segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Caso Português e a grande responsabilidade da Europa





“O maior erro que se pode cometer é chegar depressa à conclusão de que uma opinião não tem valor por estar baseada num mau argumento” (Thomas H. Huxley) e “nada é mais certo neste mundo do que a morte e os impostos” (Benjamin Franklin).


1 - Porque razão se cita estas duas personalidades? Porque se é certo que o actual Governo cometeu pequenos erros (alguns), há um colossal de que não é responsável: ter conduzido o País à bancarrota. Esse é da responsabilidade do Partido Socialista, e por ele estão cerca de 80% dos portugueses a pagar com língua de palmo!
Defrontado com uma divida astronómica, o Governo não teve outro remédio senão dar a cara pelas medidas impostas pelos credores. Dar a cara para evitar a humilhação da perda de soberania e cumprir com os compromissos assumidos pelo Partido Socialista em Abril de 2011, quando José Sócrates solicitou à Comissão Europeia um pedido de assistência financeira. A não ser assim, em Junho desse ano os funcionários públicos já não receberiam o produto do seu trabalho: o vencimento.
Goste-se ou não das medidas, fosse qual fosse o Governo, não teria alternativa porque a divida existia e tinha de ser paga. Barafuste-se mais ou barafuste-se menos, vamos ter que arcar com as asneiras da governação socialista. Ameacemos ou não, a Troika, a única entidade na altura disponível para apoiar financeiramente o Estado português, tem os seus mecanismos para exigir o cumprimento do acordo celebrado com o Partido Socialista em Abril de 2011.
Manifestação de 15 de Setembro
O actual Governo, perante factos consumados, e perante uma tal emergência nacional, com um erro aqui, outro ali, tem conseguido “dar conta do recado”, com o esforço enorme dos portugueses. O País ganhou de novo credibilidade externa, o que permitiu a descida acentuada dos juros da divida e a flexibilização nos prazos das metas do défice.
O anúncio de algumas destas medidas a sete de Setembro pelo Primeiro-ministro gerou uma onda de contestação, desde logo por alguns dos seus partidários, algumas figuras do regime, acabando na rua e rematada com a “traição” de Paulo Portas.
A crise politica era então evidente. O Primeiro-ministro ficou isolado, mas foi à luta. E ao contrário da verborreia de certos comentadores e colunistas estava preparado para o momento. Sendo certo que se o país não estivesse nesta emergência (criada pelo Partido Socialista), se tinha demitido após o silêncio de Portas.
Esta crise não aconteceu por acaso. Ela foi muito bem preparada nestes últimos meses pelos “comentadores” e “colunistas” que, à excepção de meia dúzia, não passam de uma seita de analfabetos borralhentos. Escrevem sobre o que não sabem, citam o que não leram, congeminam o impensável e fazem a opinião do País.
Se uma mãe tem um pão para distribuir pelos seus quatro filhos, vai ter que dar ¼ de pão a cada um, como é evidente. Não pode dar um pão a cada um. Mas na mente tonta desta gente que não sabe contar para além da dezena, é esta a solução para o País.
O pior ainda foi o borregar da gente graúda do regime. Uns, sabemo-lo bem, ficaram-se pelos estados de alma, outros, uns verdadeiros instigadores (que sempre foram os verdadeiros privilegiados do regime), atiçaram o POVO, levando-o (quase) a naufragar, pedindo, depois de tentarem ridicularizar um homem honesto, a demissão do Governo. E foi precisamente do partido que em Abril de 2011 assinou o acordo com a Troyka que surgiram as manifestações mais incendiárias, às quais se não alheou o seu Secretário-geral.
Dom Carlos Azevedo
A própria Igreja Católica se manifestou como nunca. Os seus maiores foram, inclusive, desassombrados nas críticas. As preocupações da Igreja são legítimas. E justas. São humanistas e compassivas. Mas nalguns casos (de clérigos mais emotivos) “abusivas”.
A este propósito a Igreja foi sempre interventiva. E ainda bem. Fizeram sentido, em 2010, os vários apelos. Na voz de Dom Carlos Azevedo (à época presidente da Comissão Episcopal Católica da Pastoral Social e bispo auxiliar de Lisboa), a Igreja alertou a 22 de Julho para os riscos de violência por causa da crise e da desigualdade. Apelou ainda aos políticos portugueses católicos que contribuíssem com 20% do seu vencimento para um fundo. No dia seguinte o Bispo da Guarda predispôs-se a descontar esses 20% do seu vencimento. E o Cardeal Patriarca, Dom José Policarpo, já antes havia notado para o grau de pobreza que se instalara no País.
Em 2010, se não estamos em erro, o País era governado pelo Partido socialista! E nessa altura sim, foram fabricadas leis que nos fazem lembrar a famosa Nova Lei dos Pobres, aprovada em Inglaterra no ano de 1834, cujas disposições estão bem descritas na obra de Charles Dickens, Oliver Twist, no célebre passo em que Noah Claypode escarnece do pequeno Oliver, chamando-lhe “Work’us”[1] (“Work house”). Hoje não estamos melhor (voltaremos a este tema), porque essa herança pesada empobreceu o país. Ou, pelo menos, é-a para alguns a quem o partido socialista de Sócrates tratou como os negociantes de pérolas trataram Kino e Juana no célebre conto de John Steinbeck, A Pérola.
António José Seguro que no seu assento de deputado assistiu impávido e sereno à destruição do país com a governação desastrosa do seu partido, como um andorinho, em vez de apelar à calma, desdobrou-se em entrevistas vazias e balofas, incendiando a populaça, ameaçando que não aprovava o Orçamento. Quando sabia que o não podia fazer. Não o podia fazer nem pode. Porque a Troika assim lho exige.
Quem ganharia com esta crise politica se fosse avante? O Povo não. Mas os privilegiados do regime sim. Os que possuem mordomias, projectos sectários pessoais ou políticos, os de grande riqueza. E os vigaristas e corruptos que aproveitam os momentos de anarquia para atingirem o Paraíso.
É pois de toda a urgência que se faça uma auditoria à divida pública, pois o Povo deve saber quanto dinheiro passou por baixo do tapete. E para protecção do próprio Governo daqueles que a todo o momento estão sempre prontos para roer a corda.



