Hoje, foram apresentados dois livros na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa: "Os Galgos do Niassa" e "O Sal da História".
Ex.nos senhores
Presidente da direcção da CTMAD, Dr Hirondino Isaias
Capitão João Andrade da Silva
Caros amigos barrosões
Caros amigos transmontanos e altodurienses
É com subida honra que me apresento, hoje, nesta sala da CTMAD para vos
falar sobre a guerra colonial nas vésperas do histórico Dia 25 de Abril.
Honra que é oportunidade para se recordar a triste guerra sem
sentido, mas guerra onde os nossos militares de então se bateram com coragem
inaudita para salvaguardar a glória da nossa querida pátria.
Honra que sinto pela oportunidade que nos é dada por esta nobre
instituição de tranasmontanos valorosos que, desde a sua fundação, tem sido um
farol a levar longe as virtualidades das terras transmontanas e dos
transmontanos.
Aproveito para felicitar a CTMAD, todos os seus dirigentes, do
passado e do presente, que, com dedicação extrema, devoção ímpar e trabalho
exemplar, têm mantido a vida desta nobre Casa na capital do país. Na capital a
Casa mais antiga e a mais prestigiada de todas as Casas Regionais, sempre
disponível, de portas abertas para as autarquias e para os transmontanos e
altodurienses e outros, é obra de gente transmontana dos quatro costados.
Repito que nunca é demais relevar o trabalho insano de todos os que
a fundaram e dos que, durante tantos longos anos lhe têm dado continuidade com
vida associativa prestigiada e publicamente reconhecida.
E, reconhecendo a minha parte de cumplicidade, é justo, no que à
nobre Casa diz respeito, que se diga aqui, claramente, que quase tudo se deve à
participação dos transmontanos do nordeste que, salvo raras excepções, têm
liderado a vida associativa da CTMAD. A meu ver, existe uma diferença
comportamental entre os nordestinos e os transmontanos do distrito de Vila
Real. Aqueles são mais dados ao associativismo enquanto os transmontanos do
noroeste são mais comunitaristas. Quando do trabalho colectivo resultar
proveito próprio aí, sim, temos os transmontanos do noroeste a trabalhar com
todas as ganas, se o trabalho é de voluntariado sem contrapartidas, no puro
sentido do associativismo, só se pode contar com os transmontanos do nordeste e
altodurienses, verdadeiros mestres da solidariedade e do brio transmontano.
Este carisma colectivo associado a um forte bairrismo transmontano
tem tido resultados sociais, económicos e até culturais de grande relevância.
Basta ver a realidade que palpita entre os dois distritos para se validar o que
antes acaba de ser votado.
Mudando de assunto, da minha história conto três anos em Lisboa, por
sinal os piores anos da minha vida porque, depois de concluir o curso de
Teologia no Seminário de Vila Real, decidi não avançar para a carreira
eclesiástica e, então, já sem o apoio familiar, instalei-me na capital com
emprego no INE e a estudar no Conservatório Nacional. Tempos difíceis que
passei em Lisboa sem tempo para os amigos, para as borgas, para ir ao cinema,
nada. Mas, na altura, não sei sob que pretexto, deu para conhecer a CTMAD sita
então na Rua da Misericórdia e dela fiquei com uma imagem dum edifício velho e
mal mobilado mas talvez assim porque já se falava em novas instalações.
Depois, quando na presidência da Câmara, e sempre à boleia dos
amigos Manuel Largo e Medeiros Amaro, conheci um pouco melhor a Casa em visitas
fugases que mal recordo nos dias de hoje.
Já nestas instalações, ainda há bem pouco tempo, com o meu velho e
inesquecível amigo, Carneiro Chaves, trouxe aqui uma palestra sobre a vida e
obra do barrosão João Rodrigues Cabrilho onde pontuou o beirão João Soares
Tavares, um dos biógrafos do navegador.
