O livro
Volta a Portugal de Álvaro Domingues é fulminante. Desafio quem quer que seja a
não o ler de uma assentada. Fala de coisas muito sérias – das maneiras como
mentimos a nós próprios sobre o território que ocupamos –, mas está tão bem
apanhado e escrito que é um enorme prazer lê-lo.
Como
todas as obras-primas é difícil classificá-lo. É um livro de maravilhosas
fotografias surrealistas, tiradas, escolhidas e legendadas com um delicioso e
seco sentido de humor. Álvaro Domingues trabalha na parte mais difícil do
espectro literário: na tragédia cómica. Tanto rimos como choramos: não há nada
no meio. Não há sermões, panaceias, chouriços, palha, jargão, wikipedantismos,
chatice ou sectarismo, perdão ou voluntarices.
É um
livro genial de citações tão inesperadas e imprevisíveis como os retratos de
Portugal escritos pelo autor. Estes só parecem muito curtos porque queremos que
continuem. Têm o tamanho que têm porque estão tão bem escritos e reescritos que
contêm o essencial, dito com o brilho e a incidência dos relâmpagos.
Também
na colecção de citações, tão habilmente equilibrada, só apetece rir e chorar.
Volta a Portugal é verdadeiramente um livro sensacional: emprego literalmente,
sem exagero, tanto o advérbio como o adjectivo.
Seria
uma típica tragédia achar-se que Volta a Portugal é um livro importante que
todos nós temos de ler. Qual quê! O livro é divertidíssimo. É urgente ter um
exemplar à mão porque é um daqueles raros livros que não pára quieto. Viva
Álvaro Domingues!
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