Primeiro-ministro
 2 - O que o Conselho de Estado veio demonstrar foi que, ao contrário da verborreia de alguns “comentadores” e “colunistas”, o Primeiro – ministro não estava impreparado (Teresa de Sousa – que soube defender o Eng.º Sócrates por questões ideológicas, mas não viu (ou não quis ver) o estado em que deixou o país), nem é medíocre (como praticamente disse Pacheco Pereira). O Primeiro-ministro demonstrou, na verdade, ser um homem invulgar como já alguém escreveu em livro. Porque, depois da tentativa de “assassinato político”, nestas duas últimas semanas de crise, completamente só e abatido, manteve-se firme e hirto, aguentou o barco e não o deixou naufragar.
A tentativa de ridicularizar um homem honesto não funciona, porque como dizia Confúcio “ pode-se enganar o homem honesto, mas não ridicularizá-lo”.
O Primeiro-ministro, por muito que essa gente (que não sabe contar para além da dezena) queira, não é réu neste processo. É herdeiro. De uma herança pesada do partido socialista do tempo de José Sócrates.
Dirão estas iluminarias que o governo não vai conseguir gerir a situação económica e financeira. Porque vai ter que empreender, pelo menos, três novas vagas de austeridade para conseguir este ano o défice de 5%, para o ano 4,5%, e 2,5% em 2014.
É claro que está à vista de toda a gente minimamente culta que esta tarefa, em democracia (se é que este regime pantanoso se pode chamar de democracia), é praticamente impossível (ou se alargam os prazos para a meta do défice, ou se perdoa uma grande parte da dívida). Essas iluminárias não dizem nada de novo nem nada que valha. Qualquer analfabeto vê isso muito melhor que eles. Porque, ao contrário deles, sofrem na pele a austeridade.
De facto, essa tarefa é impossível, por uma simples razão. Os salários têm que baixar para a economia se tornar competitiva, como já explicamos neste mesmo local, fundamentados em relatos dos maiores especialistas mundiais (alguns prémios Nobel). O problema é que as famílias portuguesas se endividaram quando os seus salários eram outros. E enquanto os salários baixam, a divida mantém-se (nalguns casos, para maior drama, sobe), não baixa. Portanto, a única solução para atingir esses valores do défice tem que ser arranjada pela Europa, que criou a maior parte do problema, não só pelo Governo que o herdou.
Porque razão falamos em perdoar grande parte da divida? Precisamente porque, como dissemos atrás, foi a Europa que criou a maior parte do problema. Como? Emprestou dinheiro a juros usurários, agiotas. Presumimos que só os juros já pagos dariam para pagar 1/3 da divida. Por outro lado, há mais de trinta anos, emprestou dinheiro a países como Portugal para serem investidos em zonas de lazer (foi o caso da Suécia) que depois perdoou porque o país precisava de ajuda e vivia tempos conturbados. Não é justo que passados tantos anos venha exigir (ainda por cima com juros agiotas) o que na altura perdoou. Ou seja, deu. Há mais de vinte, emprestou dinheiro a Portugal para que este arrancasse as suas vinhas, oliveiras e outros produtos agrícolas; emprestou-lhe ainda para dar cabo da sua frota pesqueira. Como pode agora, passados estes anos exigir-lhe que recupere, do pé para a mão, o seu aparelho produtivo? Apenas de uma maneira injusta e execrável: reduzindo os salários até à exaustão.
 
ISLÂNDIA - [ http://youtu.be/lNt7zc6ouco ].
Se querem reduzir os salários para que a economia se torne competitiva, que reduzam primeiro a dívida das famílias. Só com este equilíbrio o Povo sentirá alguma da sua responsabilidade. Que a teve, mas não toda. Nem sequer a maior parte. Porque, em muitos casos, foi enganado. Por essa razão, a solução islandesa é hoje admirada por quem a conhece [ http://youtu.be/lNt7zc6ouco ].

A Europa criou o melhor nível de vida do mundo, inventando valores dos mais elevados a que uma sociedade pode aspirar ao nível da dignidade humana; recriou sociedades redistributivas, justas. Que viveram em harmonia mais de 30 anos, logo a seguir à Grande Guerra. Como pode agora eticamente exigir a países que estão em dificuldades financeiras, precisamente o contrário do que criou? Como pode exigir-lhes sacrifícios desumanos quando permitiu que nestes últimos 30 anos cerca de 30% dos seus rendimentos anuais pertençam a apenas 1% dos assalariados? Quando permitiu que a riqueza de algumas fortunas individuais seja estimada como idênticas à dos 20% da população mais desfavorecida – vários milhões? Quando permite que certos cargos executivos recebam cerca de mil vezes o salário do seu empregado médio?

De qualquer forma, o POVO, em Portugal, tem a democracia que merece. Porque se em 2005 seria normal cair na ilusão do Eng.º Sócrates, já o não foi em 2009.

Armando Palavras
 


[1] Corruptela da palavra Workhouse (albergue).

Sem comentários:

Enviar um comentário

Criação de um Parque Biológico da Terra Quente?

JORGE   LAGE  Criação de um Parque Biológico da Terra Quente? – Quando amamos o torrão natal, sonhamos com o melhor para a nossa terra e la...