domingo, 2 de setembro de 2018

As descobertas … e o seu museu (Lisboeta)


Nos relevos do templo de Deir el- Bahri, perto de Tebas, existe uma inscrição que narra a viagem da rainha Makare Hatshepsut ao país do Ponto. Essa inscrição refere que terá sido a primeira viagem naval dos Egípcios a esse país. Não é verdade. O problema é que a rainha egípcia apenas fez reabrir uma rota de que os Egípcios já se tinham esquecido.
As descobertas (e aqui referi-mo-nos, em maior grau, aos conhecimentos geográficos) humanas nunca foram adquiridas de uma vez para sempre. Foram obtidas, perdidas e reencontradas. Perdidas uma vez mais e reencontradas de novo, durante os séculos e os milénios, devido a uma multiplicidade de causas.
Mesmo hoje (com os satélites), o Homem não conhece verdadeiramente o planeta. Tem ainda que descobrir e redescobrir certas zonas do mesmo, embora lá haja gente a viver e tenha um conhecimento directo das mesmas. Zonas geográficas como o Tibete, Sibéria, e até em África. E quando se fala em descobertas, está-se a falar em relação à nação que empreende a acção.
Na verdade, as primeiras viagens dos Egípcios ao país do Ponto estão registadas na Pedra de Palermo, realizadas há cerca de 4.500 anos, pelo faraó Sahure! Mas os Egípcios do tempo da rainha Makare Hatshepsut já se haviam esquecido delas. Tinham passado 13 dinastias! E ter-se-iam esquecido das de Henenu, quando no oitavo ano do reinado de Sankhkare Mentuhope III, com três mil egípcios deu início a um dos mais fascinantes capítulos da história da descoberta da terra. Terá sido Heneneu o percursor de todos aqueles que posteriormente se sacrificaram pelo desejo de conhecimento, espírito de aventura, ou, ainda e apenas, pelo sentido do dever, nas terras e nos mares do planeta.
Ainda no Egipto Antigo, temos notícia das viagens de Harkhuf, na segunda metade do século XXII a. C., atingindo o lago de Alberto, em direcção ao Equador, nas florestas do Congo.
No século VI a.C., o faraó Necao II seria o protagonista de uma das mais extraordinárias aventuras exploratórias da história marítima: a circum-navegação do continente africano, de Leste para Oeste. Recordação transmitida por Heródoto (Histórias, IV.42). Esta viagem envolta em mistérios ainda não resolvidos pela historiografia, durou três anos e os marinheiros eram fenícios. Nos finais do século II a.C., encontram-se nas águas africanas Eudóxio, o grego, figura enigmática e de quem os contemporâneos contavam as mais diversas histórias. Deste mundo antigo, fazem parte dois almirantes cartagineses que exploraram a costa africana: Hanon e Himilcon. E cerca de um século e meio mais tarde (finais do século IV a.C.) sobressaiu nestas viagens exploratórias de descoberta outro grande navegador, o maior navegador do mundo Antigo: o grego Pitea.



Quando os Portugueses se lançaram na expansão marítima, todos estes navegadores antigos, e todos estes empreendimentos, faziam parte de um mundo longínquo de que já nem a memória servia. Não havia recordação desses feitos. Os textos que existiam estavam perdidos. E pouco ou nada sobre o conhecimento dessas regiões, tinha sido registado. Havia uma informação aqui e ali que tinha sobrevivido na memória dos tempos por causas desconhecidas (ou conhecidas?).
Quando os Portugueses se atiraram ao Atlântico, tudo era novo para a Europa. O que a Europa conhecia eram as rotas terrestres e até ao Golfo Arábico, via rota interior africana – porque era por essa rota que os genoveses comerciavam com os muçulmanos do Índico. 
Tudo o que fazia parte da costa atlântica e da costa do Índico, até ao Golfo Arábico, era novo. Como era o Brasil, a América Central e a América do Norte. Nesse sentido, os Portugueses descobriram algo de novo. Na verdade, à época, para os europeus, os Portugueses descobriram, por exemplo, o Congo, ou Angola. Porque para a Europa da época eram desconhecidos! Embora já lá estivessem. E embora estivessem povoados pela sua gente.
Porque razão então, o país se viu a braços com a polémica do nome do futuro museu lisboeta (das descobertas, ou dos descobrimentos)?
Pura ideologia! E esta nada de bom trás ao conhecimento.


Quer queiram, quer não queiram, os Portugueses, à época, para a Europa, descobriram um mundo novo! Um mundo desconhecido dos Europeus! Porque para os Europeus apenas existiam mitos como o do Adamastor. Os portugueses provaram o contrário, trazendo um conhecimento cientifico novo ao continente europeu. Descobriram que as histórias como a do Adamastor eram apenas mitos, não existiam.
E isto bastava para, num país decente, o dito museu se chamar das descobertas, ou dos descobrimentos. Como estamos no 5º país mais corrupto da Europa (ou do mundo), levanta-se uma polémica sem razão e fundamento.
Actualizado a 4 de Setembro de XVIII

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