A moderna Catalunha ou Catalunya tem
a forma de um triângulo. A parte superior do mesmo segue a fronteira dos
Pirinéus e dá para o antigo condado francês de Foix. O lado costeiro vai até
Valência, passando por Barcelona e pela Costa Dourada. O lado interior liga a
parte mais a sul do litoral ao ponto mais ocidental, nas montanhas.
São vários os vizinhos deste antigo
condado, e revelam complexidades geográficas, históricas e linguísticas. A oeste de Pallars localizam-se Sobrabe e
Ribagorza (língua espanhola); a norte, situa-se Vall d’Aran, apenas acessível
por túnel, e embora situado no lado francês, pertence a Espanha. Aí se fala uma
língua peculiar que combina elementos bascos e neolatinos. A Leste situa-se o
Principado de Andorra, um dos estados mais antigos da Europa. Desde 1278.
A sul do Perpinhão é o melhor local
para compreender essa região geográfica – na fronteira fraco-espanhola. O
mediterrâneo ilumina-nos o rosto, à direita surge a cordilheira para Andorra e
para os Pirinéus Centrais. O Rossilhão e a Cerdanha ficam atrás de quem
observa, seguindo-se o Languedoc. E à frente as íngremes montanhas da
Catalunha. Barcelona não é visível.
Tanto Paris como Madrid, à altura da
formação destas regiões, estavam longe. E os habitantes de ambos os lados dos
Pireneus tornaram-se súbditos de um único rei, e beneficiários de uma única
comunidade politica.
O nome desse reino deve-se à
existência do pequeno rio de Aragão. Foi ali, nos finais do primeiro milénio,
que os senhores cristãos, iniciaram a Reconquista contra os Mouros. Esse
conjunto de senhorios cristãos (grandes e pequenos), nasceu quando os Franccos
atravessaram os Pireneus para travar o avanço do Islão. A campanha de Carlos
Magno, em 778, ficou registada num poema épico escrito em francês antigo, a
Canção de Rolando.
A retirada de Carlos Magno de Saragoça culminou no combate heróico do desfiladeiro de Roncesvales, que
imortalizou Rolando e Oliver.
O perigo do avanço do Islão, obrigou
o rei dos Francos a criar quatro zonas-tampão militares: a Marca de Gasconha, a
Marca de Toulouse (que incluía Andorra), a Marca de Gótia, e a Marca Hispânica,
constituída por 16 condados, controlados por comissários militares (comitatus). O primeiro foi Rossilhão, em
760, e o último foi Barcelona, em 801. O elemento visigótico era bem visível
nas gentes destes condados. Foi nesta mescla de culturas franca, ibérica e
gótica, que a Catalunha derivou a sua língua e o seu carácter.
Os Francos acabaram por retirar dando
inteira liberdade aos senhores cristãos dos Pirenéus. Uma das senhorias mais
importantes da antiga Marca hispânica centrava-se no Condado de Barcelona, que
deixou de estar subordinado ao império dos Francos, depois de os Carolíngios
darem lugar aos Capetos. Outra, era o domínio de Sancho, o Grande, de Navarra (m. 1035), que governava um extenso território
de ambos os lados dos Pirenéus. A sua capital era Pamplona, localizada no
coração basco, que nunca se tinha submetido ao domínio estrangeiro. Sancho teve
cinco filhos, e assumiu o titulo de “Rei de todas as Espanhas”, tornando-se, de
seguida, “Imperador de Espanha”. Após a sua morte, seu filho Ramiro apoderou-se
de Sobrabe e Ribagorza, unindo-os a Aragão, sendo proclamado rei. O reino de Aragão não sofreu contestação durante um século. A cidade de Jaca, antiga base
carolíngia, foi adoptada, em 1063, como sede do primeiro bispado aragonês.
No inicio, o jovem Reino de Aragão
tinha poucas hipóteses de sobrevivência, entalado que estava entre dois reinos
poderosos como Castela e Leão, o forte emirato de Saragoça e, para além de
Ribagorza, o flanco oriental da antiga Marca, dominado pelos condes de
Barcelona. Este sentimento de insegurança, levou-o a unir forças com os seus
vizinhos. Primeiro com Navarra, depois com Castela e finalmente com Barcelona.
Os aspectos históricos e culturais
iniciais de Aragão foram muito específicos. Começou como pátria da tribo
celtibérica pré-romana dos hergertes, nunca pertenceu à região basca e nunca
foi sujeito a um povoamento mouro considerável ou às influências francas
evidentes na Catalunha. No conjunto dos idiomas da Península, a sua língua era
distinta. Mas não possuía o potencial comercial da Catalunha.
Aragão teve um papel muito importante
na Reconquista e, em alguns casos, como em 1064, aliado à Catalunha.
Depois da morte de Afonso I, o
Batalhador, que por casamento estava ligado a Castela, Aragão (num processo
complicado que agora não interessa explorar) teve uma herdeira, Peyronella,
filha do irmão monge de Afonso. Em 1137, em Saragoça, com um ano de idade foi
prometida a Berengário IV de Barcelona, de 24 anos de idade. A menina
permaneceu rainha e o marido adoptou o título de “príncipe de Aragão”. Num
segundo tratado estipulou-se que Aragão e Barcelona mantivessem os costumes,
instituições e títulos e que na eventualidade da morte de um dos titulares,
ambos os Estados seriam transferidos para o outro. O filho de Petronilha e
Berengário, Raimundo, ao subir ao trono, descartou o seu nome catalão e assumiu
o titulo de “Afonso III de Aragão e I de Catalunha”.
Esta união do reino e do condado teve
consequências. Ao mesmo tempo que o recém-emergente reino de Portugal,
Aragão-Barcelona constituiu um contrapeso significativo a Castela. Não foi por
acaso que a filha mais velha do principe Raimundo e da rainha Petronilha foi
dada em casamento a Dom Sancho I, o
Povoador (r. 1185-1211), o segundo rei de Portugal. Contudo, o reino e o
condado continuaram a ser parceiros estranhos. Ambos preservaram as suas
próprias leis, cortes e língua. O aragonês não era muito diferente do
castelhano, já o catalão se parecia com o occitano do Languedoc, região onde
foram perseguidos os Cátaros. Barcelona fundada pelo irmão de Aníbal no século
III a. C. e libertada dos mouros por Carlos Magno, era muito mais venerável do
que Saragoça. A Casa Berengário, sucessora de uma linhagem de 24 condes de
Barcelona desde o principio do século IX, era mais importante do que a de
Ramiro. Desde a época do primeiro conde, Bera (r. 801-820), filho de um
seguidor de Carlos Magno, Guilherme de Toulouse, que o seu território era
sólido de terras. Ou seja, a parte catalã do reino conjunto era maior, mais
antiga e mais rica.
Esta monarquia complexa, surgiu na
cena europeia na época dos trovadores e o culto do “amor cortês”. Situava-se no
coração de uma região formada pela Aquitânia, o Languedoc e a Provença, onde
floresceram os trovadores.
Posto isto, conclui-se que a
Catalunha em si, nunca foi um estado soberano – independente. Mas manteve
sempre as suas características com autonomia.
Mas isso é assunto para ser resolvido
pelos Espanhóis.
Contudo, advertimos para o seguinte:
O que será da Europa se os antigos condados e reinos formados depois da
desagregação do Império Romano, resolverem agora pedir a independência?
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