domingo, 15 de março de 2020

59 anos depois do início da Guerra em Angola



GUERRA DO ULTRAMAR  15 DE MARÇO DE 1961 - BATALHÃO DE CAÇADORES 3

Há muito tempo já que eu me vinha sentindo moralmente obrigado a divulgar publicamente algo que tem sido sistematicamente ignorado por todas as Entidades nacionais, designadamente pelo Exército e pelos diversos órgãos de Informação nacional.

Foram muitos os autores, os livros e os artigos publicados sobre a GUERRA DO ULTRAMAR, foram entrevistadas muitas pessoas, militares e civis, umas que nela tiveram intervenção direta, outras que só dela sabiam por “ 31 de boca “, foram rodados filmes e documentários, sobre ela também falaram ministros, primeiros ou não, e até presidentes da República, mas...até hoje, ninguém ainda se lembrou - ou para isso teve a coragem necessária - de nomear e prestar a devida homenagem aos HOMENS que na madrugada de 15 de Março de 1961 foram os primeiros MILITARES a enfrentar os bandos terroristas que assolaram o Norte de Angola!..

É esse, agora, o meu propósito:
Recordar o nome desses valentes Militares, homenagear a Memória daqueles que já não se encontram entre nós e fazer sentir aos seus descendentes o quanto deles se podem orgulhar!
Para além disso, passados tantos anos sobre a data da eclosão do terrorismo que precedeu a Independência de Angola, continua a verificar-se uma enorme disparidade de informações sobre o momento e o local em que ocorreram os primeiros atentados e sobre a forma como as nossas Autoridades, Civis e Militares, tomaram conhecimento de tudo que estava acontecendo.
 Foi noticiado nos mais diversos órgãos de Informação, falada e escrita – e continua a sê-lo – que os acontecimentos só foram conhecidos durante a manhã do dia 15, segundo uns, cerca das 8 horas, segundo outros, por volta das 10, ou ainda mais tarde, segundo mais uns tantos... o que demonstra uma vergonhosa falta de capacidade de pesquisa da verdade por parte de muitos dos profissionais da Informação!
Eu não sei como foi que as Autoridades Civis e Militares, em Carmona, em Luanda ou em Lisboa, tomaram conhecimento da ocorrência dos primeiros massacres, mas sei que as decisões que a situação reclamava, essas foram tomadas com a rapidez e a firmeza necessárias, contrastando de forma gritante com o que se verifica nos dias de hoje relativamente à governação do nosso País, agora geograficamente tão mais pequenino... Também não sei exatamente a hora a que isso possa ter ocorrido, como não sei a que hora foram transmitidas ao comando do BATALHÃO DE CAÇADORES 3 as devidas ordens operacionais, mas sei e tenho a certeza absoluta de que tal teria acontecido muitíssimo antes das 4 horas da manhã daquele terrível dia 15 de Março!... Não é uma afirmação gratuita, é uma afirmação que pode ser muito facilmente comprovada com a documentação oficial, para o que bastará consultar as ORDENS DE SERVIÇO N.º 68 e N.º 69, de 22 e 23 de Março de 1961, do BC 3, onde, sem qualquer margem para dúvidas, ficou devidamente registado para a História que foi logo às 4 horas da manhã do próprio dia 15 de Março de 1961 que os Militares começaram a enfrentar o terrorismo, mobilizando imediatamente uma Força de Intervenção para acorrer às populações da zona do Quitexe, designadamente da Fazenda Zalala, pertencente a Ricardo Matos Gaspar.

 Eis a relação desses valentes Militares:
Aspirante Miliciano Henrique Carlos Mesquita Abreu 2.º Sargento José Maria Soares Furriel Domingos Fernandes Trindade 1.º Cabo Miliciano João Maria Lemuel Stevson 1º Cabo Manuel Barroca Estanque 1º Cabo José Dias da Cruz 1º Cabo Armindo Firmino Vicente 1º Cabo Ernesto Sousa de Oliveira 1º Cabo Manuel António dos Santos Trindade 1º Cabo Francisco Ferreira Soldado Augusto Chandala Soldado Mua Meia Sózinho Soldado Chiriquelele Soldado Pedro Soma Soldado Luciano Hombo Soldado José Augusto Soldado Fernando Samarinha Soldado Isaac Soldado Siquito Soldado Geremias Cangombe Soldado Lozes Domingos Soldado Francisco Chicaete Soldado Calenga Soldado Paulino Soldado João Luís Soldado Condutor Paulo Lucamba.

