou a sã convivência com as associações que, ao longo das guerras da Índia Portuguesa, quer das diversas frentes de combate nos treze anos da chamada Guerra do Ultramar.

 O poder político, durante o Estado Novo encostou-se muito à Liga dos Combatentes que teve, inegavelmente, papel importante no apoio aos sobreviventes da Grande Guerra. Foi somando competências, direitos adquiridos e até bens materiais que, por todo o país, marcaram terreno fértil que hoje não se justificaria se essa Liga não tivesse alargado o âmbito associativo aos novos combatentes das duas guerras posteriores: da Índia (em 1955-61) e Ultramar (1961-1975).

 Acontece que a Liga, que foi um feudo oficioso do Estado Novo, em nome da Grande Guerra, com a revisão dos Estatutos, açambarcou o universo de recrutamento de associados da segunda metade do século XX. E foi tendo ciúmes à medida em que cada especialidade militar foi criando associações concorrentes a esse feudo.

Os combatentes da Grande Guerra já partiram. Os bens materiais da Liga e as leis nacionais que lhes foi aplicando, deveriam ser atualizadas e extensivas os combatentes novos. O Presidente da Liga soube enquadrar-se no espírito ideológico dos sucessivos governos. E, de repente, só a Liga é parceira do governo, só os sócios da Liga beneficiam das leis adaptadas e os verdadeiros Combatentes nem são achados nem ouvidos.

Quando, em 1984, tivemos a ideia de erguer o Monumento aos Combatentes do Ultramar, fomos apupados de reacionários, de fascistas, de criminosos. A liga viu perigar o seu fim à medida em que surgia mais uma associação.

E até a autoria da ideia do Monumento que na altura nos valeram essa chusma de nomes feios, passou a ser pomo de discórdia, reclamando a paternidade do Monumento.

Ora o Monumento não foi ideia da Liga, o dinheiro foi atribuído pelo Ministério de Defesa, pelas associações de Combatentes e pelas Juntas de freguesias de todo o país.

A Liga apenas teve, graças ao prestígio profissional do seu presidente, o encargo que as associações lhe deram, ao elegê-lo para presidente da Comissão Executiva.

Hoje, assinalou os 25 anos da inauguração. Muito bem. Mas ignorou as associações, nomeadamente o «pai» da ideia e as associações que, de boa-fé, lhe confiaram a administração do Monumento. O general Chito Rodrigues gosta muito de fazer figura com as obras alheias. Mas enquanto eu for vivo - na qualidade de pai da ideia, de sócio fundador nº 1 da ANCU que operacionalizou essa ideia e que foi, 20 anos, seu presidente, não deixarei de responsabilizá-lo por tão indecoroso atrevimento.”.

 

Após este elucidativo comentário, quem quiser saber mais sobre a coisa com o devido aprofundamento, clique nos sites que seguem, todos eles publicados neste blogue:

http://tempocaminhado.blogspot.com/2019/01/liga-dos-combatentes-procura-louros.html

https://tempocaminhado.blogspot.com/search?q=Barroso+da+fonte%2C+monumento+aos+combatentes

https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/04/a-verdade-historica-do-monumento-dos.html

https://tempocaminhado.blogspot.com/2014/10/monumento-aos-combatentes-inaugurado-ha.html

https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/06/almirante-vieira-matias-um-combatente.html

https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/07/todos-contra-os-combatentes-ate-quando.html

https://tempocaminhado.blogspot.com/2020/04/quando-contra-factos-nao-ha-argumentos.html

Actualizado a 8 de Março de 2021.

1 comentário:

  1. AGORA ESTOU DE CÁ

    Agora estou de cá
    em posição de à vontade
    fitando os cobardes e pensando nos heróis
    que sois vós todos os de ontem os de hoje e os de amanhã

    Agora estou de cá
    neste arrabalde de negociantes
    onde o parasitismo é lei
    e se confunde o sangue dos mortos
    com o wisque dos cabarets

    Agora estou de cá
    com os pés enlameados dos vícios dos apátridas
    e com bagagem de repórter das trincheiras

    Agora estou de cá
    sem arma e sem bornal
    mas voluntário para a escolta a Nambuangongo
    para a operação Quissonde
    ou para a emboscada no trilho de Kisakasaka
    na picada da Pedra Verde
    ou no repovoamento da serra do Uíge

    Agora estou de cá
    na terra pervertida dos compradores de vidas
    onde tudo é diferente
    até a morte das crianças.

    BARROSO DA FONTE (É preciso amar as pedras)

    In Trinta Anos de Poeta

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