A prenda de Natal que recebi de minha esposa em 2016 foi uma publicação intitulada: BAJOUCA-Uma freguesia com história. O autor é, como eu, filho adoptivo da capital do barro leiriense – o baptismo tem direitos de autor .... – só com a diferença do Dr. José Mota Tavares ter conhecido a zona muito antes de mim, e por sangue materno ter o estatuto de bajouquense. Estatuto bem diferenciado do de José A. da Costa Pereira, que o adquiriu por casamento com uma prendada bajouquense.
Publicação
monográfica muito bem escrita e ilustrada que veio trazer à terra um
arrolamento de coisas e loisas que faziam falta ao vulgar leitor e a futuros
estudiosos interessados em pesquisar dados históricos da terra do Padre
Jerónimo que a poeira do tempo tapou e não tem deixado enxergar. É nessa base
que logo na pág 11, o autor não só alerta que é preciso tempo e saber, como
incentiva os mais jovens a dar continuidade à obra, deste modo: “um
maior aprofundamento e investigação me obrigariam a muitas horas e dias nas
bibliotecas e organismos oficiais de Leiria, Alcobaça, Coimbra, Lisboa….E eu
resido com a família em Lisboa e tenho … um “moio” mais uma vintena de
setembros! Entrego a tarefa aos jovens! “. A escassez de vagar
disponível para pesquisar, acrescido da distância de residência, como muito bem
diz o Dr. Tavares, não facilitam quem neste área bibliográfica se queira meter.
Além de nos obrigar a recorrer a terceiros, que podem ou não ser os mais
inteirados no que contam.
Aqui,
não será o caso, mas já no capitulo das “ Personalidades desaparecidas”, pág.
213, ficou por citar o “Senhor Dinis”
que foi dos primeiros “enfermeiros” a trabalhar na Bajouca, e que também dali
sacudido, acabou por se formar em Medicina, chegando a ter consultório em
Pombal. Dele ouvi falar-se muito, logo que conheci a Bajouca, em 1972, e
na taberna do ti Zé Rato da Capela, parava entretido com as histórias, muitas
vezes inventadas, do ti Zé Ascenso da Gaspara, onde se juntavam o ti Zé
Ladeira, o ti Rei, o ti Estrada, e sempre de pífaro na mão, o Toino Abel. O
dito enfermeiro foi durante muitos anos amigo do ti Zé Rato. Outro dos que
também deu muitas injecções, com autorização do médico, foi o Zé Portela, José Pereira da Silva,
genro da ti Maria Rata, sempre disponível para servir a paróquia, e a sociedade
civil como Cabo de Ordens que foi durante muitos anos.
Ainda
no referente a toponímia, ficou por mencionar na microtoponímia, entre outros
sítios bem conhecidos das pessoas mais antigas: a Portela, a Espinheira, o
Pereiro, e sobretudo o Cabeço da Bajouca
de Baixo, que bem merecia ser citado, pois tem dado alcunha a muitos
bajouquenses, como por exemplo à ti Emília
do Cabeço, filha da também "endireitta" de ossos, ti Maria
do Cabeço. No que consta de artesãs de capachos e esteirões, feitos de bracejo
e junco, em trabalho que, com o titulo “Terras do Lis e de Santo Aleixo da
Bajouca” engendrei e datilografei em 1974,
e que mais tarde divulguei no Elo da Bajouca, destaquei então os nomes da : ti
Custódia Valenta, ti Angelina Santa, ti Júlia Lavradora e ti Maria da Boiça, nomes que ao tempo me foram indicados pelo ti Valente, que trabalhava na casa da ti Rata.
Ainda que fora do contexto das mencionadas artesãs, também o nome
da ti Maria Nova, Maria do Carmo Pedrosa, aqui merecia figurar, pois foi
moleira, e chegou a "picar" as pedras do seu moinho. A
ela própria devo a informação.
Mas adiante, o certo é que temos agora mais uma rampa por
onde os futuros estudiosos se podem lançar à conquista de novas descobertas
tanto de cariz sociológico e histórico, como arqueológico e etnográfico que
tudo aponta existir em abundância. Evitar ao máximo que não seja nos Lagoeiros
que uma boa parte da história conhecida da Bajouca acabe sepultada, e haja quem
atempadamente faça dela arrolamento. Os Lagoeiros é um lugar que além do cemitério, envolve uma
área rural e urbana que das proximidades da Fonte Caixeira se distende até
junto á casa da ti Idalina Soares.
Termino com os meus parabéns ao Dr. José Tavares que nesta sua
monografia mostra não ser apenas um conhecedor profundo de relojoaria mecânica,
que todos conhecemos, como também na arte de descrever a história, os costumes
e as tradições dos bajouquenses se
distinguiu. Que o seu apelo seja bem acolhido por aqueles a quem mais é
destinado. Até porque hoje com uma juventude universitária bastante razoável é
possível que dos muitos e diversificados ramos do saber surjam bajouquenses
peritos nos temas de que carece a Bajouca para se revelar tal como foi, é e
deseja continuar a ser : Bairrista, Franca e Laboriosa.
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