Na sua página mensal do jornal
“Público” (28-02-XIII), André Freire (professor do ISCTE), a propósito dos
acontecimentos no ISCTE com o ministro Miguel Relvas (que logo a seguir passa a
denominar MR), divaga sobre as várias posições tomadas por parte da “esquerda”
e da “direita”, tanto no Parlamento como fora dele, cognominando, com certo
desprezo, António Costa de “Challenger
falhado à liderança do P.S.”. A seguir aponta três factores que têm contribuído
para um “ataque à democracia”:
1 – “O descrédito da classe
politica pela falta de exemplo”, apontando “a forma facilitista como MR (sic.)
obteve a sua licenciatura”
2 – “A deslegitimação pelos
resultados macroeconómicos e sociais da governação”.
3 – “a deslegitimação pelos
procedimentos”.
Diz então que esse perigo,
segundo o ponto três, se manifesta pelo incumprimento dos compromissos
assumidos em campanha eleitoral, por via dos “vencedores de 2011” . Que a desculpa da troika
não pega; a crise (estado de excepção para o articulista) atinge os
assalariados mas isenta os grandes interesses (PPP, energia, telecomunicações).
Refere ainda a violência das medidas (o principal ataque à democracia), que
atira milhares para o desemprego, etc, etc, etc.
Às responsabilidades do P.S. e da
governação socrática dedica uma miserável linha. Culpa depois os jornalistas (mainstream), após breve referência à
esquerda radical. São eles os principais culpados, diz-nos, que “pressionam o
P.S. para aceitar todas as imposições da Troika e da maioria de direita …”.
Afirma depois que os
acontecimentos do ISCTE poderão ter ultrapassado os limites da legalidade, mas
… (há sempre um mas), acrescenta, como dizia o bloger do Gato Maltês… E acaba por citar uma longa passagem. Não o
diz mas pensa-o, dando alguns exemplos de violência, para conquistar “o direito
ao sufrágio universal”. Termina afirmando que a direita esteve no lado errado
da História e repreende a esquerda pela sua falta de memória. Remata então com
o “espírito (autoritário) de respeitinho (salazarento) instalado até ao tutano
…”.
Comentário
Quando em escrito opinativo, para
não repetir constantemente o nome de alguém, se opta pelas iniciais do nome
próprio, não fica mal a quem escreve, caso se trate de cidadão comum. Ora
Miguel Relvas não é (por enquanto) um cidadão comum, é um Ministro de Estado.
Pior ainda quando o “M” de “Miguel” se confunde com o de “Ministro”!
Uma certa esquerda violenta e
vingativa (com vontade de sangue) ficou assanhada por António Costa não ter
avançado para secretário geral do P.S.. Por isso o tratam agora por “Challenger falhado”. Porque ainda não
perceberam que a invectiva do presidente da câmara de Lisboa, foi uma manobra
de diversão. O objectivo desse “príncipe de Florença” é a presidência da república!
Os ataques à democracia começaram
em 2005, e não em 2011.
É preciso que a memória se não
apague e que a história se não altere. O facilitismo das licenciaturas não é de
agora (embora o processo de Bolonha tenha dado um contributo para tal). As
equivalências vêem de longe. E por incrível que pareça não existe nenhum estudo
sobre o tema! Por acaso? É claro que não. Quanto ao caso concreto referido no
texto de André Freire, que se saiba, se alguém tem culpa é a Universidade que
lhe atribuiu as equivalências. O Ministro fez o que tantos cidadãos fizeram,
porque a lei (do tempo dos governos socialistas de José Sócrates!) o permitia.
Além do mais, para se exercer um cargo político (com as regras actuais da
democracia), não é necessário sequer ter a antiga 4ª classe. E há exemplos
notáveis como o de Churchill que apenas estudou até ao sexto ano!
Os resultados macroeconómicos e
sociais da governação, não são exclusivos da sua responsabilidade. São
exigências dos credores. Queira Freire ou não.
Mas é no ponto três, “a
deslegitimação pelos procedimentos”, que o professor do ISCTE incide com mais
veemência. Porque é esta a questão que lhe interessa. É certo que o agora
Primeiro-ministro, à época o cidadão Pedro Passos Coelho, se tem afastado de
compromissos assumidos na campanha eleitoral (impostos e desenvolvimento
económico). Como é certo, por exemplo, que o governo socialista ao tempo,
mentiu aos credores sobre o défice real do país. Três meses depois de tomar
posse, o actual governo verificou que o défice, em vez dos 5,5% assumidos, era,
na verdade, cerca do dobro!
Todos sabemos que os que menos
voz têm, são os que mais sofrem, ou seja, os assalariados (mas também aqui
existem privilegiados como Freire). E que os grandes interesses, por razões de
poder, hão-de (por enquanto) ser um caso à parte. Mas também aqui André Freire
erra o alvo. Segundo os dados que dispomos, os governos a que ele chama de
direita, fizeram oito contratos com as PPP, e os governos socialistas, 80! Só
da época recente, constam 50! E os contratos de energia e telecomunicações
foram feitos, na sua maioria, no tempo socrático.
A violência das medidas não é,
nem maior nem pior, do que a utilizada pelos governos de José Sócrates. É
exactamente igual. Só que agora apanha (de uma forma geral) todos, e no tempo
de Sócrates apanhava apenas alguns. E estes, os que sofreram essas patifarias,
não esquecem tão depressa.
Num artigo de página, às
responsabilidades socialistas (especialmente do período socrático) dedicar uma miserável
linha é não ter a noção do que é levar um país à bancarrota. Que os jornalistas
(por ele criticados) entendem. E afirmar que a direita esteve do lado errado da
História é olvidar as conclusões do marxismo, criticadas numa simples adenda de
10 páginas por Rosa Luxemburgo. E por Eduard Bernstein.
O remate é por demais evidente.
Na verdade, se houve período execrável, em termos das liberdades individuais,
nestes anos de “democracia”, a ninguém decente resta a mínima dúvida: Foi o da
governação socialista de 2005
a 2011. Os exemplos (como o caso do professor Charrua,
recentemente indemnizado pelo Estado por ter sofrido perseguição politica nessa
época) não caberiam nesta página. Em dois anos de governação ainda não vimos
nada parecido. Bem pelo contrário, nunca nos sentimos tão livres. É claro que
há outro tipo de liberdades, mas essas dependem do dinheiro que se trás nas
algibeiras!
Até 5 Junho de 2011, onde esteve
André Freire?
Queira André Freire, ou não queira, o povo português durante
15 ou 20 anos (na melhor das hipóteses), vai pagar uma factura que não é sua.
Nem deste governo!
Post-scriptum
José Sócrates (e a tralha que o
acompanhou, com excepções pois claro) passeou-se pelo país como se seu fosse, durante quase quatro anos
sem receber uma crítica conclusiva. Tudo lhe foi permitido. A Pedro Passos
Coelho bastaram três meses. Esta mentalidade medíocre de que o país enferma
(desde sempre) tem arrasado as instituições e as pessoas de mérito.
O grande erro deste governo não foi nem é aquele que os Freires deste país apontam. Foi tão só, no inicio da legislatura, não ter pedido uma auditoria (com dimensão pedagógica) às contas públicas (com 15 anos no mínimo), principalmente às dois dois governos anteriores.
O grande erro deste governo não foi nem é aquele que os Freires deste país apontam. Foi tão só, no inicio da legislatura, não ter pedido uma auditoria (com dimensão pedagógica) às contas públicas (com 15 anos no mínimo), principalmente às dois dois governos anteriores.
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