quarta-feira, 24 de junho de 2020

Almirante Vieira Matias - um Combatente destemido



BARROSO da FONTE
Acabara de completar 81 anos de vida o Almirante Vieira Matias. Nasceu em Porto de Mós, foi uma alta personalidade da Marinha e não fez a sua carreira por promoções administrativas ou golpadas traiçoeiras. Ainda em 2002, sendo Chefe do Estado-Maior da Armada, «mandou regressar navios à base como crítica ao baixo orçamento que o governo da época dera à Marinha».
Durante o elogio fúnebre foram proferidas, por diversas entidades palavras que deveriam ganhar eco nas academias e centros de formação cívica.
«A coragem e frontalidade a serem e a comandarem fuzileiros especiais na Guiné, no início da carreira militar, voltou a mostrá-la em 2002, nos últimos dias como Chefe do Estado-Maior da Armada.
Leu-se na imprensa que «era um homem notável, um grande marinheiro, um exemplo como militar, como professor e como cidadão. Um dos mais notáveis lideres e militares contemporâneos, com uma carreira brilhante",
E o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, destacou as 16 condecorações nacionais (a última, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em janeiro) e 10 estrangeiras.
O piloto Aviador Brandão Ferreira, em artigo que circulou pelas redes sociais, afirmou que «quando a Comissão Promotora para a evocação dos Antigos Combatentes do Ultramar (creio que em 1997) foi solicitar apoio das chefias militares para tal cerimónia, junto ao respetivo Monumento, situado perto da Torre de Belém (Lisboa) – Monumento sagrado da Pátria que uns poucos negregados arrotaram de suas fezes querer agora, demolir – o Almirante Matias foi o único chefe militar que teve discernimento e coragem para apoiar a iniciativa, não se acobardando com a incrível oposição movida contra tal comemoração por parte da Presidência (e não só). Mais tarde Vieira Matias viria a integrar a Comissão Promotora das Comemorações do dez de Junho».
Na qualidade de autor da ideia da construção desse Monumento, de sócio número 1 da ANCU e de Presidente, durante vinte anos, da (Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar que teve sede em Guimarães e que, também por sua proposta, foi transferida para a cidade de Tondela), onde permanece, bem entregue, associo-me ao espírito deste artigo e louvo o Ten. Coronel Brandão Ferreira, por ter tido a coragem de ser tão claro, contra os tais «poucos negregados que arrotaram de suas fezes quererem, agora, demolir o referido Monumento». Se calhar esses poucos são os mesmos que vandalizaram a escultura do Padre António Vieira. Os tais vampiros que vivem à custa dos impostos dos combatentes, de ontem e de hoje e que reinam no meio das confusões.
Monumento aos Combatentes do Ultramar - Belem | Monuments ...Esse Monumento não nasceu no seio dos profissionais das armas. Muitos desses combateram os pioneiros, caluniando-os de nomes feios, na imprensa, nas conversas de café e durante os muitos desfiles que ali se fazem em cada dez de Junho e noutras datas.
Foi por isso que em 1982, após ouvir o líder da Associação 25 de Abril, a anunciar que iria criar uma associação para travar as vozes da reação, eu próprio, não mais sosseguei até ver personalizada e instituída a ANCU. Em 1984, contra ventos e marés, convidei o saudoso General Altino de Magalhães para ser nosso associado, o que aceitou. Logo lhe pedi que liderasse esse movimento. Indiquei-lhe logo, outras parcerias, como a Associação dos Comandos, a Liga dos Combatentes para cuja direção nacional ele próprio foi eleito em1986. Também por proposta da ANCU ele foi, entretanto eleito, passando a gerir todo o processo consequente. Às cinco associações iniciais, aumentou ele para oito que subscreveram o Monumento. Em 15 de Janeiro de 1994 fez-se a inauguração. Mas nem uma palavra se ouviu acerca de quem foi o pai ou o padrinho do nasciturno. Tudo decorrera bem e era isso o que se pretendia. Até aí foi preciso bater à porta dos dois ministros da Defesa (Eurico de Melo e Fernando Nogueira).A Liga mudou de líder nacional. Os ódios ficaram contra a ANCU, os Comandos e ADFA. Já faleceram: Altino de Magalhães, Vítor Ribeiro e José Arruda. Os líderes das restantes associações que têm o nome no sopé do Monumento foram convidadas pelo já então Presidente da Liga, pois também dessas instituições ele fazia parte. Nunca conheci nenhum desses líderes e talvez, até eles, por desconhecimento do início do processo, pensem que o opúsculo de Altino de Magalhães, contém esses cinco primeiros anos. Não lhes levo a mal. Mas esse pequeno livro que contem as contas (certas e os concursos insuspeitos). Ignora a parte inicial. Essa omissão tem atribuído a História do Monumento apenas à Liga dos Combatentes. Mas não corresponde à verdade. Nem o general Chito Rodrigues que nos últimos anos lidera esse mediatismo histórico, tem a culpa toda. Mas ele próprio já elaborou um documento que me enviou, correto, onde ele reconhece esses primeiros cinco anos e a paternidade da ideia.
Talvez também o Piloto Aviador Brandão Ferreira desconheça esse período de tempo. Talvez a partir da data em que, também em Guimarães e por sugestão do Cor. Caçorino Dias fundámos o Movimento dez de Junho, cuja função caberia à celebração anual, no dia10 de Junho dessas comemorações. Pelo que li no seu artigo o Almirante Vieira Matias presidiu, mais tarde a essa manifestação. Fica aqui exposta publicamente e pela primeira vez a verdadeira história da construção do Monumento aos Combatentes do Ultramar.

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