sexta-feira, 18 de novembro de 2011

HIPÁTIA, uma mulher extraordinária da Antiguidade (Mulheres com história 4)


Fresco romano
Na época dos Ptolomeus, esses reis Gregos que herdaram a parte egípcia do império de Alexandre o Grande, no terceiro século A.C., Alexandria era a “capital editorial do planeta”, como lembra Carl Sagan. E era também, a maior cidade que o mundo Ocidental já conhecera. Aí convergiam pessoas de todas as nacionalidades. Foi aí que provavelmente a palavra cosmopolita ganhou maior sentido (cidadão, não apenas de uma nação, mas do cosmos[1]).
Foi na sua biblioteca que se criaram as raízes do mundo moderno. E ainda hoje nos perguntamos sobre as razões que levaram o Ocidente a acordar na época de Colombo, Copérnico e seus contemporâneos. Quando estes descobriram o mundo criado por Alexandria.
Rafael, A Escola de Atenas - Fresco do século XVI
onde se vê Hipátia de manto branco junto de
outros filósofos e cientistas
O último cientista a trabalhar na biblioteca foi uma mulher! Distinguiu-se na Matemática, na Astronomia, na Física e ainda foi responsável pela escola de filosofia neoplatónica. Chamava-se Hipátia, uma das mulheres mais extraordinárias que o mundo conheceu.
Nasceu em 370 em Alexandria, numa época em que era dado muito pouco valor às mulheres. Mas Hipátia moveu-se facilmente dentro dos domínios que tradicionalmente pertenciam aos homens. A maioria das fontes, atestam a sua beleza, mas recusou todas as propostas de casamento.
Hipátia de manto branco, junto de Parménides
(direita), Pitágoras e Averróis
Hipátia viveu no meio de poderosas forças sociais. Alexandria vivia há muito sob o domínio romano. A escravidão havia retirado vitalidade à civilização clássica e a Igreja Cristã já consolidada, tentava apagar a influência da cultura pagã.
Cirilo, bispo cristão de Alexandria, desprezava-a por causa da sua relação com o governador romano e porque ela era um símbolo da sabedoria e da ciência que a Igreja nascente identificava com o paganismo.
Hipátia ensinou e publicou até 415. Um dia, a caminho do seu trabalho, foi atacada por um grupo de fanáticos, comandados por um certo Pedro, partidários de Cirilo. Arrancaram-lhe as roupas e com conchas de abalone separaram-lhe a carne dos ossos. Os seus restos foram queimados, os seus trabalhos destruídos e o seu nome passou ao esquecimento.
A glória da biblioteca é agora uma vaga recordação, e o nome de Hipátia também. Ambas foram destruídas no mesmo tempo. E grande parte dos seus laços com o passado, das suas descobertas, das suas ideias, extinguiram-se para sempre. A perda foi irreparável, incalculável. Perdeu-se uma das maiores cientistas que o mundo conheceu, e obras imortais de Sófocles, Ésquilo e Euripides, fazem hoje parte da poeira do tempo[2].
Armando Palavras

Alguma bibliografia:

SAGAN, Carl, Cosmos, Gradiva, 2001
HAUGHTON, Brian, História Oculta, Teorema, 2009
ANACLETO, José Manuel, Alexandria e o Conhecimento Sagrado, Aletheia/CLUC, 2008
DIZIELSKA, Maria, Hipatia de Alexandria, Siruela, Madrid, 2004
MAZA, Clelia Martinez, Hipatia, Esfera, Madrid, 2009
GALVEZ, Pedro, Hypatia, a mulher que amou a ciência, Lúmen, Barcelona, 2004
Cf. ainda, Livros Malditos de Jacques Bergier
Revistas
Clio, ano 8, nº 96
Historia, National Geographic, nº 59
Ficção:
No campo da novela podem-se destacar nomes como: Ollala Garcia, Magdalena Nasala, José Calvo Poyato, Luís de Luna e luís Manuel Ruiz

[1] a palavra foi inventada por Diógenes, filósofo racionalista e critico de Platão
[2] Para se perceber o teor da perda, citemos apenas um exemplo. Das 123 peças de teatro de Sófocles, só sobreviveram 7

Sem comentários:

Enviar um comentário

Poucos mas bons (o combate ao tráfico de escravos)

  A Marinha Portuguesa teve um destacado historial de combate ao tráfico de escravos ao longo do século XIX. Poucos, mas Bons – Portugal e...