sábado, 22 de dezembro de 2018

Transmontano apanhado pelo Expresso em evento dos coletes amarelos


SOCIEDADE



Fotografia de JOSÉ FERNANDES - jornal Expresso
A manifestação junto ao Palácio de Belém, em Lisboa, resumiu-se a cinco homens de colete amarelo. Perdão, a seis. No final surgiu uma mulher que se juntou “por razões ideológicas”. Um dos manifestantes fez questão de entregar o seu colete amarelo manuscrito com palavras de ordem e protesto na portaria de Belém. “Esta organização foi um fracasso, mas quero apresentar este cartão amarelo ao Presidente que tem poder para deitar abaixo este Governo”

Bernardo Mendonça - jornal EXPRESSO
21.12.2018

Não fossem os coletes que traziam vestidos a chamar a atenção na escuridão da noite, e os cinco manifestantes do movimento dos coletes amarelos de Portugal teriam passado despercebidos, passado por cinco amigos em amena cavaqueira frente ao Palácio de Belém.
Manuel Matias, 51 anos, que é também presidente do partido Portugal Provida, cidadania e democracia cristã, admite que foi dos últimos a resistir ao frio com um colete amarelo nesta sexta-feira: “Sou um dos últimos resistentes, sim. Sou o último dos moicanos. Ou, melhor, o último dos lusitanos. Até esperava mais pessoas. Mas já sabia que não iria estar muita gente, devido à campanha de instrumentalização das forças de segurança, a mando dos partidos e organizações sindicais que acham que são donas da democracia em Portugal. Infelizmente os partidos políticos não ouvem o povo. Nem todos os partidos têm direito à sua voz.”
Ao seu lado, Hirondino Isaías, 48 anos, economista e socialista, é o elemento dos cinco que mais chama a atenção por ter um colete todo manuscrito com palavras de ordem e protesto. Nas suas costas pode ler-se em letras garrafais: “Portugal merece mais e melhor. Político de aviário. Meninos de coro, não! Fora!”

Fotografia de JOSÉ FERNANDES - jornal Expresso

Mas deixa claro que se demarca de muitos outros manifestantes dos coletes amarelos que estiveram hoje no Marquês: “Não estive nos outros sítios porque sou contra a violência e contra os bloqueios de trânsito. Ou seja, sou contra todas as ações que prejudicam o dia a dia das pessoas. Claro que o que se passou hoje, os bloqueios, a violência, os excessos, são algo que cai mal às pessoas. E eu sou a favor das manifestações pacíficas, diversificadas.”
Questionado se estava desiludido com a quase nenhuma adesão ao protesto em Belém, Hirondino responde que não. “Para ser franco até não estava à espera de um grande número de pessoas frente ao Palácio de Belém. Não foi bem escolhido o dia. É fim de semana prolongado e está tudo a pensar no Natal. Para além de que houve intimidação e violência das forças de segurança. Até o próprio presidente do PS, Carlos César, disse que não ia permitir o nosso protesto. Deve estar de consciência pesada. Mas eu vim com um propósito que vai ser cumprido, entregar o meu colete ali no Palácio. Quero que o nosso Presidente leia o meu colete. Este homem tem o país na mão, ele é que é Chefe de Estado, tem o poder para deitar abaixo este Governo. E este é um cartão amarelo a toda a classe política."
Ouve-se uma buzina. É António Martinho, membro ativo do movimento dos coletes amarelos, a dar som ao vazio: ““Estamos um pouco por todo o lado e em lado nenhum. Precisamos da vossa ajuda para conseguirmos resolver os problemas que afetam toda a gente: corrupção, impostos e taxas altas, estado da saúde, os ordenados mínimos”. E o que se segue? – perguntámos.

Fotografia de JOSÉ FERNANDES - jornal Expresso

“Vamos ver o que se segue depois consoante o resultado de hoje, mas estamos a planear novas ações para o futuro. Sigam-nos nas redes e site. É verdade que pecámos pela (má) organização. Mas queremos daqui em diante fazer organizações mais consistentes e coordenadas, sincronizadas. Desta vez não tivemos tempo para melhor, porém isto teve um resultado positivo, a grande exposição mediática que tivemos.” Dito isto despede-se dos quatro amigos. “Agora vou-me embora, já estou com problemas nas pernas de estar em pé. Ainda pensei ir para junto da Assembleia da República, mas vim para aqui porque é mais cómodo, até há banquinhos.”
Hirondino e os restantes três dirigem-se às forças de segurança para conseguirem autorização para a entrega do colete. Vinte minutos depois chega a resposta positiva. Nesse impasse aparece uma mulher com um colete amarelo no bolso. Diz que se chama Ana, que é professora que ali está "por razões ideológicas". Entretanto, Hirondino vai escoltado até à portaria de Belém para entregar o seu colete amarelo manuscrito. São 19h00. Os cinco, agora seis, dispersam. Daqui a pouco é hora jantar. Foi fraquinha a festa, pá.

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