Em 1961, era eu então um dos Oficiais da 1.ª Companhia do BC 3, cuja sede tinha sido estabelecida em Carmona. No dia 10 de Março marchei para aquela que viria a ser a última missão de patrulhamento militar no Norte de Angola efectuada em tempo de paz levando sob o meu comando os seguintes Militares: Furriel Miliciano António Jorge Gaspar 1º Cabo Mecânico Leonardo Rita Machado 1.º Cabo António Campos dos Santos Soldado Condutor José Muchamba Soldado Martins Macange Soldado João Samoconja Soldado Daniel Muchila (ADITAMENTO N.º 2 À O.S. N.º 59 – 12.03.1961 - BC 3 )
Na noite de 14/15 pernoitamos em Santa Cruz de Macocola e foi só na manhã do dia 16, já em Sanza Pombo, que tivemos conhecimento de que algo de muito grave teria acontecido na região do Quitexe, o que nos levou a exercer uma maior vigilância e a adoptar medidas de segurança acrescida na última parte do percurso até Carmona, onde chegámos cerca das 10 horas de noite do dia 19. Entretanto, e só por eu me encontrar impedido naquela missão de patrulhamento, o Tenente Pedro Simões Dias assumiu o comando da Força Militar que, pelas 8 horas da manhã desse mesmo dia 15 de Março, partiu de Carmona em reforço da defesa da região do Quitexe, onde ficaram destacados.
Era a seguinte a constituição desse Destacamento Militar: Tenente Miliciano Pedro Simões Dias (*) 2º Sargento José Pereira Furriel Miliciano José Ribeiro dos Santos 1.º Cabo Miliciano António Bettencourt Walpele Henriques 1.º Cabo Rui Sebastião Lourenço da Luz 1.º Cabo Jeremias Leal Goulart (*) 1.º Cabo Aurélio Ferreira Viegas 1.º Cabo Amândio dos Anjos André 1.º Cabo Manuel Fernandes de Sousa (*) Soldado Condutor José Teya Soldado Condutor Paulo António Soldado Inocêncio Caritangue Soldado José Cinco Reis Soldado Manuel Paulino Soldado Samacala Soldado Pacheco Basílio Soldado Felisberto Cassoma Soldado Cambande Soldado João Dias Soldado Dala Chuema Soldado Augusto Saniqui Soldado Lumbo Sicougiu Soldado José Saloa Soldado Graça Soldado Kissaague Vissanga Soldado António Manuel Soldado Jonasse Soldado Miguel Candimba Soldado Angelino Gaito Soldado Luís Banda (*) Soldado José Francisco Soldado Manuel Gaspar Soldado Luperé Joni Soldado Francisco Morais Soldado Sousa Cambi Soldado Francisco João Luís Soldado Gonçalves Francisco Soldado Domingos António Soldado Candumbo Fonseca Soldado Angelino Domingos Cordeiro (*) – FERIDOS NO ATAQUE DE 11.04.1961 (O. S. N.º 75 – 29.03 E N.º 89 – 14.04.1961 – BC 3)
Na tarde de 9 de Abril apresentei-me no Destacamento do Quitexe para substituir o Tenente Pedro Simões Dias, que logo me transmitiu o respetivo comando, ficando ele a aguardar transporte para regressar a Carmona. Veio a ser ferido durante o segundo ataque à Povoação, desencadeado na madrugada do dia 11, tendo sido evacuado para o Hospital Militar de Luanda, via Carmona, na tarde desse mesmo dia.
Na tarde de 14.04.1961, todos os efetivos do Destacamento regressaram à sede do BC 3 por terem sido rendidos nessa mesma data por um Pelotão de Infantaria da 6.ª Companhia de Caçadores Especiais, do Capitão Leandro dos Santos.
(O. S. N.º 85 –10.04.1961 – BC 3 )
15 de Março de 2020
Serafim Sousa e Silva

Post Scriptum
O Autor do relato histórico que Tempo Caminhado publica no preciso dia em que deflagrou a guerra em Angola, há 59 anos, fez-me chegar este testemunho. Pelo desprezo que todos os órgãos de informação mantiveram, por estes heróis da Portugalidade Angolana, em tempos e espaço tão delicados, fica bem viva a certeza da injustiça desta guerra, da ingratidão dos profissionais da que congeminaram o golpe de Estado que lhes reservou o quadro dos «Coronéis» de honra e, da maior censura que se seguiu ao 25 de Abril.
O silenciamento destas dezenas de militares, que de nada beneficiaram, nem sequer do direito de antena para reivindicarem um enquadramento no mesmo quadro de honra, é prova absoluta da censura mais feroz. Na qualidade de autor da ideia do Monumento aos Combatentes do Ultramar, de sócio nº 1 da ANCU e de sócio nº 15 da AOE (Lamego), deixo aqui a esse grupo um forte aplauso.
 Barroso da Fonte, Tenente Miliciano desde 31/12/1967.

Nota de fim de página:
Um aplauso redobrado de Tempo caminhado pelo testemunho lúcido e até agora desconhecido. 
De quem dirige o blogue, um abraço fraterno a esses companheiros/camaradas que cumpriram o dever para com a Pátria, esquecidos pela "História" rascunhada por certos grupelhos  ideológicos. Como diria Guerra Junqueiro: O tempo é o grande juiz.
Escrevam as vossas memórias para que a História não seja o produto destas seitas. 


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