Do livro que se apresenta “Os Galgos do Niassa” e do qual vamos já
ter oportunidade de ouvir dele falar o Dr Armando Palavras que lhe agradeço do
fundo do coração a disponibilidade desta sua preciosa colaboração.
Agradecimento que decorre da curiosidade de somente hoje nos conhecermos
pessoalmente mas que eu já admiro há vários anos através do seu blogue “Tempo
caminhado” cujas peças de mais interesse me faziam chegar os meus muito amigos,
entre eles essoutro grande e ilustre transmontano, Dr Jorge Laje e o Dr Barroso
da Fonte.
O livro, em si, penso não merecer loas especiais. Trata-se da
compilação de cenas passadas na guerra colonial, em terras do Niassa, onde o
IN, na defensiva, atacava as nossas tropas através de minas e emboscadas. Três
dos soldados do meu pelotão por lá ficaram e ainda hoje penso neles e nas suas
famílias. Penso também que eu estou aqui devido aos três responsos a Santo
António que a minha santa e virtuosa mãe rezava a Deus, diariamente, para eu
andar livre de todos os perigos.
A meio ano da data do embarque com que sonhávamos todos os dias,
vi-me envolvido numa missão que me marcou para toda avida. A missão vinda do
comando do Sector em Marrupa de identificar e enterrar os corpos dos soldados
afogados no rio Zambeze. Dos 101, encontrámos 84 ou 85, os restantes corpos não
apareceram. Eu que era rapaz alegre e de muita vivacidade, daí em diante passei
a ser outra pessoa, mais calma, pensativa e menos ousada.
Regressei à nossa terra com stress acentuado ao ponto de, nos
primeiros tempos, nem falar aos meus pais e, se havia diálogo, mostrava-me
quase sempre agressivo. Consegui vencer o stress talvez devido às muitas
actividades em que sempre andei envolvido. Mas, atençao, não há um único dia
que não veja os corpos daqueles jovens mortos, jovens de 20 e 21 anos… e tantos
foram eles enterrados no cemitério improvisado de Mopeia… E pior que tudo,
ainda hoje me pesa a consciência de ver os corpos dos jovens inanimados e dos
meus comportamentos impróprios e inadmissíveis para com a família.
“Os Galgos do Niassa” tem dois grandes objectivos, um relembrar a
maior tragédia de toda a guerra colonial, outro enaltecer a coragem, a ousadia
e a determinação dos militares desta guerra sem sentido mas no cumprimento da
defesa e glória da nossa pátria, de Portugal.
Não termino sem ter uma palavra muito especial para o Correio da
Manhã e o seu grande jornalista Fernando Madail que, quando se completaram 50
anos desta grande tragédia, em 21 de Junho de 2019, foi o único orgão da grande
imprensa a dar a notícia do naufrágio no rio Zambeze. Um caderno, com chamada
de primeira página, falou sobre o desastre com opiniões colhidas junto de
alguns sobreviventes. Se assim não fora, muito provavelmente esta centena de
jovens poderia vir a cair no baú do esquecimento para todo o sempre. E seria
inaceitável, intolerável, inadmissível que Portugal não evocasse a memória
destes jovens que tão ingloriamente morreram pela nossa pátria.
Grato ao sr. Presidente da direcção da CTMAD
Grato ao Dr. Armando Palavras!
Grato ao Dr Barroso da Fonte!
Grato a todos os presentes!
Carvalho de Moura
CTMAD,
23/04/2025
Praça do Campo Pequeno, n.º 50, 3.º esquerdo,
1000-088 Lisboa, Lisbon, Portugal
Tel: 21 793 9311
E-mail: geral@ctmad.pt
Barroso da Fonte interveio, sobretudo para evocar o período da Guerra Colonial e para fazer uma sítese do "Sal da História".
No final houve confraternização com lanche oferecido por Carvalho de Moura e Barroso da Fonte.