JORGE LAGE |
Aos
escritores participantes e a todos os que contribuíram para que este livro seja
uma realidade sinto-me reconhecido. Mas, quando estou prestes a finalizar um
livro, começam as incertezas, o sofrimento e o desânimo por não saber como vai
ficar a obra final e como será aceite pelo público, neste caso, também pelos
autores. Quando o livro é paginado, até ser apresentado ao público, demora
sempre um mês e meio a dois meses de trabalho de sapa e criativo.
A
todos os que deram o seu contributo estou agradecido, em particular ao escritor,
Virgílio Alberto Vieira, e aos investigadores, Ernesto Português, Armando Palavras,
e aos «fotógrafos», Prof. José Manuel Campos e Emília Mena e ao traço criativo
de Sebastião Reis.
Ao
académico mirandelense, Telmo Verdelho, agradeço-lhe o ter aceite lavrar com
mestria, o douto e literato Prefácio que se assume como um selo de certificação,
dando a conhecer escritores que cantaram ou promoveram o «fruto dos frutos»
(citando Miguel Torga), desde a antiguidade clássica aos nossos dias.
Com
variadas participações, pretende-se que as fotografias sejam um complemento
ilustrado dos textos, convidando à sua narrativa.
A crítica literária,
Professora Júlia Serra, lavrou generosas recensões dos últimos quatro livros
sobre a Castanha e, à guisa de apêndice, incluímo-las no final desta obra,
sendo um modo de se saber mais com estes trabalhos monográficos e etnográficos
da memória imaterial da castanha. Só em vocabulário castanhícola, maninho aos
ditames dos dicionaristas, registei várias centenas de vocábulos. No registo de
variedades de castanhas, enxerta e bravas, arrolei para além das duzentas.
Outro trabalho exaustivo foi a inventariação de topónimos ligados à castanha e
a criação de mapa nacional mostra-nos a importância da castanha em Portugal ao
longo dos séculos.
A
capa deve ser sempre um marco importantíssimo da criatividade editorial, agradecendo
à Teresa Rebelo (do Manuscrito Histórico – Lisboa) o ter-me facultado a
raríssima e antiga imagem da castanheira da capa e uma memória dos costumes de
Lisboa do passado.
Aos
Municípios de Bragança e Proença-a-Nova por apoiarem esta obra de promoção da
castanha e do castanheiro nos seus territórios, tendo consciência da sua
importância para a fileira dos frutos de casca dura e para a memória imaterial
associada.
Agradeço ao designer Romão Figueiredo pelo empenho
no arranjo gráfico e elaboração da capa.
Foi uma procura de
saberes etnográficos e gastronómicos sobre a castanha e o castanheiro do «souto
lusitano», prolongando-se por duas décadas e desejando memorar e promover a
biodiversidade, os usos e costumes castanhícolas e a ruralidade de um país maravilhoso,
no seu rincão, nas suas gentes e na sua história.
Obrigado a toda a colaboração e incentivo, nesta grande caminhada que não foi mais que semear trabalho e colher embelgas de escrita e enriquecimento interior, que, também, se estenderá a autores e leitores. Uns e outros invocaremos outros tempos, diacrónicos e sincrónicos, estes últimos acontecem, anualmente, pelo tempo das castanhas e dos magostos. Pois então, neste tempo de pandemia, podemos murmurar: «Quem me dera cá o Tempo»!
Jorge Lage
IN MEMÓRIAS DA MARIA CASTANHA
ResponderEliminarTrava -Línguas
Descasca a castanha
Muito bem descascadinha,
Verás que dentro da casca
Há outra casca castanha clarinha.
(Recolha de Manuela Rodrigues, Vieira do Minho)
Adivinhas
Tenho camisa e casaco
Sem remendo nem buraco
Estoiro como um foguete
Se alguém no lume me mete.
Tem casca bem guardada
Ninguém lhe pode mexer
Sozinha ou acompanhada
Em Novembro nos vem ver.
Sou um cofre fechadinho,
Todo coberto de espadas,
Moro no colo poisante
De meu pai qu`é um gigante,
Co`muitas mãos e lançadas.
(João Miranda, Lapa dos Dinheiros, c. de Seia)
De Jorge Lage
DO TEMPO DA MARIA CASTANHA -In Memórias da Maria Castanha
ResponderEliminarConta-se na Galiza e em alguma fronteira raiana lusa que em tempos muito antigos terá havido uma personagem feminina, ao jeito da mítica, bela e providencial castanha, chamada «Maria Castanha».
Associado a esta lendária personagem ficou o dito: «Do tempo da Maria Castanha».
Este dito, segundo corre na Galiza, poderá ter a sua origem numa heroína do século XIV, conhecida por Maria Castanha. Esta terá sido cabecilha ou testa de ferro numa revolta contra o bispo de Lugo, Frei Pedro Lopes de Aguiar, pelos abusos na cobrança de impostos ao povo.
O Padre Risco, no livro «España Sagrada», afirma que Maria Castanha e os seus filhos confessaram terem morto o mordomo e cobrador do bispo, Francisco Fernández , em Terras de Lemos (a sul do Lugo).
Arrependidos do crime e como acto reparador, deram os seus bens, em «Coto de Cereixa», à igreja, bem como mil maravedis**, prometendo não prejudicar mais os cobradores do bispo e colaborar com eles, caso preciso fosse.
Embora a sua existência real seja questionada por alguns, o Padre Risco refere que a data de 18 de Junho de 1386, foi quando a mulher de Martin Cego, Maria Castanha, e os filhos Gonçalo e Afonso, confessaram os crimes.
Outros mais cépticos, dizem que esta mítica personagem pertence, apenas, ao mundo da fantasia e do irreal.
Seja como for, esta lendária e lutadora figura do povo faz parte do imaginário popular e até poderá ter raízes imateriais em tempos mais recuados e pré-cristãos, representando uma faceta singular dos direitos da arraia-miúda contra os desmandos das classes dominantes.
Hoje emprega-se ou invoca-se a expressão, «nos tempos da Maria Castanha», para referir tempos antigos, ou muito antigos ou mesmo nebulosos.
(...)
** Maravedi ou morabitino, moeda antiga de origem árabe, criada pelos Almorávidas e que com a Reconquista Cristã passou a ser cunhada pelos reinos cristãos.
De Jorge Lage