quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

“Gipsi” Trollmann, outra das vitimas dos Nazis


  “Gipsi” Trollmann

Júlio Cortázan em “A Volta ao Dia em 80 Minutos” (Cavalo de Ferro, 2009), conta-nos um breve episódio da “nobre arte” do boxe, quando tinha nove anos. A forma como, em 1923 o grande pugilista argentino Luís Angel Firpo, que os “ianques” tinham baptizado “o touro selvagem das Pampas”, poderia ter sido campeão mundial (não fosse o árbitro americano) ao ter projectado através das cordas Jack Dempsey[1], “atirando-o para cima das máquinas de escrever dos jornalistas” (p. 267). Cortázan seguiu este incrível momento, juntamente com grande parte da vizinhança que se tinha instalado no pátio de sua casa, através da transmissão radiofónica, quase directa do Pólo Grounds de Nova Iorque.
Já no fim do escrito, lembra Gene Tunney, Tony Canzoneri, Júlio Mocoroa, Justo Suárez, Joe Louis, Kid Gavilán, o quase mítico Henry Armstrong e “a flor final, onde a mais perfeita conciliação da arte e da ciência se chamou Sugar Ray Robinson”. O resto foi e continua a ser entropia, inclusive, diz-nos Cortázan, “esse triste mamarracho que até escreve versos, Cassius Clay”.
Seja como for, Cassius Clay é hoje a maior lenda do boxe.
Mas não foi Clay nem os seus antecessores que aqui nos trouxeram. Foi Johann Trollmann, mais conhecido por “Gipsy” Trollmann por ser cigano. E por o ser sofreu a injustiça nazi, como três meses antes a havia sofrido Erich Seelig por ser judeu.
Em Março de 1933 o título de campeão nacional de boxe de pesos-médios da Alemanha foi retirado a Erich Seelig. Em Junho desse ano Trollmann, com 26 anos, humilha os alemães ao derrotar Adolf Witt, um “ariano”. Embaraçados, os organizadores decidem o resultado como um empate. O público protestou com fúria, pois Trollmann é um dos boxeurs mais populares da Alemanha (por essa razão, excepcionalmente os nazis o deixaram disputar o titulo). Trollmann é então declarado campeão de pesos-médios da Alemanha. É lançada imediatamente uma campanha contra ele pela revista especializada Boxsport. Oito dias depois retiram-lhe o título. E como já havia sido marcado outro combate, “Gipsi” com o cabelo pintado de loiro, deixa-se esmurrar e ao quinto assalto jaz no chão, ensanguentado e a ouvir a contagem decrescente.
Pouco tempo depois, três dos seus irmãos são enviados para os campos de concentração, enquanto Trollmann é recrutado para o exército, onde combate na frente russa. Em 1942, durante uma licença, é preso pela Gestapo e enviado para o campo de concentração de Neuengamme, onde, agora com 35 anos, é humilhado pelas SS.
A nove de Fevereiro de 1943, as SS matam-no a tiro. Faz hoje precisamente 69 anos.

Armando Palavras


A poropósito desta efeméride, publica-se o artigo de Esther Mucznik


Jornal Público- 25 Agosto XI

Sobre a lenda do Golem,                                                                            Sobre Tony Judt, consulte-se
pode consultar-se o livro                                                                              o livro que se segue
que se segue

 
                                          


[1] Uma vez que o marquês de Queensbury, tinha estabelecido claramente que um boxeaur atirado desta forma pela janela tem de regressar por conta própria ao ringue. Dempsey, que estava “grooggy”, foi ajudado por trinta mãos

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