BARROSO da FONTE |
Em 24 de Junho de 2014
foi apresentado no Paço dos Duques de Bragança, o Aparato Histórico sobre a
Santidade do nosso I Rei D. Afonso Henriques. Essa apresentação fez parte do
programa comemorativo dos 886 anos da
Batalha de S. Mamede. Essa obra chegou a
ser mencionada pelos poucos Historiadores que dela souberam, como «a primeira
História de Portugal». Foi escrita em Roma, como tese de doutoramento de José Pinto
Pereira, nascido em Guimarães (31/3/1659 -17/2/1733) e destacado para o
Vaticano, onde permaneceu 29 anos, como Cavaleiro da Ordem de Cristo. Este
padre Vimaranense já nessa altura ouvia diferentes «estórias», acerca do
primeiro Vimaranense. E por isso se dispôs a recontar a vida desse Português
que fundou o País que fomos.
O júri aprovou a tese desse Teólogo, incluindo
o Papa Bento XIII que deveria iniciar, em 1728, o processo de beatificação,
perante a conclusão científica de que ele fora «Pio, Beato e Santo». Essa obra
ficou conhecida como Apparatus Historicus. O livro fora escrito, em latim, como
era comum, a esse tipo de obras relacionadas com a religião. O título em versão
portuguesa, era usual nessa época e as palavras significam o mesmo em
Português.
Coincidindo o
aparecimento da obra com o corte de relações, entre Portugal e a Santa Sé, o
Aparato Histórico ficou impresso, mas silenciado durante os quase 300 anos que
decorreram. Quando em 2011 publicámos «Os novecentos anos de D. Afonso
Henriques», o investigador Pinharanda
Gomes elogiou o livro mas lamentou que nele não constasse esse título.
Obtivemos um exemplar na Biblioteca Central da Catalunha e demos dele notícia
na imprensa da época. Apelámos à sua tradução e apareceu um nosso leitor que
nos pediu esse exemplar para confrontar com um outro que se encontrava no seu
espólio, o que se confirmou. Ele próprio liderou um grupo e, feita a tradução,
recorreu à Câmara para custear a edição. Tudo bem. Só que o livro não saiu do
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta ao preço de custo de 60 euros. Soubemos que
apenas se vendera meia dúzia de exemplares. E, a confirmar-se esse facto não
abona ninguém, a começar pelo desinteresse do público, mesmo tratando da figura
eloquente do nosso Rei fundador, à política de distribuição. Essa obra pelo que
representa e pela importância de pela primeira vez estar, em língua portuguesa
é fator decisivo para velhos e novos que não saibam lidar com o latim.
Para obviar esta evidência a Fundação Lusíada
que inspirou e corporiza os objetivos da Ordem de Ourique, convidou-nos para
coordenador de um livro, mais acessível, mais prático e plural, na medida em
que reúne testemunhos de quatro autores, sistematizando tudo quanto acerca
deste tema da santidade se tenha escrito e ensinado. Quase quatro anos depois
não se realizou qualquer evento académico. A Academia Portuguesa de História
que protagonizou, em 2009, uma pirueta mais ampla do que o atual mapa de
Portugal, fez orelhas moucas. E os departamentos de História das Universidades
Públicas e Privadas, ou não têm dinheiro para atualizar as bibliotecas, ou não
têm docentes sensíveis aos progressos científicos.
Talvez ainda não tenham tido acesso ao
Aparato Histórico que, sendo uma tese de doutoramento, defendida em Roma,
deveria encher de alegria, pelo menos, o departamento das Faculdades de letras
e ciências que funcionam nalguns dos
seus núcleos, dispersos pelo Continente
e Ilhas. Para não alegarem que ainda não tiveram acesso ao volume do
Aparato Histórico, que está disponível no Arquivo Alfredo Pimenta, aparece,
neste outono soalheiro, um novo livro que nasce por causa dessa nova forma de
censura. Nas suas quase 400 páginas, os quatro co-autores, explicam e
fundamentam aquilo que escreveram em fontes impressas da Lusofonia acerca deste
tema. Além desses quatro textos o leitor encontra o extratos que foram saindo, aqui e ali, sobre
a Saga da Santidade de D. Afonso. Citam-se em português os dez argumentos ou
«indícios de santidade» que andam no ar, como lendas ou ditos, alguns dos
quais, analisados à luz da ciência e da fé, foram considerados, pelos teólogos,
visões do divino.
Uma seleção substancial de testemunhos
registados ao longo dos três séculos decorridos, permitem ajuizar acerca do
estado de espírito que tão delicada matéria sempre conflituou entre sagrado e o profano. Por último o leitor
atualiza, mediante a leitura de textos polémicos, as divergências entre aqueles
que amam a História e nela satisfazem esse orgulho; e aqueles que a
mercantilizam, adicionando peripécias que induzem mais do que deduzem, infirmam
mais do que afirmam e especulam mais do que o bom senso recomenda. A Saga da
Santidade de D. Afonso Henriques não é mais do que uma explicação dos dez
argumentos ou indícios de santidade de D. Afonso Henriques que permitiram
proclamar, em 1728, a conclusão a que os mais qualificados Teólogos ao Serviço
do Vaticano chegaram, da leitura da tese de José Pinto Pereira: que ele fora
«pio, beato e santo».
Em 2009, o Papa Bento
XVI, perante idêntica situação, relativamente a D. Nuno de Santa Maria, não hesitou
em canonizá-lo.
Bento XIII, negou-se a
atribuir ao cardeal Vicente Bichi, a nunciatura de Lisboa. E D. João V negou-se
a receber, em Lisboa, D. José Firrão,
que fora imposto por Espanha. O papa não teve coragem de satisfazer a vontade a
D. João V, mas sim, em contentar Filipe IV, de Espanha. Impunha que o rei
Português se ajoelhasse perante o homólogo de Madrid. Por outro lado o cardeal
Polignac combatia o seu homólogo, Vicente Bichi. Face a essa birra, o monarca Português que
deu muito mais Roma do que Roma merecia, para expiar os pecados com as freiras
de Odivelas, abruptamente, cortou relações, perdendo-se a beatificação de D.
Afonso Henriques. Urge retomar este processo. E daí a oportunidade deste livro.
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