Barroso da Fonte |
Fez 20 anos, em 15 de Janeiro último, que foi
inaugurado em Lisboa, junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, o Monumento
Nacional que dá nas vistas de quem chega ou de quem parte, por terra, mar e ar.
Como e porque apareceu ali, em tão nobre espaço, tão insólito e polémico
Monumento que perpetuará, pelos séculos fora, «os melhores de nós todos» que
foram cerca de um milhão de jovens, entre 1961 e 1974, nove mil dos quais
perderam a vida nas antigas Províncias Ultramarinas? Impunha-se inscrever na
História de Portugal e para memória futura, o simbolismo desse Monumento, cuja
ideia nasceu em Guimarães, em 1984, no seio da Associação dos ex-Combatentes do
Ultramar. Em 29 de Janeiro de 1987, na
sede da Liga dos Combatentes, foi constituída a Comissão Executiva, formada por
representantes de oito instituições, alinhadas por ordem cronológica da sua
fundação, a saber: Sociedade Histórica da Independência de Portugal (1861);
Sociedade de Geografia de Lisboa (1875); Liga dos Combatentes (1924); ADFA
(1974); Associação de Comandos (1975); AEFAP, (1977); Associação dos
Ex-Combatentes do Ultramar (1982); e Associação Força Aérea Portuguesa (1983).
Nessa data foi deliberado, por unanimidade, confiar a presidência dessa
Comissão ao General Altino de Magalhães, na sua qualidade de Presidente da Liga
dos Combatentes. Para além da Comissão Executiva foram também
instituídas: a Comissão Técnica, para elaboração do projecto do
Monumento e a abertura de concurso público aberto a todas as equipas de
reconhecido mérito em arquitectura e a Comissão
de Honra para que a construção do
Monumento envolvesse toda a sociedade civil, desde o Presidente da República, a
todos os órgãos de soberania. O então Presidente da República recusou o
convite, alegando que essa intenção implicava uma imagem pública de
concordância com a Guerra do Ultramar que ele (Mário Soares) não partilhava.
Tal recusa fez com que a Comissão de Honra não fosse por diante. Apesar dessa
resistência a Comissão Executiva não desanimou, antes entendeu que deveria ter «o vulto de um Monumento Nacional e que era
urgente a sua construção. E para ter a maior dignidade e transmitir força,
serenidade e respeito, deveria convidar à meditação profunda do amor à Pátria e
à exaltação do cumprimento do dever cívico. Mais: deveria prever-se a
organização adicional de um Museu do Combatente. O Ministro da Presidência e da
Defesa Nacional (Eurico de Melo) concordou com o caderno proposto pela Comissão
Executiva e aprovou o espaço sugerido para a construção do Monumento, processo
moroso que apenas foi concluído em 21/09/1990, já sob a tutela do Ministro
Fernando Nogueira. A abertura do concurso para o projecto foi publicada no DR.
de 5 de Maio de 1991, 3ª série e ganhou-o a proposta do Arqtº Francisco Guedes
de Carvalho. A execução desse projecto foi entregue, por unanimidade e sem
reclamações dos restantes quatro concorrentes à Firma Amadeu Gaudêncio
que apresentou a proposta mais baixa: 95.598.967$00. A obra seria inaugurada,
solenemente, em 15/01/1994, sob a Presidência do PR, debaixo de muitos apupos e
grande contestação. O orador oficial convidado foi o Prof. Doutor Adriano
Moreira. Do Ministério da Defesa, de algumas Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, empresas e
cidadãos individuais, foram reunidos 8.839.540$00. Com algumas verbas que
sobraram foi deliberado colocar nas Muralhas do Forte do Bom Sucesso os nomes de
todos aqueles que perderam a vida em combate. E foram cerca de 9 mil. Essa
segunda inauguração ocorreu em 5/2/2000. Por despacho de 16/10/1998 a Comissão
Executiva foi dissolvida, por já não se justificar e foi atribuída à Liga dos
Combatentes a gestão daquele Monumento e
também o espaço envolvente.
Tudo isto e algo mais pode ler-se
no livro Monumento aos Combatentes do Ultramar (1961-1974), da autoria
do General Altino de Magalhães que, ao tempo, era Presidente da Liga. Um
valioso testemunho porque ninguém melhor do que ele conheceu os passos deste
monumento nacional. Em 9/4/1989, durante
as cerimónias da Batalha de La Liz, perante o vice-primeiro Ministro e Ministro
da Defesa, Altino de Magalhães anunciou a abertura do concurso para a sua
Construção e afirmou: «Como é do conhecimento público a Associação dos
Combatentes do Ultramar, com sede em Guimarães, lançou há cerca de 4 anos a
ideia da construção desse Monumento».Na página 19 do memorial editado em 2008
pela EUROpress confirma: «A Associação dos Combatentes do Ultramar (em
Guimarães), no seu jornal Sentinela, em Março de 1985, referindo-se à
construção desse Monumento, exprimiu que teriam o maior mérito todos os apoios
para essa realização». Embora fique claro que a paternidade deste Monumento nos
pertence, alude a uma referência em 1 de Fevereiro de 1985
à Associação de Comandos. Este equívoco pode gerar alguma confusão
histórica pelo facto de, na mesma página citar o Boletim Sentinela nº
7, referente a Março de 1985. É que
na edição nº 5 do mesmo Boletim, mas de Agosto de 1984, na página
3, já podia ler-se no Plano de actividades: «designação de um grupo de
associados que tenham como tarefa essencial a angariação de meios e
apresentação de estudos tendentes à construção de um Monumento nacional em
homenagem aos Combatentes». BF criou, em 1982, aquela Associação que, em 1996,
mudou o nome para Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar. Até 2002 foi
Presidente da Direcção e director do Boletim Sentinela, com o pseudónimo
de Fernando Paixão. Por sua proposta transferiu-se a sede para Tondela,
em 2002, onde está de pedra e cal. Quem tiver dúvidas consulte esse Boletim,
onde está contada, número a número, essa
cronologia que permite concluir, a paternidade e a responsabilidade desse
Monumento. Só num e-mail datado de 8 de Outubro último pudemos conhecer a
biografia, de uma das 2 filhas do associado Duval de Oliveira Bettencourt,
Oficial Miliciano que faleceu em 11/03/1998 .
Barroso da Fonte
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