Há cerca de meia dúzia de
anos, cientistas japoneses e americanos encetaram uma caminhada no sentido de
provarem a influência da Natureza no cérebro humano. Agora seguidos também, e
em grande escala, pela Coreia do Sul. Essas experiências passou-as a livro a
jornalista americana, Florence Williams – A
Natureza Cura[1].
Richard Louv, autor do best-seller de 2008 Last Child in the Woods, disse a Florence o seguinte: “estudar os
impactos do mundo natural no cérebro é, na verdade, uma escandalosa ideia
nova”. Que devia ter sido estudada há 30 ou 50 anos. Porque razão só agora os
cientistas se preocupam com esta questão? Provavelmente porque, diz-nos
Florence, “ a perda da nossa ligação à natureza é mais dramática do que antes”.
A demografia e a tecnologia para isso contribuem, e somos afligidos por doenças
crónicas, agravadas pela quantidade de tempo passado em espaços fechados, desde
a miopia à falta de vitamina D à obesidade, depressão, solidão e ansiedade.
No Leste Asiático 90% dos
adolescentes sofre de miopia porque é a região do mundo em que a população vive
em espaços mais fechados. Viver longe da luz solar como toupeiras implica esse
sofrimento.
No Japão vários
cientistas desenvolvem agora uma prática descrita como “banho de floresta” [2]. Procuram a ligação ser
humano/natureza numa perspectiva neuronal. Querem medir os seus efeitos,
documentá-los, convertê-los em gráficos e entregar as conclusões aos decisores
políticos e à comunidade médica, pois para estes investigadores a natureza
parece atenuar muitos dos males que nos afligem. E estão a quantificar os
efeitos da natureza não apenas no estado de espirito e no bem-estar, mas também
na nossa capacidade de pensar – recordar, planear, criar, sonhar acordado e
focalizar – bem como nas nossas competências sociais.
O antropólogo biólogo
Yoshifumi Miyazaki, vice-director do Centro do Ambiente, da Saúde e das
Ciências de Campo da Universidade de Chiba, na periferia de Tóquio, acredita
que “em virtude de os seres humanos terem evoluído da natureza, é nela que nos
sentimos mais confortáveis, mesmo que nem sempre tenhamos consciência disso”.
Aliás, uma teoria popularizada por E.O. Wilson e que o psicólogo social Erich
Fromm cunhou de “biofilia” em 1973. Que, em síntese, nos diz que os cérebros
humanos respondem de modo inato e veemente aos estímulos naturais. Nada disto é
novidade para um individuo culto, mas nunca tinha sido objecto de atenção
científica. Basta reflectirmos sobre o tempo que passámos, durante a nossa
evolução, na natureza – 99, 9 %.
[2] E já perceberam que os gastos têm retorno com as
centenas de milhares de turistas que todos os anos chegam ao Japão para esse
“banho de floresta”.
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