segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Almas Mortas


Como Gogol idealizou esta obra está bem explicado no pequeno prefácio do volume por um dos seus tradutores: Filipe Guerra.
O período aí retratado é o da Rússia dos servos e senhores (como nos conta Tolstoi no seu belo conto “Servo e Senhor”).
Diz-se que o escritor russo (ucraniano) não pretendeu fazer uma critica ao sistema. Nós pensamos o contrário. Além do fino humor, Gogol é sarcástico ao contar as aventuras de Tchítchikov, o herói do volume, um burocrata afastado do serviço público por desonestidade, nas suas andanças pelo interior da Rússia, à procura da fortuna. Os seus contactos com as autoridades das pequenas cidades e dos proprietários de terras, servem de pano de fundo para Gogol apresentar uma visão crítica e mordaz do sistema semi-feudal existente à época, com os servos vivendo em regime de escravidão.
O volume trata de uma história insólita.  Pável Ivánovitch Tchítchicov percorre o interior da Rússia em busca de dinheiro, respeito e vantagens, mas com um plano bizarro e nada licito: comprar almas mortas.
A época em que a narrativa se concentra era caracterizada por aspectos pouco compreensíveis para os nossos dias. Os campos russos eram divididos em grandes propriedades, e os "pomiêchtchiki" (donos de grandes propriedades rurais) eram donos de muitas almas (os servos, que trabalhavam a terra, sem nunca a possuir).
O protagonista desta história é um oportunista medíocre e um mentiroso nato, mas manipulador das características humanas. Molda-se ao carácter das pessoas socialmente influentes, enganando-as. Um golpista!
Mesmo inacabado, o volume é um marco na Literatura Russa, com um final cujo desfecho depende do leitor. Com linguagem simples, um enredo bem estruturado, Gogol apresenta na narrativa um estudo perfeito do ser humano. Característica, aliás, visível em todos os grandes escritores russos.

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