Acabámos de receber a
revista 9 séculos impressa. É outra coisa. Passar os dedos pelo papel tem outro
prazer. E como dizíamos há uns dias, o papel é outra coisa. Excelente! É o
único adjectivo que encontramos.
Outros adjectivos merece
o seu director, Doutor Barroso da Fonte. Lançar-se nesta aventura aos 82 anos,
é obra! E não é obra pequena. O
estatuto Editorial define, em pleno, a personalidade que deu azo a
esta aventura.
Vai contar connosco. Tudo faremos para que esta publicação tenha o sucesso que o seu director merece. Porque para além de tudo é um Homem que cultiva a Amizade, a Honra e a Fraternidade. Colocar no mercado uma revista desta qualidade, a oito euros o exemplar, e ainda por cima a expensas próprias, sem as ajudas governamentais dos do costume, dos que, como diria Zeca Afonso, "comem tudo", é mesmo obra!
Fazer uma recensão, bem merecida, diga-se, era o que tínhamos em mente, mas para quê? Há tempo. Há tempo para dedicarmos pequenos escritos sobre os vários conteúdos ao longo destes meses. Para honrar este primeiro número, damos a honra e a palavra ao seu director:
Vai contar connosco. Tudo faremos para que esta publicação tenha o sucesso que o seu director merece. Porque para além de tudo é um Homem que cultiva a Amizade, a Honra e a Fraternidade. Colocar no mercado uma revista desta qualidade, a oito euros o exemplar, e ainda por cima a expensas próprias, sem as ajudas governamentais dos do costume, dos que, como diria Zeca Afonso, "comem tudo", é mesmo obra!
Fazer uma recensão, bem merecida, diga-se, era o que tínhamos em mente, mas para quê? Há tempo. Há tempo para dedicarmos pequenos escritos sobre os vários conteúdos ao longo destes meses. Para honrar este primeiro número, damos a honra e a palavra ao seu director:
EDITORIAL
I.
O arquiteto Luís Carrilho escreveu na imprensa nacional, em 10 de Junho último:
«está intrínseco em mim o orgulho em ser português. Devemos considerar-nos
cidadãos do mundo, acima de qualquer ideologia e nacionalismo. Basta ver como
um vírus que surgiu na China afetou o mundo inteiro. Este facto faz-nos lembrar
que somos todos iguais e que temos lutas comuns. Mas há algo em ser português
que é especial».
O Presidente da República
e o Primeiro Ministro também realçaram esta dupla convergência mundial nas
muitas e diversificadas intervenções que fizeram, ora de máscara no rosto, ora
sem ela.
Do mesmo modo, o cardeal
D. José Tolentino de Mendonça apelou a esse orgulho lusitano, em nome das
Comunidades Portuguesas; e até o político Henrique Neto repetiu aquilo que já
tinha defendido no Parlamento: «Portugal Primeiro e Pensar Portugal».
De resto, na sua crónica
de 12 de Julho, clicou em duas variáveis no tema do «orgulho em ser português:
o padre António Vieira, depois de uma vida cheia de ambições e de amor a
Portugal, morreu no Brasil, triste e desiludido, com a má governação do reino».
No mesmo mês, esse arauto
do saber, da justiça social e do amor à Pátria, foi alvo da fúria destruidora
de gente sem escrúpulos que age por ignorância. Uma terceira desilusão para
Henrique Neto: «é a corrupção que, em nome do amor e dos bons serviços a
Portugal; nunca os sinais de mais essa pandemia foram tão amplamente
divulgados», tão permissíveis, tão generalizados e tão dissonantes em quem
neles se envolve, em nome do serviço público.
