Teodoro de Faria
Bispo Emérito do Funchal
Jornal da Madeira - 18/10/2020
A Arménia foi um dos primeiros países do Império Romano a receber o cristianismo nos tempos apostólicos. Com a chegada dos muçulmanos, a Arménia tornou-se um pequeno Estado, envolvido por todos os lados pelo império turco, mas sempre orgulhoso da sua fé cristã e de possuir o monte Ararat onde, segundo a Bíblia, a barca de Noé teria encalhado após o dilúvio. Hoje, é um país de mártires que sofreu um terrível genocídio em Istanbul, quando Ataturk unificou o país na religião muçulmana, expulsando todos os gregos do seu território e sacrificando os arménios que se acolheram em Jerusalém e diversos países cristãos que os receberam
Desde sempre os ciganos, muito numerosos e cristãos, habitaram na Arménia e foram também perseguidos e assassinados. Entre 1915 e 1918, 1.500.000 foram mortos por terem recusado aceitar a fé muçulmana; a Turquia queria tornar-se um grande império com uma única religião, o Islão. Como a Rússia a e a França protegessem a Arménia, os turcos que pretendiam absorvê-la no seu império com a conversão de todos os cristãos ao islamismo, desistiram do seu plano, tanto mais que os arménios estavam culturalmente mais bem preparados, devido às universidades e escolas superiores que possuíam. O partido dos “jovens turcos” julgara fácil a conversão dos arménios ao Islão, mas enganaram-se e, desta forma, a Arménia cristã não desapareceu como Estado.
Um escritor italiano, Renato Rosa, publicou recentemente um livro para os ciganos italianos conhecerem os 7.000 ciganos arménios que foram torturados e mortos por não terem renegado a sua fé em Jesus Cristo, e foram beatificados pela Igreja Apostólica Arménia. Um dos casos emocionantes do livro é o de uma jovem cigana cristã, que tinha iniciado a deportação numa caravana para a morte, com outras dez mulheres e raparigas, oito das quais eram ciganas. Um jovem turco que acompanhava o comboio dos deportados, enamorou-se da beleza desta jovem e propôs-lhe a sua salvação tornando-se muçulmana e casando com ele, evitando assim a morte. A jovem respondeu-lhe: “Porque não te tornas tu cristão e assim caso-me contigo?”. O jovem enfureceu-se e a jovem foi imediatamente torturada. Amputaram-lhe um seio, mas ela permaneceu sempre firme na sua fé cristã. A tortura continuou tendo ela ficado reduzida a pedaços. Segundo o escrito de Dom Renato, que consultou os ciganos da Arménia e os documentos da história daquele país, o mais numeroso grupo de mártires de cristãos da história na Arménia é exatamente o dos ciganos.
Convidado
por uma Agência de Viagens, visitei recentemente a Geórgia e a Arménia, que tem
como Delegado Apostólico um bispo natural dos Açores, Mons. José Bettencourt.
Fiquei
agradavelmente informado da vida cristã neste país, da beleza da liturgia na
Catedral, da ordem, paz, variedade, conservação e quantidade de monumentos
históricos e, ao mesmo tempo, fiquei reconhecido pelo arménio Gulbenkian que em
Portugal deixou uma memória abençoada pelos bens culturais e espirituais
imortalizados no nosso país, e pela ajuda preciosa à Biblioteca do Pontifício
Colégio Português de Roma quando eu ali era Reitor.
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