Luís Rosa - OBSERVADOR
21/7/2018
Ex-primeiro-ministro ataca Rui Rio e Carlos César e
defende o seu ex-ministro da Economia em artigo de opinião publicado no
Expresso.
“Esgar de rejeição” — é o título do novo
artigo de opinião publicado por José Sócrates. O ex-primeiro-ministro escolheu
o Expresso para defender Manuel Pinho, seu ministro entre 2005 e 2009, das
críticas a que tem sido sujeito por ter optado pelo silêncio no Parlamento no
que diz respeito às suspeitas de de ter recebido mais 500 mil
eurosde uma sociedade offshore secreta do Grupo Espírito
Santo enquanto foi titular da pasta da Economia do Governo Sócrates. Entre 2002
e 2014, Pinho terá recebido cerca de 2,1 milhões de euros. da Espírito Santo
(ES) Enteprises, o famoso saco azul do GES.
Sobre os fundos recebidos do GES, José
Sócrates nada disse. O ex-primeiro-ministro optou por criticar Rui Rio, líder
do PSD, e Carlos César, líder parlamentar do PS, por terem criticado o silêncio
de Manuel Pinho na Comissão Parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas.
“À hora de jantar, um líder político resolve
expor, resplandecente, a sua política de justiça: se um cidadão reclama o
direito a defender-se apenas depois de conhecer a acusação, já nem precisamos
de ouvir mais, escusa de cá vir outra vez, o silêncio condena-o imediatamente”,
escreve Sócrates, referindo-se a Rui Rio sem mencionar o seu nome.
Recorde-se que a chamada de Manuel Pinho
foi uma iniciativa do PSD anunciada por Rio em abril após o Observador
ter noticiado em exclusivoque Pinho tinha recebido
mais de 500 mil euros da ES Enterprises enquanto foi ministro de José Sócrates.
Já Carlos César, que também logo em
maio criticou duramente Manuel Pinho e voltou
a repetir as suas críticas após a ida do ex-ministro independente do Governo
Sócrates, também mereceu um reparou de José Sócrates. “À noite, ainda nesse
dia, é possível ouvir um líder parlamentar dizer que o convidado, que se
limitou a cumprir o que combinou e a aguentar a deslealdade parlamentar, não se
sabe comportar com deputados — foi arrogante e incorreto”, afirma, em tom
irónico, Sócrates.
Recorde-se que José Sócrates foi acusado
de 31 crimes (três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16
de branqueamento de capitais, 9 de falsificação de documentos e três de fraude
fiscal qualificada) no final do inquérito da Operação Marquês. No centro da acusação
do Ministério Público está o alegado facto de Carlos Santos Silva, alegado
testa-de-ferro de Sócrates, ter recebido alegadamente em nome do
ex-primeiro-ministro cerca de 24 milhões de euros em contas na
Suíça como contrapartida de alegados favorecimentos concedidos ao Grupo
Espírito Santo liderado informalmente por Ricardo Salgado. Uma parte
desses fundos foram transferidos pela ES Enterprises, a mesma empresa secreta
do GES que transferiu entre 2002 e 2014 um total de cerca de 2,1
milhões de euros para Manuel Pinho.
Já Manuel Pinho foi constituído arguido
por suspeitas de corrupção e de participação económica em negócio no caso EDP
em julho de 2017, tendo a sua condição processual sido anulada em maio deste ano pelo juiz de
instrução criminal Ivo Rosa. O Ministério Público recorreu da decisão para a
Relação de Lisboa e notificou Pinho para prestar declarações na parte da manhã
do dia em que o ex-ministro da Economia foi chamado ao Parlamento. Ricardo
Sá Fernandes, advogado de Pinho, interpôs um incidente de recusa dos
procuradores que investigam o caso EDP junto do diretor do Departamento Central
de Investigação e Ação Penal — incidente processual que impediu a realização do interrogatório.
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