O Primeiro Ministro, dia
10 de Junho, confirmou que «em tempos difíceis importa celebrar o orgulho de
ser Português». Alfredo Pimenta (1882-1950), académico de número 9, da Academia
Portuguesa de História, confessou, em 1918: «Eu pertenço a uma geração de
sacrifícios, a uma geração de vítimas, que nasceu ouvindo as maiores acusações
sem provas, e bebeu essas campanhas negativas e difamatórias como bebemos a
água que nos dão ou recebemos o ar que respiramos. Os novos têm de se agrupar e
fazer deste país uma nação com um poder político que seja legítimo e autêntico,
cuja força, disciplinada, se estenda do exército à indústria e do operariado às
academias, na orientação que eu levo e que levam os meus amigos».
Albino Forjaz Sampaio
(1884-1949) foi Secretário de Propaganda Nacional. Promoveu a obra que, pelo seu
conteúdo, é um facto; mas o que moveu o autor, confessa ele, «foi sim o coração
e o espírito do autor que nunca deixou de sonhar cada vez mais alto, com a
ideia da sua Pátria: o patriotismo é um sentimento construtivo».
Deixo aqui citados alguns
autores portugueses que se destacaram pelo amor à sua pátria, à sua geração e à
história do seu País. Estes e outros souberam transmitir à minha geração, desde
1911 até 2011, as razões pelas quais Portugal se bateu desde a Batalha de S.
Mamede, em 24 de Junho de 1128, e os 900 anos que vão completar-se em 2028.
Cada geração tem, num
estado de Direito, o dever de transmitir aos mais novos, aquilo que aprendeu e
ajuizou com os mais velhos. Ensinaram, por exemplo, que a hierarquia social se
rege por princípios, por usos e costumes e por leis naturais e leis positivas.
Aquelas são fruto da
natureza. Estas são decididas pelo poder político de cada país, reconhecido
pela comunidade internacional. Portugal é um país europeu que nasceu das
divergências políticas dentro do reino de Leão. Herdou uma língua e um condado
que foram crescendo, graças às ambições dos seus residentes.
Essas ambições
definiram-se num primeiro combate, legítimo, como era então uso. Um casal de
condes galegos não aceitou, por bem, a herança do rei de Leão, Afonso VI, que
tinha duas filhas. A mais velha, Urraca, era legítima. A mais nova, Teresa, era
filha só pelo pai, e recebeu como herança apenas a gerência do Condado
Portucalense. As partilhas régias agravaram-se com a morte de Afonso VI (em
1109). Pouco tempo depois morre o conde portucalense, pai do jovem Afonso
Henriques, quando este tinha dois ou três anos de idade.
D. Teresa, que antes da
morte do marido (Conde D. Henrique) partilhava com ele as suas ambições de mais
poder e autonomia, após a viuvez envolveu-se de amores com dois condes galegos,
que começaram a interferir nos destinos do Condado, o que não agradou ao filho,
nem aos barões portucalenses. Daí resultou entrarem inevitavelmente em
conflito, que culminou na batalha de S. Mamede. E a vitória do filho foi o
primeiro passo para a independência do condado, naquela que foi «a primeira
tarde Portuguesa».
O segundo passo teve a
ver com o novo estatuto desse Reino nascente. Em guerras sucessivas, Afonso
Henriques e os seus seguidores bateram-se e consolidavam as fronteiras da nova
nação. Entretanto a diplomacia fazia o seu trabalho. Houve outras etapas
importantes, sendo de destacar a Batalha de Ourique (1139), contra os cinco
reis mouros; e os acordos de Zamora (1143). Em Ourique Afonso Henriques
considerou-se rei pela primeira vez. Mas o seu primo, o Imperador da Hispânia
Afonso VII, só desde 1143 reconheceu esse tratamento. Finalmente, em 1179, o
Papa Alexandre III reconheceu o pleno direito ao título de Rei a D. Afonso
Henriques.
II.
