sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O espirito olímpico

 
A origem dos modernos jogos olímpicos está na antiga Grécia. É nessa Grécia remota que surgem os grandes estádios, espaços construídos para a prática de exercícios físicos (luta, corrida, salto, lançamento do disco e do dardo) que os gregos apreciavam e praticavam como forma de preparação para a guerra.
Às competições que envolviam estas actividades chamavam jogos. E estes faziam parte de todos os festivais (religiosos), quer a nível local, quer as pan-helénicas que abrangiam toda a Hélade (todo o mundo grego), e se tornaram importante factor de unidade e identidade cultural para os Gregos. Este espirito agónico, pela primeira vez sublinhado por J. Burck- Hardt (1898-1902), havia sido realçado por Isócrates (Panegírico, 43).
Entre os mais antigos, os mais famosos foram os Jogos Olímpicos que se realizavam em Olimpia, no mês de Agosto, em honra tripla como nos é dito por Píndaro na IIª Ode Olímpica: Zeus, a divindade; Hércules, o herói que os criou; Pélops, o que pela primeira vez ficou vitorioso, ganhando na corrida de carros de cavalos a mão de Hipodamia. Aconteciam de quatro em quatro anos, desde 776 a.C. (segundo os cálculos do sofista Hípias) até 393 da era cristã, ano em que foram proibidos pelo imperador Teodósio por os considerar pagãos.
A duração das festas era de cinco dias (a partir de 472 a. C.) e no tempo de Píndaro, disputavam-se catorze provas.
Os atletas eram todos amadores e competiam desinteressadamente, apenas pelo prazer de se superarem a si mesmos na busca da excelência; unicamente pela honra, como nos diz Heródoto (Livro VIII.26), na medida em que não havia prémio pecuniário. Apenas recebiam uma coroa de folhas de oliveira brava ou azambujeiro, folhagem da árvore simbólica de Hércules.
Porém, tanto Plutarco como Xenófanes (ou mesmo a história contada por Cícero nas Tusculanas- I.46.111 -, sobre Diágoras de Rodes) nos dizem que vencer os jogos era a maior distinção que um grego poderia alcançar. A sua vitória cobria de glória a sua família e a sua cidade que o recebia em triunfo, concedendo-lhe, ao longo da vida, as honras e venerações próprias de um herói.
No século IV a.C. estas competições foram perdendo o seu prestigio inicial, porque os profissionais foram substituindo os amadores.
Este espirito olímpico grego teve ecos no mundo moderno quando em 1896 Pierre de Coubertin lançou o movimento olímpico que apelava para o amadorismo da actividade desportiva. No inicio, os atletas profissionais estavam proibidos de participar nos Jogos Olímpicos.
Nos dias de hoje, com o dinheiro a rondar tudo o que é actividade humana, é impensável este espirito olímpico. Mas, de vez em quando, surge uma centelha individual que clama por aqueles tempos remotos e heroicos com pequenos gestos a marcarem a imortalidade.
Nos primórdios da competição moderna, no ano de 1908, antes da final da luta greco-romana, entre Frithiof Martensson e Mauritz Andersson, compatriotas suecos, Frithiof lesionou-se. Por essa razão o adversário solicitou um adiamento de 24 horas para que pudesse recuperar. Martensson acabou por ganhar a final, mas o gesto de Mauritz ficou imortalizado na história olímpica.
Em 1932, a britânica Judy Guinness com 21 anos, recusou-se a receber a medalha de ouro na prova de esgrima, pedindo que a mesma fosse entregue à sua adversária, a austriaca Ellen Preis. Judy explicou aos juízes da prova que se tinham enganado na contagem.
Em 1936, Luz Long era o campeão europeu do salto em comprimento e Jesse Owens o recordista norte-americano. Long fixou um recorde olímpico logo nas eliminatórias, e Owens ao cometer duas faltas colocou-se em risco de ser eliminado. Long, ao ver o americano (negro) desolado, segredou-lhe qualquer coisa ao ouvido. Owens saltou e foi à final com Long. Mais tarde o americano havia de confessar que o alemão (com Hitler a assistir) o havia aconselhado como deveria ganhar o impulso, para não pisar a tábua de chamada.
Três casos antigos, mas modernos, onde o espirito olímpico venceu. Como o do campeão de salto à vara brasileiro consolando o atleta francês depois de vaiado no pódio, ou o de Nikki e Abbey, nos jogos deste ano (2016). "Um choque acidental entre as atletas Nikki Hamblin e Abbey D"Agostino afastou as fundistas da Nova Zelândia e dos EUA do "pelotão" que liderava as meias--finais dos 5000 metros femininos". Mesmo assim, triunfou o chamado espírito olímpico.As duas atletas caíram, ajudaram-se uma à outra e acabaram em último. Mas o gesto valeu-lhes a repescagem para a final”, relatou a imprensa.   Armando Palavras

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