O
Vale
(de Abadim) é o cenário principal deste primeiro livro de Abílio Bastos. Um pequeno
vale nas terras de Cabeceiras de Basto foi o refúgio de infância deste poeta
telúrico e bucólico. Nesse vale Abílio dormiu em cama de giesta, observou os
encantos da natureza como as borboletas que lhe entravam pela janela e as
lindas flores na berma do caminho. Um vale pequeno, cujos recantos o pequeno
Abílio conhecia. Ao fundo corria um rio, em cuja borda guardava os poemas antes
de mergulhar nas suas águas calmas. E junto desse rio guardou gado com a sacola
a tiracolo onde trazia o livro da terceira classe junto da concertina com que
tocava a “cana verde” a pedido da Luciana e da Maria que desciam ao lugar para
apanhar pasto para os coelhos.
Foi aí que observou os seus primeiros amores, se fez mordomo de festa, acompanhou figuras como o Chico
Sapateiro que “Com um grão na asa” ia “ de casa em casa”. E sonhava/ por as vacas a dançar, / os grilos a cantar ao desafio,
/escrever poemas no ar/ e pendura-los num fio./Para ninguém os apanhar, /ia
esconde-los no rio.
E foi aí que se fez
homem. O homem que um dia saiu do vale e correu mundo, como diz Barroso
da Fonte em recensão ao volume: ” por onde passou, deixou vincado o nobre papel de almocreve nesta
volta ao mundo entre o Oriente e Ocidente. (Portugal, Timor, França e USA.).
E como é notado no grupo de poemas que seguem, segundo várias etapas da vida do
poeta.
Júlia Serra prefaciou o
volume de forma transparente e lúcida, chamando à liça Alberto Caeiro e Cesário
Verde, rematado por posfácio (poemas do rebotalho) de Jorge Lage.
Em termos gráficos o
livro é um primor. Capa e contracapa deliciosas, com gravuras do autor a
ilustrarem alguns dos poemas.
Armando Palavras
Zé
do Vale foi, durante algum tempo, o pseudónimo de Abílio Bastos, natural de
Abadim, concelho de Cabeceiras de Basto e casou na freguesia de Salto, concelho
de Montalegre, do outro lado da Serra da Cabreira. Fez a quarta classe e, como
era pobre, sentava-se no muro em frente ao Colégio do Mosteiro de Refojos por
não poder continuar a estudar.
Em
criança, foi plantador de árvores na Floresta dos Serviços Florestais e depois
carpinteiro. Foi nas tábuas que trabalhava que escreveu muitos dos seus poemas
inéditos como este, que depois desapareciam na obra que executava. Foi soldado
em Timor e, no regresso, faz o curso comercial. Segue, a salto, para França,
escrevendo o seu belo poema, «O Trilho». Deixa as terras gaulesas e vai para
Nova Iorque onde foi um mestre carpinteiro e por desenvolver bem o trabalho
ganhava um salário a dobrar, É nesta altura que o conheço e só mais tarde me
apercebi que era um poeta com valor que merecia ser conhecido. Foi um grande
activista da causa timorense e voluntariamente construía os carros de Timor que
participavam na «Grande Parada do dia de Portugal na Ferry Street», em Nework,
junto a Nova Iorque.
Tenho, com cautela, publicado alguns dos seus poemas no Notícias de Mirandela. Poemas que estão alguns em pequenos papelinhos e outros «congelados no seu velho baú da memória». Com muita discrição, estou a tentar que me vá reescrevendo os seus poemas para uma publicação poética. Não tem sido fácil e só a minha paciência os vou conseguindo, porque muitos estão apenas na sua memória.
Tenho, com cautela, publicado alguns dos seus poemas no Notícias de Mirandela. Poemas que estão alguns em pequenos papelinhos e outros «congelados no seu velho baú da memória». Com muita discrição, estou a tentar que me vá reescrevendo os seus poemas para uma publicação poética. Não tem sido fácil e só a minha paciência os vou conseguindo, porque muitos estão apenas na sua memória.
Jorge
Lage
In: Antologia de Autores Transmontanos, Durienses e da Beira transmontana,
Ed Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de LISBOA, Impressão Exoterra, 2018
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