Em 1967, regressado da Guerra do Ultramar, fixei-me em Guimarães, onde se diz
que “quem aqui nasce é português duas vezes”. Da escultura medievalista «do Guimarães»,
se diz que essa figura simboliza as duas caras, ou dupla personalidade. Aceitei
o provérbio, mas desmontei, a injúria. Afinal, «as duas caras» equivalem «às
duas frentes de combate», na tomada de Ceuta, em 1415. A brigada do Minho era
constituída pelos militares de Guimarães que derrotaram a sua cara ou frente de
combate. Garantida a vitória no seu sector, deram conta de que os militares de
Barcelos estavam exaustos e em vias de serem derrotados. A brigada vimaranense foi
em socorro dos barcelenses. E também ali, em pouco tempo, garantiram a vitória.
Desse episódio dei
testemunho, no opúsculo de cem páginas que publiquei em 1994. Entre 1986 e 1990,
fora eu vereador da Cultura. E também diretor do mais antigo jornal
vimaranense, hoje com 136 anos. Pelas funções que então desempenhava, senti-me
no dever de aprofundar o conhecimento da História da Cidade e do seu significado
perante o país, enquanto Berço de Nacionalidade, já desde que Mumadona Dias
para aqui transferiu a sede do Condado Portucalense, construindo as estruturas
nascentes, em torno do primitivo Mosteiro e Castelo, erguido para defesa do
templo.
Da licenciatura em
histórico-filosóficas, voltei à Universidade do Minho, onde aprofundei dois
ilustres autores vimaranenses: Alberto Sampaio e Alfredo Pimenta. Eles e as
suas gerações foram, dos cidadãos nacionais, do melhor que entre 1884 e os
nossos dias o país conheceu. Amaram, sem medida, as suas origens, desde a Colegiada
de Nossa Senhora da Oliveira, ao primitivo Mosteiro; desde as «Duas Vilas - um
só povo»; desde o Mosteiro da Costa, à Muralha do antigo burgo; desde o Paço
Ducal aos muitos templos e estruturas que ainda hoje, volvidos tantos anos, são
pontos de referência numa vila que só foi cidade em 1853 mas que, na entrada para
o terceiro milénio, passou a ser Património Cultural da Humanidade.
Quem não conhece
Guimarães, falando deste ponto de partida, sem passar por cá, não vê, nem observa,
os muitos e simbólicos vestígios arqueológicos da Citânia de Briteiros ou do
Castro de Sabroso e vizinhança, que Martins Sarmento e o seu museu concentram para
os muitos estudiosos que ficam apaixonados quando se confrontam com esses
fortes motivos de atração turística ecultural.
III.
Enquanto diretor da «colina sagrada», como os Vimaranenses chamam ao espaço
onde se concentram o Castelo da Fundação, a Capela de S. Miguel, a Estátua de
Afonso Henriques (da autoria de Soares dos Reis) e o Paço dos Duques de
Bragança, entre 1990 e Setembro de 1995 confrontei-me com uma série de
inverdades e tentativas de apropriação de versões, datas e apoios familiares que
entraram em conluio agressivo e fantasioso contra Guimarães.
E consequentemente contra
Portugal e a Lusofonia, que aqui nasceram.
Em 1990, um medievalista
que, entre 1942 e a década de sessenta, foi colaborador privilegiado da Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, no primeiro de 64 volumes, assinou uma
«entrada» sobre Afonso Henriques nos seguintes termos:
«Afonso I ou Afonso
Henriques: Primeiro rei de Portugal, filho do conde
D. Henrique e de D.
Teresa. n (asceu) na cidade de Guimarães, em 1111e m (orreu) em 6 de Dezembro de
1185. Foi fundador da monarquia portuguesa.
Aos 14 anos armou-se
cavaleiro, por suas próprias mãos, na Sé de Zamora». Durante cerca de meio
século, em todos os muitos livros e artigos científicos de que foi autor,
defendeu e incutiu esses dados biográficos do Rei Fundador. Mas quando
regressou ao lar natal, em Tarouca, no distrito de Viseu, abjurou tudo o que
escrevera. E construiu uma teoria, totalmente nova e arrogante, negando tudo o
que até aí defendera, e fazendo crer que – afinal – Afonso Henriques nasceu em
Viseu, em 5 de Agosto de 1109.
