quarta-feira, 22 de abril de 2020

Um bilhó pois claro!

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JORGE LAGE

 Dizia-me o meu saudoso amigo e Professor de Literatura e poeta, António Cabral: - oh! Jorge, quando não tiver a palavra certa cri-a. As palavras são criadas pelas pessoas falantes. Por exemplo, lembro-me que, depois de muito pensar para definir a sanha assassina das acácias (as mais temíveis delas são as mimosas, proibidas por Dec.-lei n.º 565/99 de 21 de Dezembro – o que andam a fazer os GNR-verdes e não vêem as acácias proibidas nos viveiros?) criei, há alguns anos, a palavra «fogo-verde». Palavra que foi adoptada pela academia coimbrã. Também, as cidades estão a ser cada vez menos das pessoas e mais dos cães. Há muitos apartamentos em que os cães estão em maioria. Os cães têm mais direitos do que os velhos.
Então para uma área urbana em que há imensos cães e que estes tomam conta dos espaços nobres de lazer, como os parques e jardins que estão a ser transformados em «cagadouros» e urinóis dos canídeos, a palavra «cidade» começa a perder força e a nova palavra que se impõe é «canidade» ou «canilidade». Mas, o que motivou este meu exercício lexical tem a ver com a «Antologia da Castanha» que tenho em mãos e para a qual procuro ser o mais rigoroso possível, quer na lavra de bons textos literários, quer na lavoura de letras. Pois bem, uma amiga emigrada no Reino Unido, enviou-me um texto em que falava n’«a bilhó»… Ai se as regateiras do Mercado de Braga ouvissem tal e soubessem o seu significado sexual (o mesmo que nêsperas») mudavam de semblante, mão no queixo e ponta do sapato do pé direito a bater no chão: - ai a bilhó querem ver agora!… Como quem diz: - só me faltava este atrevimento!... 
Jorge LageVoltando ao «bilhó», que é o grão da castanha transformado, depois de assado e sem a casaca e a camisa, isto é descascado e pronto a comer. «Bilhó» formou-se da palavra «beilhó» (substantivo masculino – s.m.), segundo o Dicionário Houaiss. Mas, já aparece escrita, segundo o Elucidário, desde 1508. Beilhó, por síncope do «i», deu «belhó» (s.m.) e, por queda do «e», originou «bilhó» (s.m.). Noutros casos («fálgaro», que é um salgado, uma espécie de cavaca, mas no «Grande Dicionário de Língua Portuguesa» diz que leva açúcar; e não leva, mas, apenas, sal; não podendo ser um doce) o que me leva a admitir que por qualquer motivo ao dicionarista pôde chegar informação errada. Também, no caso do «bilhó», grão da castanha assada e descascada, a ideia de feminino não terá cabimento. Também eu me penitencio, de ter seguido o que diz o dicionário, no livro «Memórias da Maria Castanha». Se já foi, deixou de ser, pelo que vamos manter como «s.m.» a palavra viva o «bilhó» ou castanha assada (ou cozida, em certos locais) e descascada. Palavras próximas e com o mesmo significado: Beilhó(s) (s.m) e «belhó» (s.m.) é, também, o vocábulo correcto na língua mirandesa (Pequeno Vocábulário Mirandês-Português). Palavras que têm o mesmo significado de «bilhó» ou castanha assada descascada: «Leitom» (palavra arcaica) e «leitão» (Cinfães e Arouca). Bilhó também aparece como carpónimo do concelho de Mondim de Basto.

2 comentários:

  1. A língua portuguesa é fantástica, pois arranja sempre termos para tudo. Se entrarmos nos regionalismos,então,encaminha o leitor para uma permanente descoberta.
    Será que cesto é o mesmo que cesta?Não é.

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  2. Curiosamente, na minha aldeia (Beira Baixa), usava-se o termo "bálhó", significando uma castanhola com os nós dos dedos, dada na cabeça dos miúdos para os corrigir de alguma pequena asneira...

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