Logo após o 25 de Abril
todo mundo rompeu a fazer esforço no sentido de levar as suas ideias
progressistas até onde podia leva-las. Em Lisboa, a Casa de Trás-os-Montes e
Alto Douro, nessa ocasião ainda situada na Rua da Misericórdia, era o centro
donde essas iniciativas tinham efeito e arrancavam com forte determinação. Se
dantes era espaço destinado aos transmontanos situacionistas logo surgiram os
do reviralho para ocupar o lugar vago. Nisto, os portugueses são peritos, raro
é que nas famílias políticas não haja um irmão, tio ou parente próximo
espalhado por algum partido oposto, e pronto para na hora de mudança radical
poder servir de tábua de salvação…
Nunca alinhei em matéria
partidária com nenhum partido, embora simpatizante do PSD, por uma questão
pessoal e muito íntima. Fui amigo de um tio e padrinho de Sá Carneiro, era
brigadeiro. Por alturas em que três dos 4 deputados da antiga UN pediram a sua
demissão, calhei de confidenciar ao Sr. Brigadeiro Sá Carneiro a minha
admiração pelo sobrinho. O que fui dizer. Nunca vi um homem tão furioso contra
um sobrinho e afilhado. Tentei serenar dizendo que por certo estava a ser
levado na cantiga dos “padres brancos”, mas logo me respondeu: o “meu sobrinho
não é levado por ninguém, ele é muito inteligente”. Acabei com a conversa e
respondi-lhe: “Se ele é inteligente sabe o que quer”.
O certo é que nunca mais
falou comigo, apenas passava e cumprimentava um bom dia ou boa tarde. E eu em
homenagem a Francisco Sá Carneiro mantenho-me PPD/PSD. Lidei e lido com muitos
amigos doutras tendências partidárias respeito-os como eles a mim, porque a
democracia é mesmo assim, e doutro modo será tudo menos a palavra mágica que
muitos pronunciam, mas na prática não sabem como usá-la em sociedade.
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