Com base nessa teoria
abstrusa, Viseu deu crédito ao medievalista e seus apoiantes. E programou, com
entusiasmo, um congresso histórico que decorreu entre 16 e 19 de Setembro de
2009.
A TSF, rádio insuspeita,
entrevistou a Presidente da Academia Portuguesa da História, em 27 de Janeiro
de 2009. Aí, a mais alta figura da APH disse: «aprendi, quase como dogma de fé
que Afonso Henriques nasceu em Guimarães. Mas que nascesse em 1109 e em Viseu não
aprendi, com certeza. Esta é a teoria tradicionalmente aceite. Portanto, 1111,
nascimento em Guimarães».
Esta mesma mais alta
figura da Academia Portuguesa de História, no dia 16 de Setembro de 2009, numa
conferência de imprensa que a RTP transmitiu, disse que, afinal, iria
«contribuir para alterar os manuais escolares, colocando Viseu, onde estava
Guimarães»
São exemplos de que não é
a História que muda. Somos nós que brincamos com a História, fazendo dela um
brinquedo para todos os gostos.
Eis, aqui, a explicação,
nua e crua, para estes trinta anos de combate contra o abandalhamento da
História de Portugal. Invoco aqui, como já o afirmei no livro «Alfredo Pimenta:
da práxis libertária à doutrinação nacionalista» (Editora Cidade Berço, 2005 -
pág. 281), o académico de Número 9, quando chamou à Academia de História uma
«caverna de bandoleiros». Alfredo Pimenta deixou-nos há 70 anos! Que diria ele,
que foi director da Torre do Tombo, em defesa da pureza da História, se fosse
vivo em 2009!
Nesse mesmo ano renunciei
à política partidária e passei a missionar entre os amigos e agentes mais
propensos para a História.
Em 25 de Julho de 2011,
cerca de uma centena de pessoas, a par das então três Juntas de Freguesias da
Cidade de Guimarães, levámos um arranjo floral ao sopé da Estátua de Afonso
Henriques e cantámos-lhe os parabéns a você. Assim continuou a fazer-se até 2018.
Em 2019 alguns dos mais
entusiastas entendemos dar caráter jurídico a esse grupo informal. E criou-se a
Grã Ordem Afonsina. Desde a primeira hora contámos com a União das três Juntas
de Freguesia da Cidade, o Executivo Municipal que entrou em funções em 2013 e
também o Grão Mestre da Ordem de Ourique, Abel Lacerda Botelho.
Comprometi-me a cimentar
os alicerces da nova Associação, que visa três objectivos: reconhecer o dia 24
de Junho de 1128 como «Primeira Tarde Portuguesa»; fixar o dia 25 de Julho como
data de nascimento de D. Afonso Henriques; e juntar ao Berçário o dia 5 de
Maio, como dia Mundial da Lusofonia.
Esta luta hérculea e
inglória travei-a sozinho entre 1990 e 2009. Em 2011 tive a meu lado, não os
políticos mas os Amigos da História de Guimarães. Desde essa data há muitos
vídeos, muitos álbuns e não poucos azedumes. Fiz o que devia como habitante da cidade
natal de minha esposa, de meus dois filhos e meu neto.
Saúdo todos aqueles que
acreditaram em mim e me convidaram para liderar a «Associação Grã Ordem
Afonsina – Vida e Obra do Rei Fundador». Cessarei a liderança da Direção quando
completar 82 anos. Serei apenas o sócio mais humilde. «Não mamei na História»,
como alguns podem pensar. Mas conheci alguns que tudo fizeram para mamar e
queimar os manuais que se usaram até hoje, iniciando uma História Nova, quiçá
«O Pai da nova História».
Esta publicação foi
sonhada entre as preocupações da pandemia. Peço aos meus pares desta jornada
que não esmoreçam na luta pela verdade histórica e com a Língua Portuguesa. Não
deixem que o Berçário da Portugalidade seja reduzido a cinzas pelo vírus da
inveja cósmica. O diretor
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