BARROSO da FONTE |
A
coincidência do aniversário de Bento da Cruz com o de mediático Padre Fontes,
em 22 de Fevereiro, fez com que a Câmara de Montalegre, na presidência do
médico Joaquim Pires e do Prof. Fernando Rodrigues, trouxesse à tona os méritos
do escritor Bento da Cruz e do etnógrafo Padre Lourenço Fontes. Cada um à sua
maneira evidenciou as qualidades que sobressaíram da vulgaridade. Políticos da
mesma área, foram pescados no mérito da escrita. Bento da Cruz fora o primeiro
a impor-se pela qualidade da sua obra literária. Até 1950 poucos Barrosões se
tinham revelado figuras de repercussão regional ou nacional.
Montalvão
Machado, Juiz em Montalegre, com o Arcipreste de Barroso, Ferreira de Castro
com «Terra Fria» e Artur Maria Afonso com Boninas de Chaves e com os versos
sobre o enforcamento do Bagueiro, tinham dado
sinal de que esse planáltico espaço do Larouco, à Mourela e desta ao
Gerês, era habitado e, desde há muito, constituía a principal porta da
fronteira com a Galiza.
Fora
um vazio de ideias, de pobreza social e, sobretudo de escuridão cultural.
Se não havia quem tivesse vocação e preparação
para dar testemunhos em livros, também em jornais esse vazio se limitava a João
do Rio (pseudónimo de um Padre de Vila da Ponte), ao Alberto Machado (de Stª
Cruz-Venda), ao José Taboada, de Montalegre. Como correspondentes de diários
era na imprensa regional que pontificavam, de longe a longe.
Foi na ausência de colaboradores mais assíduos
na imprensa regional e nacional que o autor desta nota de leitura, começou a
dar Voz às Terras de Barroso, em a Voz de Trás-os-Montes, no Notícias de Chaves
e em a Voz de Chaves. E também no DN, no Diário Popular, Jornal do Norte e no
Primeiro de Janeiro que passámos a ter voz ativa. É certo que em Barroso tinham
existido vários semanários, quinzenários e mensários. Mas após essa febre de
jornais a mais, veio o tempo das vacas magras. No século XIX publicaram-se
vários periódicos porque havia diversos
partidos políticos e cada força procurava manifestar-se por essa quase
única via, visto não haver rádios, nem televisões, nem outros meios que hoje
proliferam. Durante o Estado Novo perdeu-se a liberdade e perderam-se vocações por falta de estímulos à educação
permanente dos cidadãos que vegetavam no interior do país. O concelho de
Montalegre foi vítima do seu isolamento. Por falta de meios e de escolas, os
jovens não estudavam. E aqueles que conseguiam ter acesso à escola eram raros.
Os filhos de famílias remediadas ainda chegavam ao liceu. A par desses, somente
o seminário diocesano de Vila Real que apareceu na primeira década do do Estado
Novo.
Bento da Cruz nasceu em Peireses, em 1925, no
seio da conhecida Família dos Marinheiros. Por volta dos 15 anos ingressou no
Mosteiro de Singeverga, de onde saiu, anos depois para ingressar no Curso de
Medicina em que se licenciou e fez carreira. Aos 34 anos publicou o seu único
livro de versos e, aos 38, passou a publicar em prosa, em torno da mítica
aldeia de Gostofrio, nome do Monte do Castro que pertence a Codeçoso e que fica
junto à EN, onde hoje existe a estação da recolha e tratamento do lixo da
Câmara. Esse era o monte comum às povoações de Codeçoso e Peireses, para
apascentar o gado. Também junto da Estrada 311, no concelho de Boticas, há um
povoado com o nome de Bostofrio. Mas B. de C. foi pastor e muitas vezes «botou»
o gado ao monte de Gostofrio pelo que esse topónimo terá servido de laboratório
para o seu imaginário ficcional. Como era o primeiro Barrosão a escrever e a
usar temática etnográfica e antropológica sobre um povo martirizado e quase
escondido no «planalto» que usaria para título do Jornal que criou e dirigiu
até à morte, depois das recensões favoráveis da imprensa prevalecente de Lisboa
e Porto (DN e JN), o autor foi acarinhado pela crítica, mas bastante,
contestado pelo clero e alguns católicos mais afeitos ao tradicionalismo
reinante. A Editorial Notícias e a Âncora foram editoras que apostaram no autor
que floriu em terra certa e em hora de promissão. Ao mérito ficcional juntou-se
o evolucionismo partidário. Após meio século de autor do novo regime e noventa
de idade, B. de C. sentiu, em vida, os louros que os artistas, normalmente só alcançam depois
de mortos. Patrono da Escola Secundária, Patrono do Agrupamento, nome na
Biblioteca dessa Escola, uma avenida com
duas travessas dessa avenida,
mais uma escultura com o seu busto, no recinto da mesma Instituição foi quanto
Bento da Cruz granjeou em vida.
