quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Abílio Bastos almocreve da poesia que transporta


BARROSO da FONTE
Alguns dos nossos maiores poetas levaram para a cova a poesia que não ficou nos livros. Da pouca que ficou permite-se concluir que a Língua Portuguesa, que em 5 de Maio de cada ano, terá o seu dia mundial não, conheceu o seu maior espólio poético.
Os almocreves foram, até aos inícios do século vinte, agentes de comunicação intercomunitária. Os cavalos substituíram os barcos e os aviões. E a própria cultura e informação mais rápida era veiculado por essa via, enquanto não se institucionalizou a telegrafia.
Alguns dos nossos mais fecundos poetas populares, como António Aleixo, Fernando Pessoa, Florbela Esperança, etc. foram verdadeiros almocreves da palavra poética. Aleixo, menos propenso para a escrita, de cada quadra popular fez um silogismo perfeito.
Recebi de mão amiga, como prenda de Natal, «O Vale», de Abílio Bastos. Um livro simples, outonal, como árvore sem folha, num chão  limpo com cheiro a queimado.
Abre-se e a maciez  da capa tem a magia do chocolate da época. Tudo discreto a condizer com a aba da capa, onde aparece o rosto que abaliza os 75 anos do seu autor: Abílio Bastos. Leio essa badana e recordo que se trata da mesma cara que, numa semana atrás, lera no blog tempo caminhado, numa primeira aparição pública, assinada pelo recensor Transmontano Jorge Lage. Quem havia de ser! Este Homem grande num corpo médio que deu para oficial miliciano na guerra do Ultramar e que, regressado a Mirandela, mas fixado em Braga, como professor, ascendeu, como investigador da castanha e do castanheiro, ao qualificado especialista dessa casta arbórea. Foi este solidário cidadão do mundo que convenceu Abílio Bastos a passar a livro a sua produção escrita e organizada. Esse livro surpreende por diversas valências. Uma delas é o conhecimento real do autor: nascido em 13/2/1944, em Abadim, concelho de Cabeceiras de Basto. Por aí fez a instrução primária e cursou a aprendizagem de marceneiro, ferramenta de que mais tarde, precisou para garantir emprego em França e a seguir, nos Estados Unidos da América. Em Janeiro de 2009 aposentou-se e, desde essa altura até ao presente vive no Minho, ora em Abadim ora em Braga.
Por onde passou, deixou vincado o nobre papel de almocreve nesta volta ao mundo entre o Oriente e Ocidente. ( Portugal, Timor, França e USA.) As suas capacidades artísticas centraram-se na marcenaria. O tempo universitário que essa aprendizagem lhe exigiu, acumulou-o, online, como hoje se dirá. Essa produção marceneira que orna  santuários, palácios e galerias reais, enobreceu a tendência poética, não menos exigente, bela e sedutora.
Estoutro pendor poético revelou-se desde o berço campesino do Minho planáltico aos cumes da Cabreira, do Bagulhão, Salto, Magusteiro, Ludeiro de Arque, Reboreda e Salto. Percorreu os caminhos de Leonor de Alvim e de Nuno Álvares, entre Pedraça e Reboreda. Por ali andara Santa Senhorinha  e S. Rosendo, certamente em Romagem ao Mosteiro de Refojos. Por ali nasceu a ideia da poderosa Casa de Bragança. E preparou para as grandes batalhas que D. João I empreendeu, sempre ao lado desse grande general que, em 2009, foi elevado aos altares como Santo.
Da esquerda para a direita:
Jorge Lage, Barroso da Fonte e Abílio Bastos, na feira do livro em Braga
Abílio Bastos entrou, em 2019, para a galeria dos poetas calejados em tais e tantas batalhas que, no seu percurso de vida, entre o Vale de Abadim e os lendários torneios que esse bravo cavaleiro protagonizou, treinando os soldados de Barroso que mais tarde o acompanharam nos bons combates. «...Por trás daquele alto, fica a Borralha onde se cava o minério...Mais à direita é Salto, onde viveu Nuno Álvares Pereira».
 Nas pp 30/31  surgem dois poemas, um em prosa poética e outro em verso corrido, em sextilhas, cantantes por harmoniosas e metricamente perfeitas.
Um padrinho e uma madrinha de qualidade, abonam este jovem poeta de 75 anos: Jorge Lage e  Júlia Serra.  Esta admirável recensora, com um prefácio onde invoca Alberto Caeiro, quando diz que «há poetas que são artistas/ e trabalham nos seus versos/ como um carpinteiro nas tábuas!»
Aquele nega no posfácio o que Autor afirma no poema «susto» da página 111, quando pergunta:
«o que é a poesia?
 -  para quem nasceu arbusto, essa palavra/ é susto».
Resta-me dizer que o I volume da Antologia, editado pela Casa de Trás-os-Montes de Lisboa já insere a biografia de Abílio Pereira Bastos, como Poeta Barrosão. E, de facto, toda a sua vivência, toda a sua argamassa linguística e todo o seu caráter telúrico, comportamental e sensitivo se insere no Vale de Abadim que sobe, envolto no micro-clima de Magusteiro e se espalha pelos dezanove lugares da freguesia de Salto.
  Barroso da Fonte

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