quarta-feira, 23 de abril de 2025

Dois autores barrosões na CTMAD de LISBOA

Armando Palavras, Barroso da Fonte, Hirondino Isaías e Carvalho de Moura

Hoje, foram apresentados dois livros na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa: "Os Galgos do Niassa" e "O Sal da História". 



Carvalho de Moura interveio com esta exposição:

Ex.nos senhores

Presidente da direcção da CTMAD, Dr Hirondino Isaias

Capitão João Andrade da Silva

Caros amigos barrosões

Caros amigos transmontanos e altodurienses

É com subida honra que me apresento, hoje, nesta sala da CTMAD para vos falar sobre a guerra colonial nas vésperas do histórico Dia 25 de Abril.

Honra que é oportunidade para se recordar a triste guerra sem sentido, mas guerra onde os nossos militares de então se bateram com coragem inaudita para salvaguardar a glória da nossa querida pátria.

Honra que sinto pela oportunidade que nos é dada por esta nobre instituição de tranasmontanos valorosos que, desde a sua fundação, tem sido um farol a levar longe as virtualidades das terras transmontanas e dos transmontanos.

Aproveito para felicitar a CTMAD, todos os seus dirigentes, do passado e do presente, que, com dedicação extrema, devoção ímpar e trabalho exemplar, têm mantido a vida desta nobre Casa na capital do país. Na capital a Casa mais antiga e a mais prestigiada de todas as Casas Regionais, sempre disponível, de portas abertas para as autarquias e para os transmontanos e altodurienses e outros, é obra de gente transmontana dos quatro costados.

Repito que nunca é demais relevar o trabalho insano de todos os que a fundaram e dos que, durante tantos longos anos lhe têm dado continuidade com vida associativa prestigiada e publicamente reconhecida.

E, reconhecendo a minha parte de cumplicidade, é justo, no que à nobre Casa diz respeito, que se diga aqui, claramente, que quase tudo se deve à participação dos transmontanos do nordeste que, salvo raras excepções, têm liderado a vida associativa da CTMAD. A meu ver, existe uma diferença comportamental entre os nordestinos e os transmontanos do distrito de Vila Real. Aqueles são mais dados ao associativismo enquanto os transmontanos do noroeste são mais comunitaristas. Quando do trabalho colectivo resultar proveito próprio aí, sim, temos os transmontanos do noroeste a trabalhar com todas as ganas, se o trabalho é de voluntariado sem contrapartidas, no puro sentido do associativismo, só se pode contar com os transmontanos do nordeste e altodurienses, verdadeiros mestres da solidariedade e do brio transmontano.

Este carisma colectivo associado a um forte bairrismo transmontano tem tido resultados sociais, económicos e até culturais de grande relevância. Basta ver a realidade que palpita entre os dois distritos para se validar o que antes acaba de ser votado.



Mudando de assunto, da minha história conto três anos em Lisboa, por sinal os piores anos da minha vida porque, depois de concluir o curso de Teologia no Seminário de Vila Real, decidi não avançar para a carreira eclesiástica e, então, já sem o apoio familiar, instalei-me na capital com emprego no INE e a estudar no Conservatório Nacional. Tempos difíceis que passei em Lisboa sem tempo para os amigos, para as borgas, para ir ao cinema, nada. Mas, na altura, não sei sob que pretexto, deu para conhecer a CTMAD sita então na Rua da Misericórdia e dela fiquei com uma imagem dum edifício velho e mal mobilado mas talvez assim porque já se falava em novas instalações.

Depois, quando na presidência da Câmara, e sempre à boleia dos amigos Manuel Largo e Medeiros Amaro, conheci um pouco melhor a Casa em visitas fugases que mal recordo nos dias de hoje.

Já nestas instalações, ainda há bem pouco tempo, com o meu velho e inesquecível amigo, Carneiro Chaves, trouxe aqui uma palestra sobre a vida e obra do barrosão João Rodrigues Cabrilho onde pontuou o beirão João Soares Tavares, um dos biógrafos do navegador.

