sábado, 23 de março de 2019

A rota de Magalhães


Por  Armando Palavras

Em 1519, iniciou-se uma das mais ousadas viagens marítimas da História, uma empreitada que reuniu cinco navios e mais de duas centenas de homens, com a missão de chegarem às Molucas por Ocidente.Uma época em que ainda se não sabia que o planeta era esférico. Uma viagem arriscada. O Pacífico, salvo o do sudoeste asiático, já conhecido pelos Portugueses, era praticamente desconhecido. Era ainda um mundo de lendas e povos bárbaros. Foi uma jornada de gente corajosa, sobretudo do seu Almirante português, Fernão de Magalhães.
A rota que seguiram foi esta:


1519
10 de Agosto
Partida da armada de Sevilha.
20 de Setembro
Partida de Sanlúcar de Barrameda.
26 de Setembro
Chegada a Tenerife (Canárias)
Depois de zarpar, já nas Caraíbas, Magalhães recebe uma mensagem secreta do sogro Diego Barbosa dizendo que os capitães espanhóis lhe vão dificultar o comando. Na verdade, só há última hora, Magalhães consegue contratar 30 portugueses para a expedição (Carlos V tinha-lhe imposto apenas cinco), já que os capitães espanhóis lhe foram impostos sem alternativa. Quanto à tripulação era composta por um conjunto de maltrapilhos que vagueavam pelas ruas e tabernas de Sevilha, de várias nações: espanhóis, gregos (Corfu), pretos, bascos, portugueses, italianos, alemães, ingleses, cipriotas. Todos “desperados”. Gente que venderia a alma ao diabo.
Como o Almirante português, em vez de tomar a direcção sudoeste, rumo ao Brasil, mantendo-se junto à costa africana até à Serra Leoa, é questionado por Juan de Cartagena. O episódio acaba com a detenção do fidalgo espanhol, conduzindo-o aos calabouços. A nau San Antonio passa então para os comandos de outro oficial espanhol, Antonio de Coca.
29 de Novembro

É avistada a costa do Brasil, perto de Pernambuco, mas onde a frota não assenta arraiais. Continua a rota rumo ao sul.
13 de Dezembro
Chegada ao Rio de Janeiro (Brasil), a que pusera o nome de baía de Santa Luzia, após uma viagem de 11 semanas ininterruptas. Já sob o domínio dos portugueses era pouco recomendável que Magalhães aí desembarcasse, mas como os portugueses ainda não tinham criado nenhuma feitoria nem havia o perigo de uma fortaleza com canhões defensivos, a frota ancorou, desembarcaram e Pigafetta faz-nos o relato daqueles honrados canibais que costumavam assar no espeto um ou outro inimigo morto, com se de um boi se tratasse, cortando-lhes os melhores bocados.
Durante aqueles dias, ninguém sofreu o mínimo agravo. Magalhães chegou em paz, e em paz volta a partir, com os marinheiros desgostosos de abandonarem aquele paradisíaco local.

