quinta-feira, 11 de abril de 2019

Logo após o 25 de Abril



Logo após o 25 de Abril todo mundo rompeu a fazer esforço no sentido de levar as suas ideias progressistas até onde podia leva-las. Em Lisboa, a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, nessa ocasião ainda situada na Rua da Misericórdia, era o centro donde essas iniciativas tinham efeito e arrancavam com forte determinação. Se dantes era espaço destinado aos transmontanos situacionistas logo surgiram os do reviralho para ocupar o lugar vago. Nisto, os portugueses são peritos, raro é que nas famílias políticas não haja um irmão, tio ou parente próximo espalhado por algum partido oposto, e pronto para na hora de mudança radical poder servir de tábua de salvação…
Nunca alinhei em matéria partidária com nenhum partido, embora simpatizante do PSD, por uma questão pessoal e muito íntima. Fui amigo de um tio e padrinho de Sá Carneiro, era brigadeiro. Por alturas em que três dos 4 deputados da antiga UN pediram a sua demissão, calhei de confidenciar ao Sr. Brigadeiro Sá Carneiro a minha admiração pelo sobrinho. O que fui dizer. Nunca vi um homem tão furioso contra um sobrinho e afilhado. Tentei serenar dizendo que por certo estava a ser levado na cantiga dos “padres brancos”, mas logo me respondeu: o “meu sobrinho não é levado por ninguém, ele é muito inteligente”. Acabei com a conversa e respondi-lhe: “Se ele é inteligente sabe o que quer”.
O certo é que nunca mais falou comigo, apenas passava e cumprimentava um bom dia ou boa tarde. E eu em homenagem a Francisco Sá Carneiro mantenho-me PPD/PSD. Lidei e lido com muitos amigos doutras tendências partidárias respeito-os como eles a mim, porque a democracia é mesmo assim, e doutro modo será tudo menos a palavra mágica que muitos pronunciam, mas na prática não sabem como usá-la em sociedade.

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