Adeus, menino guerreiro.
“Um texto difícil”. É assim que Pedro
Santana Lopes começa a carta aberta aos militantes do PSD para se despedir do
partido. Foram 40 anos de militância ativa com “momentos únicos” e
“extraordinários”, mas o ex-primeiro-ministro também não esconde a desilusão,
na hora da saída: “O que constatei foi que o PSD gostava muito de ouvir os meus
discursos, mas ligava pouco às minhas ideias“
Na carta, a que o Observador teve
acesso, escreve: “Entendo (…) que não faz sentido continuar numa organização
política só porque lá estamos há muito, ou porque em tempos alcançamos vitórias
e concretizações extraordinárias se, no passado e no tempo que importa, no
tempo presente, não conseguimos fazer vingar ideias e propostas que
consideramos cruciais para o bem do nosso País”
E dá alguns exemplos de ideias que
defendeu ao longo dos anos e sobre as quais, segundo ele, “o PSD nunca quis
saber”. Foi assim, garante, na Política Agrícola Comum, na desertificação do
interior ou nas críticas ao poder “discricionário” de demissão do governo
atribuído ao Presidente da República. “Certas? Erradas? Por mim, defendo, com
convicção que estão certas e está mais do que provado que dentro do PSD não
merecem acolhimento”, escreve o ex-líder do partido.
"Não faz sentido continuar numa
organização política só porque lá estamos há muito, ou porque em tempos
alcançamos vitórias e concretizações extraordinárias se, no passado e no tempo
que importa, no tempo presente, não conseguimos fazer vingar ideias."
Santana Lopes, que em 2004 foi demitido
de Primeiro-Ministro pelo Presidente da República Jorge Sampaio, diz que talvez
devesse ter-se desfiliado nessa altura, e responsabiliza também o PSD: “Quando
destacadíssimos militantes do Partido tudo fizeram para que Jorge Sampaio
abolisse a maioria parlamentar legítima e estável por motivos que se «absteve
de enunciar». Ou, no ano seguinte, quando o PSD impediu a recandidatura à
Câmara Municipal de Lisboa que conquistáramos, a pulso, à maioria de esquerda,
quatro anos antes.”
Uma sucessão de decisões que, para o
ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, foram “graves” e que
tiveram “consequências políticas até aos nossos dias.”
Sobre a liderança atual, Santana Lopes
não poupa Rui Rio, o “pensamento económico ortodoxo” e a “aproximação ao PS” e
lembra os avisos que fez durante as diretas: “Vinha aí uma estratégia de
condescendência para com o PS, para mim, um erro grave. Disse, e repeti, que os
militantes deveriam rejeitar a via que, de modo mais ou menos explícito,
admitia o Bloco Central.”
Apesar de tudo, termina a carta
garantindo não guardar rancor: “Não apago estes 40 anos no PPD-PSD a quem
desejo sucesso, a bem da Democracia.”
Sobre a liderança atual, Santana Lopes
não poupa Rui Rio, o “pensamento económico ortodoxo” e a “aproximação ao PS” e
lembra os avisos que fez durante as diretas: “Vinha aí uma estratégia de
condescendência para com o PS, para mim, um erro grave. Disse, e repeti, que os
militantes deveriam rejeitar a via que, de modo mais ou menos explícito,
admitia o Bloco Central.”
Na carta que endereça aos militantes do
PSD, Santana Lopes deixa ainda rasgados elogios a Pedro Passos Coelho, uma
“pessoa com grandes qualidades, em vários domínios da vida”. E especifica:
“Como líder político, mostrou ser sério, competente, coerente. Como pessoa,
distingue-se pela educação e pela integridade.” Embora não o tenha apoiado
desde o início, como recorda também na carta, o ex-autarca rapidamente foi
convencido.
Não lhe atribui um caminho imaculado –
“Não calei essas diferenças, por exemplo, no Congresso de 2014 e no dia da
resolução do BES”, escreve -, mas coloca o ex-primeiro-ministro num patamar de
excelência e de seriedade, como se tivesse sido o último reduto da
social-democracia que defende para o PSD. “Fez um trabalho notável a conduzir o
País num período de emergência nacional, tendo conseguido a “saída limpa” que
iniciou a recuperação económica”, resume.
Mas o adeus de Passos Coelho ao partido
fez com que o PSD se debatesse com um dilema interno, na leitura que Santana
Lopes retrospetivamente. “Com a sua saída, o quadro passou a ser outro. Tinha
de lutar pelo que preconizo há décadas. Por isso, decidi candidatar-me à
liderança do PPD/PSD e deixar funções na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Foi uma opção difícil”, pode ler-se na longa carta. Se não houvesse este
confronto, admite, ”teria continuado como Provedor da SCML”.
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