1520

10 de Janeiro
Passagem pelo cabo de Santa Maria, onde Magalhães julga, segundo o mapa de Martinho da Boémia e informações de exploradores portugueses, estar próximo do “passo”. A seguir avistam uma pequena colina que se ergue sobre uma planície imensa a que dão o nome de Montevidi (hoje Montevideu). Uma enorme tempestade obriga-os a recolherem-se num enorme golfo que é a embocadura do rio da Prata. E, segundo o relato de Pigafetta, estavam todos convencidos que tinham encontrado a tão ansiada passagem para o Pacifico.
7 de Fevereiro
Fim do reconhecimento do estuário do rio da Prata.
Convencidos que era aquela a passagem, Magalhães demora 15 dias a explorar aquela imensa embocadura. Desalentado, Magalhães segue para sul, com a costa cada vez mais agreste e a temperatura mais baixa. O frio aperta. Nestas praias só há pinguins e leões-marinhos.
24 de Fevereiro
A frota chega ao golfo de São Matias.
É um golfo fechado. E em vão se procede à exploração da baía dos patos e da baía dos Trabalhos. Os tripulantes começam a mostrar descontentamento para gáudio dos oficiais espanhóis.
31 de Março
Chegada ao porto de São Julião
A frota demora dois meses a percorrer a curta distância do rio da Prata e o porto de São Julião. Faz-se um primeiro reconhecimento do golfo. E Magalhães decide passar o Inverno aqui.
2-3 de Abril
Repressão do motim na armada
Em São Julião, já no Chile, os capitães amotinam-se (o plano foi admiravelmente concebido pelos capitães espanhóis rebeldes). A nau San Antonio é tomada (e presos todos os marinheiros portugueses, incluindo o amigo e primo de Magalhães, Álvaro Mesquita) por Cartagena, Quesada e Coca, que entregam o comando a Juan Sebastião del Cano, cujo nome aqui aparece pela primeira vez. Magalhães num golpe de destreza, põe fim ao motim. Os revoltosos são postos a ferros. Magalhães tem de dar uma lição, escolhe um dos revoltosos. Gaspar Quesada que havia assassinado o fiel piloto Eloriaga é condenado à morte. E Juan Cartagena, o cabecilha da rebelião, e um padre que a incentivou, são abandonados, condenados ao degredo na Patagónia. Aos restantes rebeldes, o Almirante português concedeu indulgentemente o perdão.
A sentença de Magalhães, serviu de lição para Francis Drake, 57 anos depois.
Ao primeiro sinal primaveril, aparece no cimo de um monte um homem com o dobro da estatura de um homem normal, a que Magalhães chamou “Patagão”, por ser enorme e ter uns pés grandes. E, já com contactos feitos, os marinheiros observam que adoram um feiticeiro, Setebos (cujo nome Shakespeare irá mais tarde utilizar em A Tempestade) Este relato é feito pelo cronista da viagem, António Pigafetta.
22 de Maio
A nau Santiago afunda-se
Magalhães, pronto para avançar na jornada, envia em viagem de reconhecimento a nau mais ligeira e mais ágil, comandada pelo seu fiel capitão Serrão, a Santigo. Numa tempestade acaba por se afundar, no rio de Santa Cruz. Salvaram-se três tripulantes: um preto que ficou à espera de auxílio no rio santa cruz e dois marinheiros que conseguiram dar a notícia a Magalhães.
24 de Agosto
Partida do porto de São Julião.
Os náufragos da Santiago são resgatados.
26 de Agosto
Entrada no rio de Santa Cruz
18 de Outubro
Saída do rio de Santa Cruz
Depois de dois meses de descanso, segue viagem.
21 de Outubro
Entrada no estreito de Magalhães
Finalmente no estreito tão desejado! A primeira visão foi de um promontório de recifes brancos que Magalhães baptizou de cabo de las Virgines. A paisagem é estranha. Magalhães manda perscrutar minuciosamente esta estranha enseada, ao contrário dos tripulantes (como relata Pigafetta), que julgavam ser uma baía sem saída. O navio-almirante e o Victória ficam para trás, com o objectivo de explorarem o recorte da baía. O San António e a Concepcion recebem ordens para avançar e regressarem dentro de cinco dias.
Três dias depois, Magalhães recebe a notícia de que aquilo deve ser um estreito com alegria efusiva, e as quatro naus avançam estreito dentro. De dia não veem ninguém naquelas terras desérticas, mas à noite observam fogueiras constantes. Por essa razão denominaram a terra, Terra do Fogo. A dado passo chega a uma baía que bifurca, torna a dividir a frota. A San António e a Concepcion recebem ordens para seguir a sudeste, enquanto as outras duas naus seguirão para sudoeste. Devem reunir dentro de cinco dias, na embocadura do rio das Sardinhas. Nessa altura, Magalhães reúne com os capitães na nau-almirante. Não se sabe o que disseram, apenas um, Estevão Gomes, por sinal português, e de quem diziam ser parente de Magalhães, se pronunciou dizendo que se o caminho foi descoberto, era de opinião que deveriam voltar para trás pois a frota já não tinha condições e repetir a viagem. Pigafetta não é justo com este homem experimentado. E Magalhães manda apregoar a ordem de navio em navio: a viagem continua. Contudo, o Almirante ordena secretamente aos seus capitães que escondam a verdadeira realidade sobre os viveres à tripulação.
Magalhães deixa a primeira missão de reconhecimento a um bote, durante três dias. Ao terceiro dia o bote regressa com os marinheiros em alegria efusiva. Tinham dado com a saída para o Pacífico (nome dado por Magalhães pela inexistência de ventos). Seguem em procura das outras duas naus, mas só encontram a Concepcion. A San António tinha desertado.
8 de Novembro
Rebelião na nau Santo António, que regressou a Espanha.
22 de Novembro
Magalhães ordena que se abandone o porto do rio das Sardinhas.
28 de Novembro
Saída do estreito e entrada da armada no oceano Pacifico, um mar desconhecido (os portugueses já conheciam o Pacifico do sudoeste asiático. O próprio Magalhães por lá ando e 1509-11).
16 de Dezembro
Começo da travessia do oceano Pacifico, com o cabo Desejado ficando para trás.
1521
13 de Fevereiro
Passagem do Equador
As três embarcações que restam estão em péssimas condições. Os tripulantes estão exaustos, com fome.  Segundo o relato de Pigafetta, chegam a comer bocados de couro de boi que cobriam a grande verga que impediam que o cordame se partisse. São 3 meses e 20 dias de fome. Chegam às ilhas que chamaram Desaventuradas por serem constituídas por rochedos inóspitos.
6 de Março
Chegada à ilha dos Ladrões (Marianas).
Mal tiveram tempo de ancorar e já várias canoas se aproximaram das naus roubando isto e aquilo. Magalhães envia a terra 40 homens armados e dá uma lição aos , queimando algumas cabanas e pilhando víveres que os salvam da morte certa.
16-17 de Março
Chegada às Filipinas (ilha de Suluan, perto da ilha de Homonhon, sendo o arquipélago denominado de São Lázaro).
28 de Março
A frota chega à ilha de Massava. É aí que Enrique, o escravo do Almirante, houve faipos da sua língua. Tinha sido o primeiro homem a dar a volta ao mundo!
4 de Abril
Magalhães cria laços com  Calambu, rei da ilha, que lhe servirá de piloto para atingir a maior ilha do arquipélago, Cebu.
7 de Abril
Após três dias a frota chega a Cebu. Magalhães cria laços de amizade com o seu rei, que chegou a ser baptizado como Carlos Humabon.
27 de Abril
Morte de Fernão de Magalhães numa batalha travada na ilha de Mactan (junto a Cebu).
A propósito de dar uma lição militar a Cilapulapu, um rajá que proibiu os seus súbditos de fornecer víveres aos estrangeiros, é morto em combate., cujo corpo covardemente não foi resgatado.
1 de Maio
Assassínio de numerosos tripulantes num banquete em Cebu.
Depois da morte de Magalhães, os navegadores caem numa cilada do rei de Cebu, a pretexto de um convite. São chacinados 29 incluindo os seus capitães e João Serrão, rechaçado à vista de todos e de João de Carvalho, agora o comandante supremo.
2 de Maio
A nau Concepcion é incendiada por falta de tripulantes
8 de Novembro
Chegada das naus Victoria e Trinidad a Tidore.

