Tive há
dias a visita de um conterrâneo meu que não via há anos, pese de vez em
quando nos comunicarmos telefonicamente. Falo do Mário do Ervedeiro, um
mondinense da velha guarda que não sendo da classe dos bachareis, é do grupo
dos que prezam as origens e os valores históricos e culturais da terra onde
nasceram e se mantêm ligados de maneira carinhosa. Natural de São Cristóvão de
Mondim de Basto, onde no lugar do Ervedeiro nasceu, a 5 de Dezembro de 1948, o
Mário que tomou por alcunha o lugar de nascimento, tem costela materna na minha
freguesia, pois a mãe Beatriz Gonçalves Miradouro, de saudosa memoria viu, pela
primeira vez, a luz do dia no "Bordalém" (Bairro de Além) em Vilar de
Ferreiros. Conhecia-a, assim como o marido, Joaquim António Machado, natural de
Atei, quando caseiros do Abade Miranda, em Vilar.
Mas é do Mário e do motivo que o moveu desta
vez para me visitar que vou falar. Vinha munido de papéis e empurrado pelo
desejo de ver realçado o nome de quem se destacou na defesa daqueles que ficaram
nos seus postos de ocupação, ora mais perto, ora mais afastados do cenário de
guerra onde se desenrolaram as operações militares da 1ª Grande Guerra Mundial,
como foi o caso do soldado Alfredo Machado que combateu em França. Este
combatente que foi "prisioneiro de guerra", era natural de Atei, onde
nasceu a 27 de Dezembro de 1895 no lugar da Barroca. Era filho de Bento Machado
e de Maria Amélia Portela de Figueiredo, residentes nesse local. Alistado a 16
de Agosto de 1915, embarcou para França em 23 de Setembro de 1917, após
regressar ao país foi licenciado a 30 de Agosto de 1919, passando entretanto á
reserva activa a 31 de Dezembro desse mesmo ano. Em França combateu e batalhou
por forma a merecer ser distinguido com a "Medalha Militar de Cobres",1917/1918.
Terá sido também um dos combatentes do 9 de Abril na Batalha de La Lys, onde o
nosso transmontano "Milhões" se notabilizou. Na terra constou ter
morrido na guerra, por isso ganhou o alcunha do “ Morto vivo”.
Certo é que se trata de um daqueles mondinenses
que honraram a terra e a gente deste concelho e da região de Basto, sem fazer
alarido, mas apenas guiado pelo dever de cidadania e nobreza de carácter
tí¬pico do povo honrado e laborioso. Foi isso que fez o neto vir ter comigo
para me falar do seu avô. E não só, do avô, também de um tio paterno que no
Brasil se tornou figura estimada e reconhecida pelo seu espírito empreendedor e
generoso. Cedo emigrou para o Brasil, tendo-se fixado em Tauá, um município
brasileiro do estado de Ceará, na região nordeste do país. Começando por
vendedor de pão, de Portugal levava umas luzes de carpintaria em que foi
iniciado. Isto lhe foi muito útil pois além do jeito para o comercio de
merceeiro e de negociante em ferro-velho, o Sr. Alfredo Machado - tinha o nome
do pai - foi um apaixonado por projectos de construção que sempre conciliou com
as demais actividades. A sua coroa de glória surge em 1976 quando vê a
construção da igreja de Nossa Senhora de Fátima, na estrada do Dendê, obra que
planejou e foi director responsável. Faleceu a 31 de Outubro de 2015. Ao Mário
Machado, neto de um Alfredo e sobrinho doutro, os meus parabéns por se lembrar
de mondinenses que a história local ignora mas que por onde passaram marcaram e
honraram destacadamente as suas origens.
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