Por : Costa Pereira -
Portugal, minha terra.
A vida citadina por norma oferece-se aos seus
habitantes condições sociais que os residentes da aldeia não desfrutam. Mas em
contrapartida os aldeões gozam de privilégios que só as zonas rurais têm para
oferecer. A flora e a fauna são parte desses privilégios, que com o tradicional
património sócio-económico, cultural e humano, faz da aldeia um paraíso
terreal. Lembro-me dos primeiros anos de adolescência passados na minha aldeia
e da aprendizagem adquirida acerca dos utensílios agrícolas, dos nomes das plantas
e dos animais domésticos e selvagens. Assim como da perda desse conhecimento
que um prolongado afastamento desse meio ambiente acaba por gerar em nós. Com
uns sete ou oito anos não havia pássaro, nem ninho que não soubesse
identificar, desde a águia do Marão ao pica-peixe do Cabril.
Mas
a troca das margens do Tâmega pelas do Tejo resultou no perder de vista o voo
da rainha das aves para me acostumar ao das citadinas gaivotas. Daí que sempre
que posso saio da cidade e vou até à capital do barro leiriense, onde procuro
gozar um pouco da liberdade que a vida do campo nos oferece, e observar o que
embora raro ainda por vezes se vê. Foi ontem, dia 23, que dei com um pássaro no
meu quintal que há muitos anos não via:
uma poupa. É ave que dantes gostava de ver, mas não de mexer porque tinha fama
de fazer o ninho com detritos mal cheirosos de animais. Só mais tarde vim a
saber tratar-se de uma calunia como todas as que levantaram contra as corujas e
os mochos, de que dizem iam de noite ás igrejas beber o azeite das lamparinas,
quando na verdade iam era lá caçar insectos. Também a poupa (Upupa sp.) que em
Portugal pode ser observada em todo o território continental e no arquipélago
da Madeira recebeu por ignorância do povo um rótulo que como podem ver não lhe
assenta bem: “A principal característica dos ninhos das poupas, construídos em
cavidades de árvore, é talvez o seu cheiro fétido, extremamente desagradável. O
mau cheiro não se deve a falta de higiene no ninho, pois é sabido que a fêmea o
limpa cuidadosamente de todos os detritos, mas representa uma estratégia contra
predadores. A fêmea e os juvenis desta espécie possuem uma glândula uropigial,
capaz de segregar o líquido responsável pelo mau cheiro, que é expelido em caso
de ameaça”. Fica uma resenha desta ave que dizem os entendidos: “algumas
populações são nómadas, porem o seu estatuto de ave residente ou migratória é
ainda indefinido”.
Sem comentários:
Enviar um comentário