BARROSO da FONTE |
E o
jornalismo é uma atividade que deve estar imunizada contra os vírus sociais,
comerciais e políticos. Sem jornalismo sério, isento, oportuno e espevitado, a
democracia não funciona na sua pureza original.
O conceito de
Jornalista anda adulterado por razões políticas.
Na década de
oitenta do século passado deram-se passos decisivos em Portugal para
regulamentar o seu exercício, colocando-o no patamar que lhe compete. Tal
tarefa não foi fácil mas foi meritória. Em consequência dela mudaram-se muitas
atitudes sociais, extinguiram-se alguns vícios e desbloquearam-se meios
tecnológicos e até mentais. Alguns órgãos de informação acabaram, outros os
substituíram e o sector evoluiu, nuns casos para melhor, noutros casos para
pior.
Passado um quarto de século olha-se para trás
e nota-se que nem tudo foi bom. Sobretudo na proliferação do conceito de
Jornalista e do seu exercício. Desprezou-se o primado do essencial, em relação
ao supérfluo. O que não tem interesse de maior para a felicidade dos cidadãos,
sobrepôs-se aos valores absolutos que não devem, nem podem, perturbar o primado
da democracia.
Os órgãos de
informação deixaram de ser, veículos de uso permanente ao serviço de todos,
para serem armas de arremesso dos poderosos contra os indefesos. E para que
essa tramoia vingasse,onde deviam colocar-se jornalistas colocaram-se
jornaleiros,em vez de técnicos da escrita,escolheram demagogos, panfletários de
palavras ocas, talhadinhas ao gosto dos mandantes.
Resultado: o
papel que cabe aos jornalistas e ao jornalismo, retirou-se do léxico da
profissão e da sua serventia,para se entregar a comissários políticos que
povoam as televisões, as rádios e os jornais do jetset.
As
Universidades passaram a formar jornalistas, ensinando o abc da profissão. Mas
os mercados estão pejados de comentadores residentes,que faturam por processos
ínvios,os serviços prestados à margem de leis que alguns deles ajudaram a
fazer.
A opinião
pública vive intoxicada com debates grotescos,pífios e rafeiros. De manhã à
noite, de todos os dias, em todos os canais que justificam a sua existência com
informação pura, nada de novo, porque se repetem as caras, se ouvem as mesmas
vozes, se multiplicam os insultos.
A Comissão da
Carteira Profissional,de dois em dois anos, informa os seus legítimos detentores
com esta assertiva linguagem:
«a CCPJ
lembra que o exercício da atividade jornalística sem título profissional válido
constitui contra-ordenação punível com coima de 1.000 a 7.500 euros». E avisa
mais: «A admissão ou manutenção de pessoas, por parte das empresas, para o
exercício da atividade jornalística, sem que, para tanto, estejam legalmente
habilitadas, constitui uma contra-ordenação, punível com coima de 2.500 até
15.000».
Todos os dias
lemos, sobretudo nos Jornais diários, deputados que se dão ao luxo de aporem
junto à foto, para impressionar: nome, acrescido de: «deputado e professor
universitário». Nas televisões chegam a constar nas fichas técnicas. Nos casos
de comentadores «residentes»,auferem verbas regulares pela sua presença. Em
todos os casos há um atropelo ao Estatuto jurídico da Comunicação Social. Se
não houvesse jornalistas capazes, ainda se tolerava. Mas com tantos
profissionais no desemprego, por que não acabar com acumulações
esdrúxulas,injustas, antidemocráticas e,sobretudo, a com cheiro a esturro.
Vivo numa
cidade que na última década do século passado tinha sete jornais. Hoje tem
três. E um desses apareceu há um ano para ser a voz do partido do poder. Mas o
poder nesta cidade está tão enraizado, tão entranhado, tão viciado que mais
parece o partido único de outros tempos. Pois esta cidade e este partido único
acabam de ser confrontados com um novo jornal, cujo estatuto editorial é
assinado por Armindo Costa e Silva, acrescido de Presidente da Comissão
Política Concelhia do PS. Este senhor é, nem mais nem o menos, o administrador
do SMAS que se traduz por Serviço Municipal de Águas Saneamento.
Tem o título
de «Guimarães merece – Jornal do Partido Socialista de Guimarães – Janeiro de
2017» Tem 16 páginas, todo a cores e em tudo é um órgão que só peca por não ter
ficha técnica.
É,pois um
jornal sem registo, sem depósito legal, sem domicílio e, certamente, vem poluir
a cidade, já de si muito poluída a todos os títulos.
Saberá a ERC-
Entidade Reguladora da Comunicação da existência deste novo periódico que se
presume mensal?
Se a moda
pega e não há organismos que controlem esta bandalheira, qualquer dia há
charlatanice em vez de informação, há
ofensas onde deverá existir civismo e há desordem onde apenas deve haver
disciplina.
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