Fresco romano |
Na
época dos Ptolomeus, esses reis Gregos que herdaram a parte egípcia do império
de Alexandre o Grande, no terceiro século A.C., Alexandria era a “capital
editorial do planeta”, como lembra Carl Sagan. E era também, a maior cidade que
o mundo Ocidental já conhecera. Aí convergiam pessoas de todas as
nacionalidades. Foi aí que provavelmente a palavra cosmopolita ganhou maior
sentido (cidadão, não apenas de uma nação, mas do cosmos[1]).
Foi
na sua biblioteca que se criaram as raízes do mundo moderno. E ainda hoje nos
perguntamos sobre as razões que levaram o Ocidente a acordar na época de
Colombo, Copérnico e seus contemporâneos. Quando estes descobriram o mundo
criado por Alexandria.
Rafael, A Escola de Atenas - Fresco do século XVI onde se vê Hipátia de manto branco junto de outros filósofos e cientistas |
O
último cientista a trabalhar na biblioteca foi uma mulher! Distinguiu-se na
Matemática, na Astronomia, na Física e ainda foi responsável pela escola de
filosofia neoplatónica. Chamava-se Hipátia, uma das mulheres mais
extraordinárias que o mundo conheceu.
Nasceu
em 370 em Alexandria, numa época em que era dado muito pouco valor às mulheres.
Mas Hipátia moveu-se facilmente dentro dos domínios que tradicionalmente
pertenciam aos homens. A maioria das fontes, atestam a sua beleza, mas recusou
todas as propostas de casamento.
Hipátia de manto branco, junto de Parménides (direita), Pitágoras e Averróis |
Hipátia
viveu no meio de poderosas forças sociais. Alexandria vivia há muito sob o
domínio romano. A escravidão havia retirado vitalidade à civilização clássica e
a Igreja Cristã já consolidada, tentava apagar a influência da cultura pagã.
Cirilo,
bispo cristão de Alexandria, desprezava-a por causa da sua relação com o
governador romano e porque ela era um símbolo da sabedoria e da ciência que a
Igreja nascente identificava com o paganismo.
Hipátia
ensinou e publicou até 415. Um dia, a caminho do seu trabalho, foi atacada por
um grupo de fanáticos, comandados por um certo Pedro, partidários de Cirilo.
Arrancaram-lhe as roupas e com conchas de abalone separaram-lhe a carne dos
ossos. Os seus restos foram queimados, os seus trabalhos destruídos e o seu
nome passou ao esquecimento.
A
glória da biblioteca é agora uma vaga recordação, e o nome de Hipátia também.
Ambas foram destruídas no mesmo tempo. E grande parte dos seus laços com o
passado, das suas descobertas, das suas ideias, extinguiram-se para sempre. A
perda foi irreparável, incalculável. Perdeu-se uma das maiores cientistas que o
mundo conheceu, e obras imortais de Sófocles, Ésquilo e Euripides, fazem hoje
parte da poeira do tempo[2].
Armando Palavras
Alguma bibliografia:
SAGAN, Carl, Cosmos, Gradiva,
2001
HAUGHTON, Brian, História Oculta,
Teorema, 2009
ANACLETO, José Manuel, Alexandria
e o Conhecimento Sagrado, Aletheia/CLUC, 2008
DIZIELSKA, Maria, Hipatia de
Alexandria, Siruela, Madrid, 2004
MAZA, Clelia Martinez, Hipatia,
Esfera, Madrid, 2009
GALVEZ, Pedro, Hypatia, a mulher
que amou a ciência, Lúmen, Barcelona, 2004
Cf. ainda, Livros Malditos de Jacques Bergier
Revistas
Clio, ano 8, nº 96
Historia, National Geographic, nº 59
Ficção:
No campo da novela podem-se
destacar nomes como: Ollala Garcia, Magdalena Nasala, José Calvo Poyato, Luís
de Luna e luís Manuel Ruiz
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