Queridos amigos,
Ontem estive presente a
uma missa de Corpo Presente. É um momento de dor porque é um momento de
separação radical. Mas na perspetiva cristã já me habituei a ver as duas faces
de uma mesma moeda: MORTE/RESSURREIÇÃO. A Sexta-feira santa só faz sentido
porque há um Domingo da Ressurreição. Celebramos o mistério da Paixão, da morte e da Ressureição do Senhor.
No fundo é o que acontece na celebração da passagem (da Páscoa) de cada
cristão.
A foto mostra o Cristo
ressuscitado no convento dos Carmelitas de Avessadas, Marco de Canaveses,
Porto, e eu em alegria total junto a ele depois de um retiro. Tocando o
Ressuscitado e pedindo-lhe, para que viva já, tanto quanto é possível, como um
homem da ressurreição, destinado à ressurreição (passando pela morte, claro
está). Essa é a nossa fé. É o que partilho convosco neste poema.
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Enterro
/ Ressurreição
Solidariedade cristã,
Em gesto de fé,
Ontem, hoje e amanhã,
Com Jesus de Nazaré
A tornar-se o nosso
CENTRO,
A habitar em nós, cá
dentro! (1)
Ele é a Ressurreição,
É também a verdadeira
vida,
A certeza de todo o
cristão,
Amor sem medida
Que vence a morte
E a todos dá o verdadeiro
norte! (2)
Procissão de enterro
Com o Terço a Maria
Para que depois deste
desterro
Seja ainda causa da nossa
alegria
E nos apresente a seu
Filho
No eterno e celestial
brilho! (3)
No cemitério, é certo,
Um sentimento de dor,
Mais que solidão no
deserto,
Mas que encontra no Teu
amor
O sentido e a esperança,
Mesmo quando a dor fere e
avança! (4)
À terra se devolve o
corpo
Depois do sacramento da
vida!
Ali junto a Jesus, o
morto
Não tem apenas uma
despedida!
É a certeza da
Ressurreição,
Desde o primeiro momento
da Criação! (5)
Teófilo Minga
Lisboa, 1 de agosto de
2017
1) Poema inspirado na participação de uma missa de corpo presente.
A falecida, era irmã de um colega meu de profissão religiosa, e por uma feliz
coincidência, de passagem em Lisboa, pude acompanhá-lo a este ato derradeiro de
solidariedade cristã: celebrar a sua passagem deste mundo à morada que o Pai
lhe preparou (assim líamos no Evangelho da missa) lá nos céus. Era a missa de
corpo presente da Senhora Maria Trindade, na freguesia de Lagoa do Furadouro,
concelho de Ourém.
2) Era a certeza da fé
que se via naquela assembleia cristã que enchia literalmente a igreja da
aldeia. Uma linda eucaristia em que toda a aldeia se associava à dor da
família, mas sobretudo à esperança da ressurreição que ali celebrávamos. Um ato
comunitário que mostrava de um modo excelente a fé desta comunidade que
acompanhava a Senhora Dona Maria Trindade à última morada. Uma linda
manifestação de fé que certamente ainda se vê nas nossas aldeias por esse
Portugal fora. Acreditamos em Cristo que é a Ressurreição e a Vida!
3) Depois da missa, procissão de enterro para o cemitério da
aldeia ainda bastante distante da Igreja paroquial. Uma procissão que deu tempo
para recitar os mistérios dolorosos do Terço. O que me admirou também foi que
ninguém arredou da procissão. Todos, absolutamente todos os habitantes da
aldeia que estavam na Eucaristia, participaram com muita dignidade, respeito e
atitude religiosa que demonstrava uma grande fé, nesta procissão da igreja ao
cemitério, rezando o Terço. Continuava a manifestação de fé que eu tinha visto
na Eucaristia. Muito embora sabendo que um momento de morte é um momento em que
mais facilmente exprimimos a nossa solidariedade cristã para a família
enlutada, este “estar em massa” diríamos de toda a aldeia não deixou de me
impressionar profundamente.
4) Também ali no cemitério esteve presente “todo
o povo” até ao fim das orações, isto é, até ao específico momento do enterro em
que o corpo era devolvido à terra donde tinha vindo como dizem as orações do
ritual das exéquias.
5) Esta é a verdade central do cristianismo: a
certeza da Ressurreição. Era o que aquele povo afirmava a li com a sua
presença. Já o Evangelho nos diz: “Porque
procurais entre os mortos Aquele que está vivo?”. Em duas ou três vezes que
tive a ocasião de fazer a homilia numa missa de corpo presente, eu comecei-a
com essas palavras que são a centralidade da fé cristã. E São Paulo diz também
algures: “Se Cristo não ressuscitou a
nossa fé é vã!”. Parece-me que a gente simples das nossas aldeias, neste
caso concreto a gente da freguesia da Lagoa do Furadouro, sem ser, certamente,
perita em alguma teologia dogmática ou bíblica, compreende perfeitamente essa
afirmação central da fé cristã. Foi o que eu pude notar nesta eucaristia de
corpo presente, nesta procissão ao cemitério e nas orações finais antes do
enterro propriamente dito. Foi um grande testemunho para eu fortalecer também a
minha fé. A fé de cada um de nós fortalece-se e consolida-se na fé da
comunidade cristã.
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