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| Armando Palavras, Barroso da Fonte, Hirondino Isaías e Carvalho de Moura |
O conteúdo deste
volume é um conjunto de crónicas que o autor escreveu para o jornal Notícias do Barroso, enquanto cumpria o
serviço militar obrigatório em Moçambique, como Alferes.
O mesmo fez
outro Barrosão, pela mesma altura,
para o jornal Notícias de Chaves,
Barroso da Fonte.
Ambos têm em
comum o facto de não quererem reescrever a História. Limitam-se a descrever os
factos que observaram, sem interpretações obscuras.
Carvalho de
Moura di-lo com clareza, na sua introdução: “Muito se tem escrito sobre a
guerra colonial mas quase sempre a deturpar a verdade”.
“Os apontamentos
da minha Guerra Colonial retratam ou procuram retratar o dia a dia dos
militares que combateram em África, tão longe dos preconceitos do salazarismo
como da onda revolucionária do 25 de Abril de 1974”.
E, de facto,
assim é. Na sua primeira crónica descreve a Mobilização e embarque no Vera
Cruz, destacando a passagem no Cabo das Tormentas, onde destaca o nome dos
heróis da nossa História: “... quando o barco chegou ao Cabo das Tormentas nem
vos conto. Nessa altura é que eu dei valor ao nosso Vasco da Gama. Aquilo é
mesmo só para aventureiros, loucos e heróis”.
Seguem para o
posto de Nacala, no norte de Moçambique. Para trás tinham ficado Luanda e
Lourenço Marques. Aí, onde a influência da África do Sul era notória, o
Batalhão teve o tempo necessário para descontrair. Episódios como os do Amarante são descritos com crueza.
No Destacamento,
em Napurama, a vida era calma, apenas se ouvia o ruído da floresta. Aí comandou
o Destacamento, coadjuvado por alguns furriéis. Tinha com eles boas relações,
especialmente com o furriel Borges, natural de Vinhais.
A rotina,
contudo, levou à inação e à irresponsabilidade de, por vezes, saírem à caça na
selva, durante a noite. Além destes momentos do quotidiano, o autor também
recorda momentos trágicos: a emboscada
no Nicoleze, uma operação de vigilância, pelo meio de picadas que
atravessavam a floresta. Por vezes efectuavam operações de maior vulto, onde
participavam as Berliets e os Unimógs. Numa dessas operações, para os lados do
rio Lugenda, num rebentamento, uma das Berliets foi destruída, cujos estilhaços
provocaram, 18 dias depois, a morte do “Mil e um”.
Por vezes
chegavam noticias tristes, como a morte do Alferes Fraga de Carvalho que
sucumbiu ao veneno de uma flecha atirada por uma velha Maconde.
As madrinhas de
guerra, os aerogramas e o seu conterrâneo Barroso da Fonte, também ele Alferes
e veterano da Guerra em Angola, são lembrados nestas memórias pessoais.
Além da
impreparação dos militares, mobilizados à pressa, Carvalho de Moura não esquece
as condições a que os mesmos estavam sujeitos no mato, ao qual se adaptavam
excepcionalmente.
No rol descrito
neste volume são mencionadas grandes operações como a dos “Galgos saltam a
fogueira” e a dos “Galgos pintam a manta”. Ou ainda a intervenção no Rio
Lugenda, apresentando valiosas ilustrações sobre os meios de locomoção
(Berliets, Inimógs …), construções de abrigos, grupos de cipaios que davam
apoio em Napurama.
Na página 64
descreve a maior tragédia de toda a guerra colonial, ocorrida no Rio Zambeze.
Foi a 21 de Junho de 1969. Morreram afogados 101 militares – 1 Alferes e 1
Furriel – 10 Cabos milicianos e 88 soldados; e mais 7 elementos da tripulação
do batelão que fazia a travessia entre Chupanga
e Mopeia.
São abordadas as
causas do acidente, os relatos dos sobreviventes, recolhidos por Fernando
Madaíl, do Correio da Manhã, e é dado o devido relevo aos irmãos Campira que salvaram cerca de 1/3 dos sobreviventes.
A título de
epílogo desta tragédia militar, o autor transcreve um trabalho de João Soares
Tavares, publicado no Notícias do Barroso a 3 de Outubro de 2020.
Este livro não é
um volume de ideologia. É, tão só, um “manual” que descreve factos.
Armando Palavras
Casa de
Trás-os-Montes e Alto Douro de LISBOA
23-04- XXV



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