Ana Sá Lopes - jornal Público
Em quem votarão os professores nas
próximas eleições? Neste momento, já não é só o PS em risco de perder esse
grande eleitorado.
O Bloco de Esquerda e o PCP deixaram
cair a reivindicação da contagem do tempo de serviço dos professores para o
próximo Orçamento do Estado. Depois de meses de expectativa, onde pelo menos o
Bloco chegou a condicionar a aprovação do OE2019 à resolução do problema dos
professores, a um mês da apresentação do documento, tanto comunistas como
bloquistas deixaram os docentes a falar sozinhos. Jerónimo, em entrevista à
RTP, fez questão de sinalizar que não é sindicalista (um distanciamento curioso
vindo de um secretário-geral do Partido Comunista, o partido dos
trabalhadores). Catarina Martins, que tinha admitido que a questão seria
inegociável, também veio recuar – também para o Bloco o tempo de serviço dos
professores não é prioridade do Orçamento.
Por estes dias, os sindicatos de
professores pedem à esquerda que não aprove o Orçamento sem um acordo no tempo
de serviço, mas a esquerda manda-os amanharem-se sozinhos. O principal trunfo
dos sindicatos desapareceu de cena e isso prova a enorme fragilidade com que
Bloco de Esquerda e PCP partem para estas negociações do OE, o que tem sido
particularmente visível na arrogância que o PS e o Governo dedicaram
particularmente ao Bloco na semana passada – o que, de resto, não é inédito, e
tem crescido à medida que os socialistas têm percebido a sua força nas
sondagens.
Bloquistas e comunistas estão numa
situação difícil em que o poder todo de negociação parece estar do lado do
Governo que, em simultâneo, tem arrecadado a popularidade da devolução de
rendimentos, cuja maior rapidez se deve ao acordo com o BE e PCP. E resta saber
o que, no fim da legislatura, ganharão com as cedências que têm feito,
nomeadamente agora ao deixarem cair os professores, nas legislativas de 2019.
Em quem votarão os professores nas próximas eleições? Neste momento, já não é
só o PS em risco de perder esse grande eleitorado.
P.S.: Os relatórios da OCDE sempre
tiveram neste país, nomeadamente no tempo da troika, o encanto de colocar
pobres contra pobres. Com o recente Education at a Glance, mais uma vez se
confirmou. A ideia de que os professores são ricos é apenas delirante – felizmente,
não ganham como tantos licenciados neste país, apenas o ordenado mínimo.
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