Nos relevos do templo de Deir el- Bahri, perto de
Tebas, existe uma inscrição que narra a viagem da rainha Makare Hatshepsut ao
país do Ponto. Essa inscrição refere que terá sido a primeira viagem naval dos
Egípcios a esse país. Não é verdade. O problema é que a rainha egípcia apenas
fez reabrir uma rota de que os Egípcios já se tinham esquecido.
As descobertas (e aqui referi-mo-nos, em maior grau,
aos conhecimentos geográficos) humanas nunca foram adquiridas de uma vez para
sempre. Foram obtidas, perdidas e reencontradas. Perdidas uma vez mais e
reencontradas de novo, durante os séculos e os milénios, devido a uma
multiplicidade de causas.
Mesmo hoje (com os satélites), o Homem não conhece
verdadeiramente o planeta. Tem ainda que descobrir e redescobrir certas zonas
do mesmo, embora lá haja gente a viver e tenha um conhecimento directo das
mesmas. Zonas geográficas como o Tibete, Sibéria, e até em África. E quando se
fala em descobertas, está-se a falar em relação à nação que empreende a acção.
Na verdade, as primeiras viagens dos Egípcios ao país
do Ponto estão registadas na Pedra de
Palermo, realizadas há cerca de 4.500 anos, pelo faraó Sahure! Mas os
Egípcios do tempo da rainha Makare Hatshepsut já se haviam esquecido delas.
Tinham passado 13 dinastias! E ter-se-iam esquecido das de Henenu, quando no
oitavo ano do reinado de Sankhkare Mentuhope III, com três mil egípcios deu
início a um dos mais fascinantes capítulos da história da descoberta da terra.
Terá sido Heneneu o percursor de todos aqueles que posteriormente se
sacrificaram pelo desejo de conhecimento, espírito de aventura, ou, ainda e
apenas, pelo sentido do dever, nas terras e nos mares do planeta.
Ainda no Egipto Antigo, temos notícia das viagens de
Harkhuf, na segunda metade do século XXII a. C., atingindo o lago de Alberto,
em direcção ao Equador, nas florestas do Congo.
No século VI a.C., o faraó Necao II seria o
protagonista de uma das mais extraordinárias aventuras exploratórias da
história marítima: a circum-navegação do continente africano, de Leste para
Oeste. Recordação transmitida por Heródoto (Histórias,
IV.42). Esta viagem envolta em mistérios ainda não resolvidos pela
historiografia, durou três anos e os marinheiros eram fenícios. Nos finais do
século II a.C., encontram-se nas águas africanas Eudóxio, o grego, figura
enigmática e de quem os contemporâneos contavam as mais diversas histórias.
Deste mundo antigo, fazem parte dois almirantes cartagineses que exploraram a
costa africana: Hanon e Himilcon. E cerca de um século e meio mais tarde
(finais do século IV a.C.) sobressaiu nestas viagens exploratórias de
descoberta outro grande navegador, o maior navegador do mundo Antigo: o grego
Pitea.
Quando os Portugueses se lançaram na expansão marítima,
todos estes navegadores antigos, e todos estes empreendimentos, faziam parte de
um mundo longínquo de que já nem a memória servia. Não havia recordação desses
feitos. Os textos que existiam estavam perdidos. E pouco ou nada sobre o
conhecimento dessas regiões, tinha sido registado. Havia uma informação aqui e ali que tinha sobrevivido na memória dos tempos por causas desconhecidas (ou conhecidas?).
Quando os Portugueses se atiraram ao Atlântico, tudo era novo para a Europa. O que a Europa conhecia eram as rotas terrestres e até ao Golfo Arábico, via rota interior africana – porque era por essa rota que os genoveses comerciavam com os muçulmanos do Índico.
Quando os Portugueses se atiraram ao Atlântico, tudo era novo para a Europa. O que a Europa conhecia eram as rotas terrestres e até ao Golfo Arábico, via rota interior africana – porque era por essa rota que os genoveses comerciavam com os muçulmanos do Índico.
Tudo o que fazia parte da costa atlântica e da costa do Índico, até ao Golfo Arábico, era novo. Como era o Brasil, a América Central e a América do
Norte. Nesse sentido, os Portugueses descobriram algo de novo. Na verdade, à
época, para os europeus, os Portugueses descobriram, por exemplo, o Congo, ou
Angola. Porque para a Europa da época eram desconhecidos! Embora já lá
estivessem. E embora estivessem povoados pela sua gente.
Porque razão então, o país se viu a braços com a
polémica do nome do futuro museu lisboeta (das descobertas, ou dos
descobrimentos)?
Pura ideologia! E esta nada de bom trás ao
conhecimento.
E isto bastava para, num país decente, o dito museu se chamar das descobertas, ou dos descobrimentos. Como estamos no 5º país mais corrupto da Europa (ou do mundo), levanta-se uma polémica sem razão e fundamento.
Actualizado a 4 de Setembro de XVIII
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