Antevisão do que será o futuro santuário |
Alfândega da fé // Trabalhos de
trasladação do santuário do Santo Antão da Barca concluídos em finais de 2013
Por: Francisco Pinto / Secção: O Olhar / 21 Dezembro 2012 (Mensageiro de Bragança)
A EDP iniciou os trabalhos de
trasladação do santuário do Santo Antão da Barca, situado na margem direita do
rio Sabor, no concelho de Alfandega da Fé, prevendo-se que a mudança esteja
concluída no último trimestre de 2013. “A nova localização do santuário foi
escolhida em consenso com o município e com as populações das aldeias vizinha
do santuário e com a Confraria do Santo Antão”, avançou o diretor de projeto do
empreendimento hidroelétrico do Baixo Sabor, Lopes dos Santos. No entanto,
prevê-se que haja um ligeiro atraso na conclusão das obras, já que foram
descobertos um conjunto de frescos nas paredes da capela, os quais terão de ser
analisados e transferidos para a nova capela dentro de padrões que possam
preservar este tipo de arte sacra, já que se trata de painéis datado dos seculo
XVIII e de “rara beleza”. “Os passos mais difíceis já foram dados, neste
momento trata-se de resolver um problema mais construtivo com a descoberta das
pinturas a fresco e que neste monumento constituem o especto técnico mais
delicado, já que é preciso estudar os novos elementos para encontrar um solução
para garantir a sua transferência em segurança”, acrescentou o responsável. Com
aparecimento das pinturas a fresco no interior da capela, o programa de
transladação do santuário sofreu algumas alterações, contudo a EDP, acredita
que a mudança esteja concluída por altura festa anual em honra do santo Antão
da Barca, que realiza em setembro de 2013. Os técnicos vão agora preceder a
desmontagem das pinturas utilizando para efeitos novas técnicas para que as
mesmas sejam transladadas para o novo santuário da forma mais exta possível,
acabando assim a mudança da capela num conceito de “pedra sobre pedra”.
Nota: Segundo a arqueóloga Ana
Rita Trindade, a capela foi manda erguer pelos Távoras em 1743.
O eremita Santo Antão é o santo
da devoção dos milhares de pessoas que todos os anos, em Setembro, acorrem ao
santuário localizado num vale profundo, junto ao rio Sabor, ladeado por margens
íngremes, território de três concelhos diferentes.
Uma romaria que traz a memória de
lendas e milagres relatados pelos fiéis.
Nenhuma pessoa viva pode precisar
quando começou a devoção a Santo Antão da Barca, cujo santuário é ainda hoje
palco de uma romaria que junta num vale profundo, dividido pelo rio Sabor, a
seis quilómetros de Parada, freguesia do concelho de Alfândega da Fé a que
pertence a capela, milhares de pessoas todos os anos, no primeiro fim de semana
de Setembro.
Para lá vão dois caminhos, um que
parte do lugar de Sardão, no concelho de Alfândega da Fé, e outro de Meirinhos,
no concelho de Mogadouro, fazendo ainda fronteira com a ermida as freguesias de
Carviçais e Felgar, do concelho de Torre de Moncorvo.
Os crentes, esses vinham outrora
de todas as aldeias circundantes num raio de distância significativo, e hoje
talvez mais reduzido, desde Carviçais a Castro Vicente, de Mogadouro a Vila
Nova de Foz Côa.
Hoje em dia, os carros descem ao
vale, através de um caminho íngreme mas possível até para os veículos sem
tracção, e o regresso, por isso, acontece mais cedo. Mas em tempos, era a pé ou
de macho que o percurso de cerca de sete quilómetros a partir do lugar de
Sardão era feito. E o regresso, esse só acontecia ao romper da aurora do dia
seguinte, como recorda a senhora Guilhermina, de 76 anos, uma das poucas que
ainda habita no lugar de Sardão. "Havia dois caminhos", recorda,
"um para os machos e outro para as pessoas". "Vínhamos por volta
do meio-dia", prossegue, e quando lhe perguntamos se era uma boa
oportunidade para "engendrar" namoricos, responde prontamente que
sim. Afinal, tratava-se de uma oportunidade rara de convivência um pouco mais
prolongada entre rapazes e raparigas. Por todos os cantos se viam "a
conversar", diz a D. Guilhermina.
Os preparativos para a romaria
começavam a ser providen-ciados com uma semana de antecedência.
O tempo, depois da missa e da
procissão, que já há muitos anos segue por um arruamento aberto exclusivamente
para o efeito, era passado a dançar e a cantar quadras, algumas delas feitas
para a ocasião, mas que a D. Guilhermina já não consegue repetir na íntegra. Os
homens jogavam "ao ferro", lembra, e havia ainda animação musical.
Bandas, diz, chegavam a ser "três ou quatro". À noite, ninguém
dormia, a não ser as crianças, que acabavam por não resistir ao cansaço e eram
então deitadas em mantas, ao relento.
Rio Sabor |
A história e as lendas
A capela foi mandada construir
pelos Távoras, família proprietária de grandes herdades naquela região, há mais
de 200 anos, no local conhecido como Poço da Barca, pois nesse local o rio era
atravessado de uma margem para outra por uma barca que transportava pessoas e
mercadorias diversas, como relata António dos Santos Lopes, numa pequena
compilação de dados que reuniu num livro sobre a ermida. Segundo este autor, a
última barca terá desaparecido no ano de 1953. Mas esta capela terá, segundo a
lenda, substituído uma outra mais antiga, erguida já em honra de Santo Antão,
eremita egípcio que terá vivido nos séculos III e IV, até aos 105 anos de
idade, adoptado, então, pelas gentes da região como padroeiro da barca.
Os populares nem sempre relatam
esta versão da história do santo padroeiro. A maioria das pessoas,
especialmente as mais velhas, contam outra, embora as duas não sejam
necessariamente incompatíveis. Dizem que este santo terá dado todos os seus
bens aos pobres, dedicando-se depois à humilde tarefa de guardar porcos. Isto
explica a imagem do santo, que tem aos pés a figura de um porco, e numa das
mãos a campainha para chamar os animais quando se dispersavam.
São também os populares que
relatam alguns dos milagres alegadamente alcançados por intercessão do santo,
muitos deles têm a ver com barcas que se afundavam, sem que no entanto ninguém
perdesse a vida. Um dos mais importantes, e que os populares puseram em verso,
terá acontecido num dia de Natal. Transportava a barca doze pessoas e
"cinco bestas", quando se afundou no rio, causando grande agitação
nos que da margem viam o desastre. Todos recorreram então a Santo Antão, e
todos acabaram por se salvar, incluindo os "cinco jumentos
carregados" sem qualquer "prejuízo".
Um outro milagre que os populares
relatam tem a ver com outro objecto da devoção das gentes locais: o Divino
Senhor da Barca. Reza a lenda que, em tempos, as gentes da aldeia de Meirinhos
quiseram roubar a imagem para a sua igreja, o que chegaram a fazer. Mas quando
se deslocavam na barca para a outra margem, a imagem ia-se tornando mais pesada
e começava a estalar, pelo que os forasteiros se viram obrigados a regressar e
a deixar a imagem na capela onde hoje permanece.
Blogue Santo Antão da Barca
Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011
Romaria secular - Santo Antão da Barca
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