JORGE LAGE
A Taberna da Tia Questina – Como me lembro da Taberna da Tia Questina! Ficava no Bairro das Eiras, mesmo em frente à casa dos meus pais, e tinha apenas uma divisão com a lareira e encostado ao canto da parede de frente da porta de entrada e no lado oposto uma cama onde ela dormia. A Guitéria, minha Mãe, e a Questina (Aniceto) eram vizinhas amigas e nunca as ouvi darem, entre si, uma palavra azeda. A Questina era mãe solteira, de estatura média e bem nutrida. Criou as duas filhas, Helena e Amparo. Formou a Amparo e ainda mandou estudar a sobrinha, Isabel, filha da M.ª do Amparo e do Guilherme, amigos de minha casa. Em tempo de míngua, as filhas foram mimadas como poucas. Foi uma «leoa» e ainda comprou uma casa no Carrascal. Agarrava-se a tudo para tirar as filhas do trabalho da aldeia. A Helena casou com o António (da Helena). Um casal amigo, muito respeitado na minha aldeia. O António trabalhava na União e era «doido» pelo F. C. do Porto e jogava no Mirandela. Quando o Clube de Futebol da minha aldeia jogava com outros das redondezas, era certo que alinhavam de Mirandela: o António da Helena, O Machado e o Chico Cabelo. A juventude de Mirandela era lá bem recebida. Bem, mas os jogos de futebol, com a malta dos Eixes, dava quase sempre discussão. Lembro-me de uma vez, ainda eu não andava na escola, os dos Eixes viram jogar no campo de futebol que ficava no «Caminho da Barca», a uns 500 metros da Igreja e do lado direito, quem vai para Mirandela e acho que esse jogo nem chegou a terminar. Os da minha aldeia avisaram os «zaragateiros» dos Eixes que não voltavam a jogar ali. Mas, como eram discussões de garganta, eles diziam que voltavam. Passados dias estava tudo esquecido. A Taberna da Questina, era o centro de encontro da gente da minha aldeia. Um dia, alguém me ofereceu duma cerveja, mas, de amarga que era, nem consegui beber um trago. Lembro-me de alguns frequentadores da Taberna da Questina: - O Acácio da M.ª Rosa, o Arnaldo Falcão, o Carlos da M.ª de Jesus, o Francisco Libana, alguns criados e pastores, o Armindo da Alice, o Bnadito da Penha (os maldosos metiam «r» depois do «P»), o Manuel Grilo, o Maximino e mais um ou outro passante. A Taberna vendia, vinho do pipo, aguardente, cerveja, laranjada, rebuçados e chocolates, latas de sardinhas, sal, petróleo para as candeias, fósforos e pão que cozia e ali jogava-se ao chincalhão. Sempre que faltava pão à Questina a Guitéria emprestava-lhe. Aliás, quando precisou de 100$00, para a filha Amparo ir fazer o «exame de admissão aos liceus» a Bragança, bateu às portas da aldeia e todas se fecharam. Por fim, recorreu à vizinha, Guitéria, que também vivia com dificuldades, mas tinha 100$00 guardados para duas camurcinas para o Manuel e o Eduardo, os filhos mais velhos, e emprestou-lhos. A Questina tinha sempre uma folha de peixe de bacalhau, para tirar umas rachas de emergência, para acompanhar uma caneca e um carolo de pão. Tinha uma caixa onde se furavam umas bolinhas com um pauzinho e saíam sempre guloseimas. Como me lembro de me proteger quando eu fazia alguma traganice e ela livrava-me de algumas tareias da minha Mãe. A Questina partiu, há alguns anos, quase sobre a meta do centenário e pela vizinhança e por tratar o Jorginho com carinho devia-lhe esta memória de um tempo parco mas feliz e solidário


Sem comentários:
Enviar um comentário