terça-feira, 17 de outubro de 2017

Chegou o livro que explica a saga da Santidade de D. Afonso Henriques


BARROSO da FONTE
Em 24 de Junho de 2014 foi apresentado no Paço dos Duques de Bragança, o Aparato Histórico sobre a Santidade do nosso I Rei D. Afonso Henriques. Essa apresentação fez parte do programa  comemorativo dos 886 anos da Batalha de S. Mamede.  Essa obra chegou a ser mencionada pelos poucos Historiadores que dela souberam, como «a primeira História de Portugal». Foi escrita em Roma, como tese de doutoramento de José Pinto Pereira, nascido em Guimarães (31/3/1659 -17/2/1733) e destacado para o Vaticano, onde permaneceu 29 anos, como Cavaleiro da Ordem de Cristo. Este padre Vimaranense já nessa altura ouvia diferentes «estórias», acerca do primeiro Vimaranense. E por isso se dispôs a recontar a vida desse Português que fundou o País que fomos.
 O júri aprovou a tese desse Teólogo, incluindo o Papa Bento XIII que deveria iniciar, em 1728, o processo de beatificação, perante a conclusão científica de que ele fora «Pio, Beato e Santo». Essa obra ficou conhecida como Apparatus Historicus. O livro fora escrito, em latim, como era comum, a esse tipo de obras relacionadas com a religião. O título em versão portuguesa, era usual nessa época e as palavras significam o mesmo em Português.
Coincidindo o aparecimento da obra com o corte de relações, entre Portugal e a Santa Sé, o Aparato Histórico ficou impresso, mas silenciado durante os quase 300 anos que decorreram. Quando em 2011 publicámos «Os novecentos anos de D. Afonso Henriques», o investigador Pinharanda  Gomes elogiou o livro mas lamentou que nele não constasse esse título. Obtivemos um exemplar na Biblioteca Central da Catalunha e demos dele notícia na imprensa da época. Apelámos à sua tradução e apareceu um nosso leitor que nos pediu esse exemplar para confrontar com um outro que se encontrava no seu espólio, o que se confirmou. Ele próprio liderou um grupo e, feita a tradução, recorreu à Câmara para custear a edição. Tudo bem. Só que o livro não saiu do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta ao preço de custo de 60 euros. Soubemos que apenas se vendera meia dúzia de exemplares. E, a confirmar-se esse facto não abona ninguém, a começar pelo desinteresse do público, mesmo tratando da figura eloquente do nosso Rei fundador, à política de distribuição. Essa obra pelo que representa e pela importância de pela primeira vez estar, em língua portuguesa é fator decisivo para velhos e novos que não saibam lidar com o latim.
 Para obviar esta evidência a Fundação Lusíada que inspirou e corporiza os objetivos da Ordem de Ourique, convidou-nos para coordenador de um livro, mais acessível, mais prático e plural, na medida em que reúne testemunhos de quatro autores, sistematizando tudo quanto acerca deste tema da santidade se tenha escrito e ensinado. Quase quatro anos depois não se realizou qualquer evento académico. A Academia Portuguesa de História que protagonizou, em 2009, uma pirueta mais ampla do que o atual mapa de Portugal, fez orelhas moucas. E os departamentos de História das Universidades Públicas e Privadas, ou não têm dinheiro para atualizar as bibliotecas, ou não têm docentes sensíveis aos progressos científicos.
  Talvez ainda não tenham tido acesso ao Aparato Histórico que, sendo uma tese de doutoramento, defendida em Roma, deveria encher de alegria, pelo menos, o departamento das Faculdades de letras e ciências que funcionam nalguns dos  seus núcleos, dispersos pelo Continente  e Ilhas. Para não alegarem que ainda não tiveram acesso ao volume do Aparato Histórico, que está disponível no Arquivo Alfredo Pimenta, aparece, neste outono soalheiro, um novo livro que nasce por causa dessa nova forma de censura. Nas suas quase 400 páginas, os quatro co-autores, explicam e fundamentam aquilo que escreveram em fontes impressas da Lusofonia acerca deste tema. Além desses quatro textos o leitor encontra o  extratos que foram saindo, aqui e ali, sobre a Saga da Santidade de D. Afonso. Citam-se em português os dez argumentos ou «indícios de santidade» que andam no ar, como lendas ou ditos, alguns dos quais, analisados à luz da ciência e da fé, foram considerados, pelos teólogos, visões do divino.
 Uma seleção substancial de testemunhos registados ao longo dos três séculos decorridos, permitem ajuizar acerca do estado de espírito que tão delicada matéria sempre conflituou entre  sagrado e o profano. Por último o leitor atualiza, mediante a leitura de textos polémicos, as divergências entre aqueles que amam a História e nela satisfazem esse orgulho; e aqueles que a mercantilizam, adicionando peripécias que induzem mais do que deduzem, infirmam mais do que afirmam e especulam mais do que o bom senso recomenda. A Saga da Santidade de D. Afonso Henriques não é mais do que uma explicação dos dez argumentos ou indícios de santidade de D. Afonso Henriques que permitiram proclamar, em 1728, a conclusão a que os mais qualificados Teólogos ao Serviço do Vaticano chegaram, da leitura da tese de José Pinto Pereira: que ele fora «pio, beato e santo».
Em 2009, o Papa Bento XVI, perante idêntica situação, relativamente a D. Nuno de Santa Maria, não hesitou em canonizá-lo. 
Bento XIII, negou-se a atribuir ao cardeal Vicente Bichi, a nunciatura de Lisboa. E D. João V negou-se a receber, em Lisboa,  D. José Firrão, que fora imposto por Espanha. O papa não teve coragem de satisfazer a vontade a D. João V, mas sim, em contentar Filipe IV, de Espanha. Impunha que o rei Português se ajoelhasse perante o homólogo de Madrid. Por outro lado o cardeal Polignac combatia o seu homólogo, Vicente Bichi.  Face a essa birra, o monarca Português que deu muito mais Roma do que Roma merecia, para expiar os pecados com as freiras de Odivelas, abruptamente, cortou relações, perdendo-se a beatificação de D. Afonso Henriques. Urge retomar este processo. E daí a oportunidade deste livro.

                                                              

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