(O meu amigo morreu num trágico acidente. Não teve tempo para
dizer adeus. Não disse adeus. E depois, eu estranhei, porque alguns dias a
seguir à sua abrupta e inesperada partida, o mundo pareceu-me bastante
indiferente à tragédia que o vitimou. E falo do mundo. Não das pessoas que
sentiram forte a dor que a sua ausência deixou, muito embora, também essas, com
o tempo, não o esquecendo nunca, lá vão vivendo, la se vão conformando. E
depois pensei…O meu amigo, sou eu, o meu amigo é qualquer um de nós. Vamo-nos e
o mundo continua…indiferente à nossa partida… Por isso, vale a pena aproveitar
cada momento…).
E quando eu me for,
Quem vai proferir as
minhas palavras?
Quem suportará a minha
dor,
Quem da minha dor,
Com persistência, com
ardor
Cuidará das minhas lavras?
Quem percorrerá os
caminhos
Que me faltam fazer,
Quem, depois de eu
morrer,
Dirá tudo o que me falta
dizer?
Quem irá abraçar o mundo
Com esta mesma ânsia,
esta vontade,
E num silêncio mudo,
profundo
Tão profundo como a
verdade
Que em meu peito não consigo
guardar,
Pegará na minha voz,
Para, com a minha voz
gritar…?
E o mundo…vai parar de
girar
Porque eu morri?
Vai cair sobre si mesmo,
Vai-se desmoronar
Como se fosse esse o seu
destino
Desde o dia em que nasci?
O vento, deixa de soprar?
A água que corre no rio,
escoa,
E o rio vai secar?
As manhãs serão serenas
No bico do pássaro que a
música entoa,
No seu melancólico
despertar?
E a brisa que vem do mar,
Essa brisa que absorvo
dentro de mim,
E me faz viver, e me faz
acreditar,
E me transporta por outros
caminhos sem fim,
Outros mundos, outras
vidas
Que essa brisa me faz
sonhar.
Essa brisa irá por cá
ficar?
Como ficará o mundo
quando eu morrer?
Corre a cortina porque a
peça terminou?
Apaga as luzes depois do
publico desaparecer,
Vai-se embora porque já
cá não estou?
Vou-me embora e o mundo
nem pestaneja,
Os dias morrem ao
anoitecer,
E onde quer que eu vá,
onde quer que esteja
Nascem de novo ao
amanhecer.
E afinal, não passo de um
sopro largado no tempo,
Vivo e quando vivo é esse
o meu momento.
Estou…e deixo de estar,
E o mundo move-se, e o
mundo gira,
E o mundo não vai acabar,
Porque do mundo a minha
pessoa se retira.
O mundo não tem fim,
Mas tem a minha vida, o
meu legado.
E ainda bem que é assim,
Pois se a minha vida não
tivesse fim,
Estaria o mundo
condenado.
António
Magalhães - Sheffield -
Inglaterra
(Possivelmente Poemas)
Sem comentários:
Enviar um comentário