Samuel Taylor Coleridge
(1773-1834) é hoje um poeta pouco lido. Como Rimbaud, Rilke, Wordsworth, Keats,
Byron, Shelley, Blake entre outros. Uma geração culta, obstinada e visionária.
Traves do Romantismo. “A Balada do Velho Marinheiro”, o enorme poema de
Coleridge, tão conhecido como “Kubla Khan”, irá influenciar gigantes como Allan
Poe.
Formalmente, “Kubla Khan”
é um poema estranho. Os esquemas de rimas são irregulares, como se nota na
última estrofe. E a métrica balança entre tetrâmetros e pentâmetros jâmbicos -
“In Xanadu did Kubla Khan” e “A sunny pleasure-dome with caves of ice!”.
Nalguns versos, o
tetrâmetro jâmbico é substituído pelo trocaico, onde se silencia a primeira átona,
iniciando o verso com uma tónica - “Floated midway on the waves” ou “In a
vision once I saw“.
O projecto de tradução de
Alípio Correia de Franca Neto é semanticamente claro.
A temática de “Kubla
Khan” é inspirada no livro de Marco Polo. E segue um caminho hermético há muito
delineado por Heráclito.
Kubla Khan
Em Xanadu, o Kubla Khan
Palácio de esplendor construiu,
Onde Alph, o rio sagrado, mana
Por grutas sem medida humana
E rumo a um mar sombrio.
Cinco milhas mais cinco
de fecundas terras
Cercaram-se de torres e muralhas férreas;
E ali jardins de luz de rios sinuosos, fontes
A floração arbórea a se embeber de olor,
E aqui florestas tão antigas quanto montes
Cingindo manchas fúlgidas pelo verdor.
Mas Ah!, que báratro
romântico, inclinado
Na encosta, de través no cedro frondejante!
Lugar inóspito! Tão mágico e sagrado
Como o que fosse, no minguante, visitado
Por mulher a clamar por seu demônio-amante!
Do báratro, num torvelinho a fervilhar,
Como se a terra, em haustos, estivesse a
arfar,
Por vezes, um forte manancial era expulso;
E em seu súbito, semi-intermitente impulso,
Saltavam, como gelo em ricochete, as lascas
Ou como, a golpes de mangual, os grãos das
cascas;
Com as pedras a dançar, subitamente e a fio,
Por vezes irrompia em jorro o santo rio.
Cinco milhas meandrando
com moção insana
O santo rio correu por vale e bosque e horto,
Então chegou a grutas sem medida humana
E se afundou com fragor de águas num mar
morto.
Nesse fragor, o Kubla ouviu de longes terras
As vozes ancestrais anunciando guerras!
Passeava a sombra do palácio
Em meio às ondas revolutas;
Nelas se ouvia um só compasso
Do som das fontes e das grutas;
Era um milagre de lavor preciso:
Palácio ao sol com grutas de granizo!
Uma donzela com uma cítara
Numa visão eu vi outrora:
Uma donzela da Abissínia
Tangendo cítara tão fina
E celebrando o Monte Abora.
Me fosse dado reviver
A melodia e o canto agora,
Sucumbiria a tal prazer,
Que à longa música sonora
Eu ergueria no ar o monumento –
O Palácio ao sol! as grutas de granizo!
E ouvindo, iriam ver nesse momento,
E ouvindo, proclamar “Atento! Atento!
O olho que brilha, a cabeleira ao vento!
Faz-lhe à volta três círculos no piso,
E cerra os olhos com temor sagrado,
Pois ele de maná foi saciado
E bebeu do leite do Paraíso”.
(Tadução de Alípio Correia de Franca
Neto)
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