terça-feira, 20 de março de 2018

Velhos ou idosos?



 
JORGE LAGE
Hoje, os investigadores que estudam a terceira e a quarta idade rejeitam a palavra «idoso» por ser discriminatória. Acho que é uma forma da sociedade egoísta «dourar a pílula» ou tapar as misérias de um abandono de muitos dos que somos velhos. A situação é tal que muitos ficam ofendidos de lhe chamarem idosos. Na sociedade angolana, por exemplo, velho é sinónimo de saber mais, ter mais experiência de vida e de dar bons conselhos. Em antítese, os portugueses olham, no geral, para os velhos como pessoas arrumadas para um canto ou então postos em magotes nos asilos. As ditas «Universidades Séniores» são, em muitos casos, mais uma pirosice e uma forma dos adultos académicos manterem os muros da universidade fechados a quem quer saber mais. Alguns ramos do saber nas universidades fazem-me lembrar a lógica da «pescadinha de rabo na boca». Isto é, aconselham aos estudantes os livros que eles leram ou escreveram. Sendo assim, o saber pouco avança. Felizmente nem tudo é assim. Voltando aos velhos, qualquer pessoa devia ter as portas das universidades abertas para se matricular neste ou naquele ramo, ou nesta ou naquela cadeira e fazer exames, ou não, se o desejasse. A velhice é uma etapa da vida e cada vez mais é vista com receio, pelos que lá vão chegar. Um velho, na maioria das famílias, tem menos valor do que um cão. Vêem-se imensos cães passeados pelos donos, três ou quatro vezes por dia. Há dinheiro para os cães irem ao veterinário ou à clínica, comerem bem ou terem mimos e ocuparem os melhores lugares. Tenho um amigo que dorme com o cão dentro dos lençóis. Fá-lo-ia com um familiar velho? Não iria arranjar uma séria de desculpas, dizendo-lhe que estaria melhor num asilo moderno. Aliás, soi dizer-se: «- ninguém quer ser velho, mas todos querem lá chegar». Dá jeito dizer-se que «quando morre um velho perde-se uma biblioteca viva». Poucos são os que aproveitam as nossas «bibliotecas vivas», de saber de experiência secular ou milenar feita. Já visitei perto de uma centena de Lares/asilos e Centros de dia/convívios. Talvez saiba um pouco do que falo.

1 comentário:

  1. Caro Amigo Dr. Jorge Lage,
    Muito pertinente este seu texto sobre os velhos. E a nota final com o seu profundo "conhecimento de campo", que são poucos os que aproveitam as "bibliotecas vivas", é uma verdade inquestionável nesta sociedade onde se nomeiam "especialistas" com vinte poucos ou trinta e tais anos de idade, só porque já têm mestrados, doutoramentos, etc. e tal.
    Um abraço

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