quinta-feira, 16 de junho de 2011

Poetas da Orla do Rio


José Manuel (Fragata)


















Como Uma águia

Sibila o vento.
Sobre um mar prateado povoado de dunas,
Grita o silêncio sem correntes por perto!
Liberto o meu pensamento na difusa sombra
E desfruto das sensações de mil e um sentimentos
Sob um deserto de vida.
Ao sabor do vento, num rumo incerto,
Vivo após adormecer com o céu,
As estrelas e a lua por perto,
De asas abertas...
Num voo infinito desfruto o momento...
E plano como uma águia ao amanhecer.
Finalmente liberto, não durmo,
Sonho que sou uma águia.
J. F
Saudade

Ausente do corpo, sempre presente...
Povoa-me a alma de instantes do tamanho do Mundo!
Nomes ausentes, flores pujantes de primaveras passadas,
Memórias prensadas entre as folhas de outras memórias,
Que de tempos a tempos folheio.
Tacteio as folhas verdes, esmorecidas,
Leio-lhes a sina, já escrita;
Nas nervuras ressequidas,
O toque trinado das cordas do tempo,
Acompanha o fado.
Histórias dentro de histórias,
Marcadas com pétalas de flores
E com folhas vivas
Sacrificadas ao ritual das marcas da vida.

J.F.

Caminhos

Outrora, alvos de neve,
gastos pelos pés que os calcorrearam
Em acto recoletor como o da formiga,
num vai e vem incessante,
serpenteavam a arriba.
Homens e animais, num esforço recíproco,
com travo ao sal da fadiga,
escolhiam incertos degraus de pedras lavadas
pelo sangue das almas que lhe davam vida,
submetendo a invasão dos arbustos
à destreza da foice e de dentes famintos.
Agora, debaixo de musgos e de ervas daninhas,
privadas da vida de todos os dias,
escondem-se as pedras carpindo saudade...
A sangria dos Homens abriu novos caminhos,
com outros destinos.


J. F.

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