BARROSO da FONTE |
A imprensa do dia 7 do corrente,
publicitou «o regresso, meio século depois» de um paraquedista morto em Angola
em 1962. Chegou de avião e foi recebido
na sua terra natal, em Lobão da Beira, por ex-combatentes e alguns
«Boinas Verdes» a que ele pertencera. O JN desse dia mostrou, em texto de
Sandra Ferreira e foto expressiva de Tony Dias/Global imagens, um ambiente
pesaroso e frio, sem oficialidades e sem um mínimo de respeito por parte das
entidades civis e militares.
No relato do JN escreve-se:
«chegaram ontem, ao fim de 55 anos, os restos mortais de António Silva, um
soldado paraquedista português abatido a tiro em Angola, na Guerra do Ultramar,
ao cemitério de Lobão da Beira. A urna entrou no cemitério com dezenas de
paraquedistas a cantar o hino dos Boinas Verdes. O militar morreu em
combate a 19 de Setembro de 1962, no Ucua, em serviço do Regimento de Caçadores
Paraquedistas de Tancos e a trasladação foi tratada pela União de
Paraquedistas, em colaboração com a Força Aérea Portuguesa e o Regimento de
Paraquedistas da Brigada de Reação Rápida do Exército Português.
Quando o soldado morreu, a
família não tinha posses para transladar o corpo, que acabou sepultado em
Luanda». Nessa altura já o militar tinha uma filha que entretanto passou a
residir nos Estados Unidos. Ernestina Silva, filha única, desde criança,
pretendia transladar o corpo para Seixal
da Beira, do concelho de Oliveira do Hospital. O processo começou a ser
tratado «há nove anos de luta». Lê-se nessa mesma fonte que a «União dos
Paraquedistas fez um peditório, juntando cinco mil euros. A filha contribuiu
com mais 2.500 euros». Uma vergonha para o Estado Português!
Leu-se, ainda que «o Estado
abandonou os soldados que lutaram pela Pátria, quando a sua obrigação era
trazer para Portugal os restos mortais de todos os que tombassem no campo da
batalha. Isidoro Esteves, da União de Paraquedistas, disse que ainda existem
quatro ou cinco soldados portugueses em Luanda. Mas as famílias não têm meios
para conseguirem trazê-los. E a reportagem cita ainda António Silva que foi
companheiro de Leonídio Melo, na recruta que ambos fizeram em Tancos. E também
participou nesse velório, 55 anos depois, António Ferreira Mendes, que fora seu
colega na Escola Primária, garantindo que o mártir Português era o mais
inteligente de todos. Esta notícia, a 55 anos de distância, vai passar
despercebida à generalidade dos Portugueses que, ignoram tão amarga, cruel e
injusta geração dos anos 60/70, do último século.
As
gerações que se seguiram e sem culpa nenhuma, foram intoxicados com uma
revolução mal explicada, intencionalmente dirigida contra os protagonistas
dessas quase duas décadas de guerra, primeiro na Índia e a seguir em África e
Timor. Está por explicar esse período negro da História de Portugal, mormente
entre 1955 e 1974. Foram a inveja, a raiva e o medo de uma classe que saía das
academias militares, para ostentar os peitos e os ombros, medalhados até às
orelhas e que viam perigar esse estatuto, pela quantidade de milicianos que
regressavam e, em conformidade com uma legislação de recurso, optavam por
ingressar nos quadros. Não para concorrerem, com os profissionais. Mas porque
regressavam preparados, experimentados e conscientes de que as tais academias formadoras
que lhes incutiam no espírito de classe, garbosa e elitista, não produziam
quantidade suficiente para garantirem comandos suficientes nas diferentes
frentes de combate.
Os milicianos pensavam, legitimamente no seu
futuro e no futuro da integridade nacional. Eram convocados, forçados,
intimidados a comparecer às ordens do recrutamento. Obtinham uma formação
intensiva, teórica e prática. Deixavam tudo e todos. Nos anos de serviço
obrigatório demonstravam que tinham perfil para prosseguiram, agora por vontade
própria. Não o faziam com o espírito de deslealdade ou de competição com os
profissionais. Haviam servido, em média, dois anos em teatro de operações. Aí
não se discutiam a competência, a hierarquia e a idoneidade. Nas academias já
não se concluíam os cursos de formação. As fornadas eram intensivas porque
faziam falta nos comandos de companhias. Para o comando de pelotões e de
secções bastavam os milicianos. Estes eram «os piões das nicas» que durante
esses anos de guerrilha, perderam a família, o emprego e os cursos
universitários, para servirem, como burros de carga, os «capitães» que
invocaram o descontentamento do povo, para, em nome da reivindicação de classe
e com a valentia das armas na mão, imporem as suas teorias revolucionárias.
Que um golpe de estado, ou ação
consertada, entre o poder das armas e da sociedade civil era necessário e
urgente ninguém o contesta. Mas que os «capitães» ditos heróis de Abril,
elegeram para vítimas maiores os milicianos também é verdade que nunca foi
contada nas escolas, nas empresas, em jornais, rádios e televisões.
O que se viu é que essa geração de militares,
enquanto tiveram armas, mandatos de prisão sem assinatura e poder nas mãos,
espalharam medo em todas as classes. Prevaleceu o bom senso. Mas foram os oficiais
superiores e generais da época que viram interrompidas as suas legítimas
carreiras e os milicianos e soldados em geral, que sofreram e ainda sofrem as
consequências dessas formadas
ideológicas. Houve honrosas exceções. Mas o desprezo oficial, a crueldade
do esquecimento e o medo às armas que ditaram este holocausto que leva 43 anos
de injustiça social e política.
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