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Rosa Luxemburgo, Simone de Bauvoir, Emma Goldman |

Os seus assassinos eram membros do ultranacionalista (e oficialmente ilegal) Freikorps, força paramilitar onde Hitler foi recrutar os seus assassinos mais proeminentes, e nas mãos da qual (segundo o testemunho do capitão Pabst, o último sobrevivente dos participantes no atentado) estava o Governo porque beneficiava do total apoio de Noske, o perito socialista em defesa nacional, à época responsável pelos assuntos militares.
Nem a República de Weimer foi tão sinistra. E o julgamento dos seus assassinos foi caricato como é lembrado por Hannah Arendt. Rosa não foi nenhuma grande estadista, nem pessoa grande do mundo, mas a sua morte provocou a cisão da esquerda europeia em partidos socialistas e comunistas, e uma vez que este crime foi apoiado pelo Governo (socialista), deu origem à conhecida “dança da morte” na Alemanha do pós-guerra, onde os assassinos da extrema-direita liquidaram vários dirigentes da extrema-esquerda.

Pouco tempo depois da sua morte, a sua reputação de “sanguinária vermelha” sofreu uma grande alteração. A publicação de dois pequenos volumes de cartas pessoais, de uma beleza comoventemente humana e poética bastaram para destruir essa imagem de mulher sanguinária (excepto nos círculos mais reaccionários). Surge então uma outra lenda. A da mulher que observava os pássaros e amava as flores, de quem os guardas se despediram com lágrimas nos olhos quando saiu da prisão. Porque essa estranha presa os tratava como seres humanos.

Rosa foi sempre incompreendida pelos seus e pelos outros. Sempre que surgia uma “Nova Esquerda”, o nome de Rosa brotava como as flores, o que abonava em seu favor e em favor dessa antiga geração de esquerda. Mas rapidamente era esquecida porque esses membros das “Novas Esquerdas”, não se davam ao trabalho de a ler, e muito menos entender. Nada do que ela disse ou escreveu, sobreviveu, exceptuando-se a sua crítica exacta ao bolchevique, porque era usada inadequadamente contra Estaline.

È difícil hoje saber se Rosa foi marxista. Ortodoxa não foi com certeza. Para ela, Marx era “o melhor de todos os intérpretes da realidade”, até porque escreveu: “Tenho agora horror ao tão elogiado volume d’O Capital, de Marx, por causa dos seus floreados rococó à la Hegel ”. A realidade era o mais importante. Mais que a própria revolução. Recomendava aos amigos que lessem Marx, apenas pela sua ousadia, não pelas suas conclusões (os seus erros eram, para ela, evidentes) que ela própria criticou na sua pequena, mas fascinante brochura de 10 páginas, A Acumulação do Capital, escrita na cadeia.




Arendet gostaria que, ainda que tardiamente, lhe fosse concedido o reconhecimento que merece, sobre a sua pessoa e sobre aquilo que fez. E que viesse a ocupar um lugar decente na formação de todos aqueles que se dedicam às ciências politicas. Nettl di-lo abertamente: “ As suas ideias devem estar presentes onde quer que se estude seriamente a história das ideias politicas”.
Havia tanto para dizer desta mulher extraordinária que acompanhou a conturbada História Humana dos inícios do século XX. Ficamo-nos por aqui. Nettl e Arendt (Homens em tempos sombrios) fizeram-no por nós.
Armando Palavras
Post- scriptum
O Comunismo arrastou, durante um século, as massas oprimidas de todo o Mundo, para um sonho de gloriosa redenção da pobreza e da injustiça. O que produziu, foram revoluções, massacres, burocracias, genocídios, ditaduras e regimes hediondos. Mas os seus seguidores não deixaram de seguir as bandeiras vermelhas em nome daqueles sonhos, quiçá, da esperança. E tão grandes eram que anularam a capacidade de ver a realidade. Foi aqui que Rosa Luxemburgo se distinguiu, ao criticar veemente a doutrina marxista.
[1] Rosa Luxemburgo foi assassinada com uma bala na cabeça dentro de um automóvel e atirada ao canal Landwehr. Foi o tenente Vogel que comandou as operações.
[2] Rosa Luxemburg, 2.vols. Oxford University Press, 1966.
[3] Nome que Nettl salva do esquecimento e que foi uma figura notável. Depois da morte de Rosa recusou-se a abandonar Berlim. Dois meses depois foi abatido pelas costas na esquadra da polícia.
[4] Em que defendia que o crescimento económico da Polónia dependia em absoluto do mercado russo.
[5] Seria interessante mencionar as teses de Eduard Bernstein; um debate famoso na controvérsia revisionista, onde à revolução se contrapunha a alternativa da reforma.
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