Do livro que se apresenta “Os Galgos do Niassa” e do qual vamos já ter oportunidade de ouvir dele falar o Dr Armando Palavras que lhe agradeço do fundo do coração a disponibilidade desta sua preciosa colaboração. Agradecimento que decorre da curiosidade de somente hoje nos conhecermos pessoalmente mas que eu já admiro há vários anos através do seu blogue “Tempo caminhado” cujas peças de mais interesse me faziam chegar os meus muito amigos, entre eles essoutro grande e ilustre transmontano, Dr Jorge Laje e o Dr Barroso da Fonte.

O livro, em si, penso não merecer loas especiais. Trata-se da compilação de cenas passadas na guerra colonial, em terras do Niassa, onde o IN, na defensiva, atacava as nossas tropas através de minas e emboscadas. Três dos soldados do meu pelotão por lá ficaram e ainda hoje penso neles e nas suas famílias. Penso também que eu estou aqui devido aos três responsos a Santo António que a minha santa e virtuosa mãe rezava a Deus, diariamente, para eu andar livre de todos os perigos.

A meio ano da data do embarque com que sonhávamos todos os dias, vi-me envolvido numa missão que me marcou para toda avida. A missão vinda do comando do Sector em Marrupa de identificar e enterrar os corpos dos soldados afogados no rio Zambeze. Dos 101, encontrámos 84 ou 85, os restantes corpos não apareceram. Eu que era rapaz alegre e de muita vivacidade, daí em diante passei a ser outra pessoa, mais calma, pensativa e menos ousada.

Regressei à nossa terra com stress acentuado ao ponto de, nos primeiros tempos, nem falar aos meus pais e, se havia diálogo, mostrava-me quase sempre agressivo. Consegui vencer o stress talvez devido às muitas actividades em que sempre andei envolvido. Mas, atençao, não há um único dia que não veja os corpos daqueles jovens mortos, jovens de 20 e 21 anos… e tantos foram eles enterrados no cemitério improvisado de Mopeia… E pior que tudo, ainda hoje me pesa a consciência de ver os corpos dos jovens inanimados e dos meus comportamentos impróprios e inadmissíveis para com a família.

“Os Galgos do Niassa” tem dois grandes objectivos, um relembrar a maior tragédia de toda a guerra colonial, outro enaltecer a coragem, a ousadia e a determinação dos militares desta guerra sem sentido mas no cumprimento da defesa e glória da nossa pátria, de Portugal.

Não termino sem ter uma palavra muito especial para o Correio da Manhã e o seu grande jornalista Fernando Madail que, quando se completaram 50 anos desta grande tragédia, em 21 de Junho de 2019, foi o único orgão da grande imprensa a dar a notícia do naufrágio no rio Zambeze. Um caderno, com chamada de primeira página, falou sobre o desastre com opiniões colhidas junto de alguns sobreviventes. Se assim não fora, muito provavelmente esta centena de jovens poderia vir a cair no baú do esquecimento para todo o sempre. E seria inaceitável, intolerável, inadmissível que Portugal não evocasse a memória destes jovens que tão ingloriamente morreram pela nossa pátria.

Grato ao sr. Presidente da direcção da CTMAD

Grato ao Dr. Armando Palavras!

Grato ao Dr Barroso da Fonte!

Grato a todos os presentes!

                                                                                                                        Carvalho de Moura

                                                                                                                      CTMAD, 23/04/2025

Praça do Campo Pequeno, n.º 50, 3.º esquerdo,

1000-088 Lisboa, Lisbon, Portugal

Tel: 21 793 9311

E-mail: geral@ctmad.pt

 




Barroso da Fonte interveio, sobretudo para evocar  o período da Guerra Colonial e para fazer uma sítese do "Sal da História".









No final houve confraternização com lanche oferecido por Carvalho de Moura e Barroso da Fonte.

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