1522
25 de Janeiro
A Victoria chega a Timor
5 de Fevereiro
Fuga para Timor de Martim de Aiamonte e de Bartolomé de Saldanha, dois dos tripulantes da Victoria.
8  de Fevereiro
A Victoria deixa Timor

Depois de abastecidos com toda a riqueza que Magalhães esperava encontrar, chega a hora de regressar ao ponto de partida. Só uma nau está em condições de fazer a viagem – a de El Cano. A este conspirador contra Magalhães, no motim do porto de São Julião; traidor que quis impedir que Magalhães continuasse, cabe a sorte de acabar o que Magalhães programou, planeou e, de certa forma acabou. Porque nesse motim, Magalhães lhe concedeu indulgentemente o perdão. Gomez de Espinosa, o fiel capitão de Magalhães teve de aguardar nas Molucas enquanto a Trinidad era reparada. 
13 de Fevereiro
Localização de Timor e da ilha de Bornéu
A 13 de Fevereiro de 1522, Del Cano zarpa rumo a Sevilha de um porto de Timor. Tem de evitar os portugueses, mas já tem muita informação sobre a navegação do Índico e do Atlântico. Já não vai às cegas, enquanto Magalhães havia feito o que nenhum outro havia ainda tentado!
6 de Abril
A Trinidad parte de Tidore para Norte, com o objectivo de atravessar o oceano Pacifico e chegar a Darien no Panamá, não o conseguindo, e por essa razão regressa mais tarde às Molucas
18 de Maio
A victoria passa o cabo da Boa Esperança.
9 de Julho
A Victoria chega à ilha de Santiago (Cabo Verde).
Cambaleando de fadiga, os 31 marinheiros que restavam dos 47 embarcados em Timor, através de uma patranha são ajudados pelos portugueses em Cabo Verde, onde chegam a 9 de julho. Detectada a vigarice, poem-se em fuga, abandonando covardemente os companheiros que se haviam deslocado a terra em batel. A Sevilha chegam 18
14 de Julho
Na ilha de Santiago, os portugueses prendem 13 tripulantes da Victoria.
4 de Agosto
A Victoria passa pelos Açores
6 de Setembro
A Victoria chega a Sanlúcar de Barrameda com 18 tripulantes sobreviventes:



Juan Sebastián Elcano
Francisco Albo
Miguel de Rodes
Juan de Acurio
Martin de Yudicibus
Hernando de Bustamonte
Hans Vargue
Diego Gallego
Nicolas de Nápoles (Nicolas, o Grego)
Miguel Sanchez
Francisco Rodriguez
Juan Rodriguez
Antonio Hernadez
Juan de Arratia
Juan de Santander
Vasco Gallego (Vasco, o Português)
Juan de Zubileta
Antonio  Lombardo (Antonio Pigafetta)
                             


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