SOCIEDADE
Fotografia de JOSÉ FERNANDES - jornal Expresso |
A manifestação junto ao Palácio de Belém, em Lisboa,
resumiu-se a cinco homens de colete amarelo. Perdão, a seis. No final surgiu
uma mulher que se juntou “por razões ideológicas”. Um dos manifestantes fez
questão de entregar o seu colete amarelo manuscrito com palavras de ordem e
protesto na portaria de Belém. “Esta organização foi um fracasso, mas quero
apresentar este cartão amarelo ao Presidente que tem poder para deitar abaixo
este Governo”
21.12.2018
Não fossem os coletes que traziam vestidos a chamar a
atenção na escuridão da noite, e os cinco manifestantes do movimento dos
coletes amarelos de Portugal teriam passado despercebidos, passado por cinco
amigos em amena cavaqueira frente ao Palácio de Belém.
Manuel Matias, 51 anos, que é também presidente do
partido Portugal Provida, cidadania e democracia cristã, admite que foi dos
últimos a resistir ao frio com um colete amarelo nesta sexta-feira: “Sou um dos
últimos resistentes, sim. Sou o último dos moicanos. Ou, melhor, o último dos lusitanos.
Até esperava mais pessoas. Mas já sabia que não iria estar muita gente, devido
à campanha de instrumentalização das forças de segurança, a mando dos partidos
e organizações sindicais que acham que são donas da democracia em Portugal.
Infelizmente os partidos políticos não ouvem o povo. Nem todos os partidos têm
direito à sua voz.”
Ao seu lado, Hirondino Isaías, 48 anos, economista e
socialista, é o elemento dos cinco que mais chama a atenção por ter um colete
todo manuscrito com palavras de ordem e protesto. Nas suas costas pode ler-se
em letras garrafais: “Portugal merece mais e melhor. Político de aviário.
Meninos de coro, não! Fora!”
Fotografia de JOSÉ FERNANDES - jornal Expresso |
Mas deixa claro que se demarca de muitos outros
manifestantes dos coletes amarelos que estiveram hoje no Marquês: “Não estive
nos outros sítios porque sou contra a violência e contra os bloqueios de
trânsito. Ou seja, sou contra todas as ações que prejudicam o dia a dia das
pessoas. Claro que o que se passou hoje, os bloqueios, a violência, os excessos,
são algo que cai mal às pessoas. E eu sou a favor das manifestações pacíficas,
diversificadas.”
Questionado se estava desiludido com a quase nenhuma
adesão ao protesto em Belém, Hirondino responde que não. “Para ser franco até
não estava à espera de um grande número de pessoas frente ao Palácio de Belém.
Não foi bem escolhido o dia. É fim de semana prolongado e está tudo a pensar no
Natal. Para além de que houve intimidação e violência das forças de segurança.
Até o próprio presidente do PS, Carlos César, disse que não ia permitir o nosso
protesto. Deve estar de consciência pesada. Mas eu vim com um propósito que vai
ser cumprido, entregar o meu colete ali no Palácio. Quero que o nosso
Presidente leia o meu colete. Este homem tem o país na mão, ele é que é Chefe
de Estado, tem o poder para deitar abaixo este Governo. E este é um cartão
amarelo a toda a classe política."
Ouve-se uma buzina. É António Martinho, membro ativo
do movimento dos coletes amarelos, a dar som ao vazio: ““Estamos um pouco por
todo o lado e em lado nenhum. Precisamos da vossa ajuda para conseguirmos
resolver os problemas que afetam toda a gente: corrupção, impostos e taxas
altas, estado da saúde, os ordenados mínimos”. E o que se segue? – perguntámos.
Fotografia de JOSÉ FERNANDES - jornal Expresso |
“Vamos ver o que se segue depois consoante o resultado
de hoje, mas estamos a planear novas ações para o futuro. Sigam-nos nas redes e
site. É verdade que pecámos pela (má) organização. Mas queremos daqui em diante
fazer organizações mais consistentes e coordenadas, sincronizadas. Desta vez
não tivemos tempo para melhor, porém isto teve um resultado positivo, a grande
exposição mediática que tivemos.” Dito isto despede-se dos quatro amigos.
“Agora vou-me embora, já estou com problemas nas pernas de estar em pé. Ainda
pensei ir para junto da Assembleia da República, mas vim para aqui porque é
mais cómodo, até há banquinhos.”
Hirondino e os restantes três dirigem-se às forças de
segurança para conseguirem autorização para a entrega do colete. Vinte minutos
depois chega a resposta positiva. Nesse impasse aparece uma mulher com um
colete amarelo no bolso. Diz que se chama Ana, que é professora que ali está
"por razões ideológicas". Entretanto, Hirondino vai escoltado até à
portaria de Belém para entregar o seu colete amarelo manuscrito. São 19h00. Os
cinco, agora seis, dispersam. Daqui a pouco é hora jantar. Foi fraquinha a
festa, pá.
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