sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A nossa cara


Miguel Esteves Cardoso - Público

O livro Volta a Portugal de Álvaro Domingues é fulminante. Desafio quem quer que seja a não o ler de uma assentada. Fala de coisas muito sérias – das maneiras como mentimos a nós próprios sobre o território que ocupamos –, mas está tão bem apanhado e escrito que é um enorme prazer lê-lo.
Como todas as obras-primas é difícil classificá-lo. É um livro de maravilhosas fotografias surrealistas, tiradas, escolhidas e legendadas com um delicioso e seco sentido de humor. Álvaro Domingues trabalha na parte mais difícil do espectro literário: na tragédia cómica. Tanto rimos como choramos: não há nada no meio. Não há sermões, panaceias, chouriços, palha, jargão, wikipedantismos, chatice ou sectarismo, perdão ou voluntarices.
É um livro genial de citações tão inesperadas e imprevisíveis como os retratos de Portugal escritos pelo autor. Estes só parecem muito curtos porque queremos que continuem. Têm o tamanho que têm porque estão tão bem escritos e reescritos que contêm o essencial, dito com o brilho e a incidência dos relâmpagos.
Também na colecção de citações, tão habilmente equilibrada, só apetece rir e chorar. Volta a Portugal é verdadeiramente um livro sensacional: emprego literalmente, sem exagero, tanto o advérbio como o adjectivo.
Seria uma típica tragédia achar-se que Volta a Portugal é um livro importante que todos nós temos de ler. Qual quê! O livro é divertidíssimo. É urgente ter um exemplar à mão porque é um daqueles raros livros que não pára quieto. Viva Álvaro Domingues!


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