No dia 22 em que completaria 91 anos se fosse
vivo, o Presidente do Agrupamento de Escolas, Dr. Paulo Alves e a sua equipa primaram pelo fulgor da
homenagem ao mais conhecido escritor Barrosão. Com a presença da Família
(Viúva, filho, nora e netos, mais o irmão mais novo), o Presidente da Academia
de Letras de Trás-os-Montes, António Chaves; a Presidente da Assembleia Geral da mesma Academia, Maria
da Assunção Anes Morais e Vice-Presidente do Agrupamento de Escolas de Vila
Pouca de Aguiar, mais o signatário, usaram da palavra para enaltecer a vida e a
obra do homenageado. Foi uma manhã em cheio, com um sol de inverno a aquecer o
ambiente que a neve da Serra do Larouco parecia transtornar.
Paulo Alves conseguiu reunir naquele
auditório, completamente cheio de alunos, professores e convidados,
representantes das principais instituições publicas e privadas da capital de
Barroso. Na feliz saudação que fez, Paulo Alves esclareceu que até 22 de
Fevereiro de 2017, serão regulares, os eventos culturais a levar a efeito.
O livro IN MEMORIAM BENTO DA CRUZ
O
encontro da partida para rememorar a vida e a obra de Bento da Cruz começou dia
22 de Fevereiro. Tendo falecido em 25 de Agosto de 2015, completaria 91 anos de
vida no dia em que a Escola de que é Patrono o invocou, convocando os Barrosões
(e não só) para um ano inteiro de atividades em sua homenagem. Dois dias antes
a UTAD e o Grémio Literário de Vila Real tinham-se aliado à Câmara para o mesmo
efeito. A ideia fora do compadre do extinto autor José Dias Baptista que
sugeriu in memoriam Bento da Cruz. Nesse livro de 116 páginas editado, algures,
pela NORPRINT, com a nota introdutória de três editores: Fernando Moreira,
Joana Abreu e Orquídea Ribeiro e custeado pela autarquia, se condensam 37
testemunhos desde a Esposa Ilda Cruz ao Ricardo Moura, do Gabinete de Imprensa.
Orlando Alves, Presidente da autarquia afirmou que esta ainda não era a
homenagem da Câmara. Seu antecessor, Fernando Rodrigues foi claro ao afirmar
que a ele e a Manuel Baptista se deveu a designação deste nome para a Escola.
Que a Câmara já fez tudo o que tinha a fazer para eternizar o democrata, o
socialista, o jornalista, o libertador e deputado e o mais que ele próprio não
quis ser.
No
site da Academia de Letras de Trás-os-Montes, podem ver-se e ouvir-se os
convidados da Câmara Municipal, que no dia 20 de Fevereiro se concentraram em
Montalegre para o tiro de partida para a maratona que só terminará em 22 de
Fevereiro de 2017. Esse é o programa da Escola de que é patrono.
Barroso da Fonte
Sem comentários:
Enviar um comentário