JORGE LAGE |
Na antiguidade os povos regiam-se pelo movimento aparente do Sol e pela sucessão das luas.
Além dos solstícios e equinócios havia os pontos intermédios que eram uma
espécie de quarentenas, em que se voltava às celebrações. Era preciso celebrar,
agradecer e oferecer a cada um dos deuses protectores o que cada povo possuía.
O tempo de Natal foi uma forma de celebrar a vitória do Sol sobre as trevas. O
Sol era certeza de vida e de colheitas a seu tempo. O Cristianismo mais não fez
que tapar os deuses efabulados pela figura de Jesus Cristo. Jesus é o Sol da
Humanidade, pelo menos o exemplo, em certos aspectos, transcendente. Os
próprios lugares de culto pré-cristão foram abafados com novos templos
cristãos. Ainda, recentemente, pude ver nos arredores de Outeiro Seco - Chaves,
uma singela capelinha em honra de Sat’Ana (Mãe de Nossa Senhora), voltada a
nascente no exterior da rocha em que assenta, pude ver, em baixo relevo, a
imagem da deusa Ana, a Mãe dos deuses celtas. O Natal cristão ganhou mais
encanto a partir do século XIII, quando S. Francisco de Assis, criou o presépio
simples e humilde. Dando um sentido maior e humano à época natalícia. O Pai
Natal acaba por emergir da bondade de S. Nicolau, bispo de Mira (actual Turquia),
ser bondoso e dedicar-se a ajudar os que precisavam. Essa imagem foi explorada
pela multinacional Coca-Cola, nos anos trinta do século XX. Daí a se tornar uma
figura de marketing, tornando-se a quadra natalícia mais consumista do que
cristã. Os leitores sabem que eu sou contra o consumo irracional. Os meus pais
ensinaram-me a viver com pouco. A abundância e luxo exagerados fazem-me sentir
mal. Travei uma dura batalha com a minha família para não me darem presentes no
Natal e, agora, quando o fazem é algo que me faz falta. Assim, recuso-me a dar
prendas à família no Natal. Hoje, queixava-se S. João Paulo II que o Presépio
tinha sido substituído pelo gélido pinheiro nórdico. Se ao menos fosse
substituído pelas nossas árvores sagradas (Carvalho, castanheiro, medronheiro,
oliveira ou outra)? O Natal terá mais encanto se soubermos dar uma palavra
amiga aos que nos rodeiam. Hoje, os mais velhos, estamos a ficar bem para trás
dos cães. Aos colaboradores e amigos leitores desejo-lhes um santo Natal nos
365 dias do ano, com felicidade e saúde!
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