A origem dos modernos jogos olímpicos está na antiga Grécia. É nessa
Grécia remota que surgem os grandes estádios, espaços construídos para a
prática de exercícios físicos (luta, corrida, salto, lançamento do disco e do
dardo) que os gregos apreciavam e praticavam como forma de preparação para a
guerra.
Às competições que envolviam estas actividades chamavam jogos. E
estes faziam parte de todos os festivais (religiosos), quer a nível local, quer
as pan-helénicas que abrangiam toda a Hélade (todo o mundo grego), e se
tornaram importante factor de unidade e identidade cultural para os Gregos.
Este espirito agónico, pela primeira vez sublinhado por J. Burck- Hardt
(1898-1902), havia sido realçado por Isócrates (Panegírico, 43).
Entre os mais antigos, os mais famosos foram os Jogos Olímpicos que se
realizavam em Olimpia, no mês de Agosto, em honra tripla como nos é dito por
Píndaro na IIª Ode Olímpica: Zeus, a divindade; Hércules, o herói que os
criou; Pélops, o que pela primeira vez ficou vitorioso, ganhando na corrida de
carros de cavalos a mão de Hipodamia. Aconteciam de quatro em quatro anos,
desde 776 a.C. (segundo os cálculos do sofista Hípias) até 393 da era cristã,
ano em que foram proibidos pelo imperador Teodósio por os considerar pagãos.
A duração das festas era de cinco dias (a partir de 472 a. C.) e no
tempo de Píndaro, disputavam-se catorze provas.
Os atletas eram todos amadores e competiam desinteressadamente, apenas
pelo prazer de se superarem a si mesmos na busca da excelência; unicamente pela
honra, como nos diz Heródoto (Livro VIII.26), na medida em que não havia prémio
pecuniário. Apenas recebiam uma coroa de folhas de oliveira brava ou
azambujeiro, folhagem da árvore simbólica de Hércules.
Porém, tanto Plutarco como Xenófanes (ou mesmo a história contada por
Cícero nas Tusculanas- I.46.111 -, sobre Diágoras de Rodes) nos dizem
que vencer os jogos era a maior distinção que um grego poderia alcançar. A sua
vitória cobria de glória a sua família e a sua cidade que o recebia em triunfo,
concedendo-lhe, ao longo da vida, as honras e venerações próprias de um herói.
No século IV a.C. estas competições foram perdendo o seu prestigio
inicial, porque os profissionais foram substituindo os amadores.
Este espirito olímpico grego teve ecos no mundo moderno quando em 1896 Pierre
de Coubertin lançou o movimento olímpico que apelava para o amadorismo da
actividade desportiva. No inicio, os atletas profissionais estavam proibidos de
participar nos Jogos Olímpicos.
Nos dias de hoje, com o dinheiro a rondar tudo o que é actividade humana,
é impensável este espirito olímpico. Mas, de vez em quando, surge uma centelha
individual que clama por aqueles tempos remotos e heroicos com pequenos gestos
a marcarem a imortalidade.
Nos primórdios da competição moderna, no ano de 1908, antes da final da luta greco-romana, entre
Frithiof Martensson e Mauritz Andersson, compatriotas suecos, Frithiof
lesionou-se. Por essa razão o adversário solicitou um adiamento de 24 horas
para que pudesse recuperar. Martensson acabou por ganhar a final, mas o gesto
de Mauritz ficou imortalizado na história olímpica.
Em 1932, a britânica Judy Guinness com 21 anos, recusou-se a receber a
medalha de ouro na prova de esgrima, pedindo que a mesma fosse entregue à sua
adversária, a austriaca Ellen Preis. Judy explicou aos juízes da prova que se
tinham enganado na contagem.
Em 1936, Luz Long era o campeão europeu do
salto em comprimento e Jesse Owens o recordista norte-americano. Long fixou um
recorde olímpico logo nas eliminatórias, e Owens ao cometer duas faltas
colocou-se em risco de ser eliminado. Long, ao ver o americano (negro) desolado,
segredou-lhe qualquer coisa ao ouvido. Owens saltou e foi à final com Long.
Mais tarde o americano havia de confessar que o alemão (com Hitler a assistir)
o havia aconselhado como deveria ganhar o impulso, para não pisar a tábua de
chamada.
Três casos antigos, mas modernos, onde o
espirito olímpico venceu. Como o do campeão de salto à vara
brasileiro consolando o atleta francês depois de vaiado no pódio, ou o de Nikki
e Abbey, nos jogos deste ano (2016). "Um choque acidental entre as atletas Nikki
Hamblin e Abbey D"Agostino afastou as fundistas da Nova Zelândia e dos EUA
do "pelotão" que liderava as meias--finais dos 5000 metros femininos".
Mesmo assim, triunfou o chamado espírito olímpico. “As duas atletas
caíram, ajudaram-se uma à outra e acabaram em último. Mas o gesto valeu-lhes a
repescagem para a final”, relatou a imprensa.
Armando Palavras
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