terça-feira, 1 de agosto de 2017

Missa de Corpo Presente - Teófilo Minga

Lisboa, 1 de agosto de 2017

Queridos amigos,
Ontem estive presente a uma missa de Corpo Presente. É um momento de dor porque é um momento de separação radical. Mas na perspetiva cristã já me habituei a ver as duas faces de uma mesma moeda: MORTE/RESSURREIÇÃO. A Sexta-feira santa só faz sentido porque há um Domingo da Ressurreição. Celebramos o mistério da Paixão, da morte e da Ressureição do Senhor. No fundo é o que acontece na celebração da passagem (da Páscoa) de cada cristão.

A foto mostra o Cristo ressuscitado no convento dos Carmelitas de Avessadas, Marco de Canaveses, Porto, e eu em alegria total junto a ele depois de um retiro. Tocando o Ressuscitado e pedindo-lhe, para que viva já, tanto quanto é possível, como um homem da ressurreição, destinado à ressurreição (passando pela morte, claro está). Essa é a nossa fé. É o que partilho convosco neste poema.
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Enterro / Ressurreição  

Solidariedade cristã,
Em gesto de fé,
Ontem, hoje e amanhã,
Com Jesus de Nazaré
A tornar-se o nosso CENTRO,
A habitar em nós, cá dentro! (1)

Ele é a Ressurreição,
É também a verdadeira vida,
A certeza de todo o cristão,
Amor sem medida
Que vence a morte
E a todos dá o verdadeiro norte! (2)

Procissão de enterro
Com o Terço a Maria
Para que depois deste desterro
Seja ainda causa da nossa alegria
E nos apresente a seu Filho
No eterno e celestial brilho! (3)

No cemitério, é certo,
Um sentimento de dor,
Mais que solidão no deserto,
Mas que encontra no Teu amor
O sentido e a esperança,
Mesmo quando a dor fere e avança! (4)

À terra se devolve o corpo
Depois do sacramento da vida!
Ali junto a Jesus, o morto
Não tem apenas uma despedida!
É a certeza da Ressurreição,
Desde o primeiro momento da Criação! (5)

Teófilo Minga
Lisboa, 1 de agosto de 2017

1)      Poema inspirado na participação de uma missa de corpo presente. A falecida, era irmã de um colega meu de profissão religiosa, e por uma feliz coincidência, de passagem em Lisboa, pude acompanhá-lo a este ato derradeiro de solidariedade cristã: celebrar a sua passagem deste mundo à morada que o Pai lhe preparou (assim líamos no Evangelho da missa) lá nos céus. Era a missa de corpo presente da Senhora Maria Trindade, na freguesia de Lagoa do Furadouro, concelho de Ourém.

2) Era a certeza da fé que se via naquela assembleia cristã que enchia literalmente a igreja da aldeia. Uma linda eucaristia em que toda a aldeia se associava à dor da família, mas sobretudo à esperança da ressurreição que ali celebrávamos. Um ato comunitário que mostrava de um modo excelente a fé desta comunidade que acompanhava a Senhora Dona Maria Trindade à última morada. Uma linda manifestação de fé que certamente ainda se vê nas nossas aldeias por esse Portugal fora. Acreditamos em Cristo que é a Ressurreição e a Vida!

3)      Depois da missa, procissão de enterro para o cemitério da aldeia ainda bastante distante da Igreja paroquial. Uma procissão que deu tempo para recitar os mistérios dolorosos do Terço. O que me admirou também foi que ninguém arredou da procissão. Todos, absolutamente todos os habitantes da aldeia que estavam na Eucaristia, participaram com muita dignidade, respeito e atitude religiosa que demonstrava uma grande fé, nesta procissão da igreja ao cemitério, rezando o Terço. Continuava a manifestação de fé que eu tinha visto na Eucaristia. Muito embora sabendo que um momento de morte é um momento em que mais facilmente exprimimos a nossa solidariedade cristã para a família enlutada, este “estar em massa” diríamos de toda a aldeia não deixou de me impressionar profundamente.

4)  Também ali no cemitério esteve presente “todo o povo” até ao fim das orações, isto é, até ao específico momento do enterro em que o corpo era devolvido à terra donde tinha vindo como dizem as orações do ritual das exéquias.

5)  Esta é a verdade central do cristianismo: a certeza da Ressurreição. Era o que aquele povo afirmava a li com a sua presença. Já o Evangelho nos diz: “Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo?”. Em duas ou três vezes que tive a ocasião de fazer a homilia numa missa de corpo presente, eu comecei-a com essas palavras que são a centralidade da fé cristã. E São Paulo diz também algures: “Se Cristo não ressuscitou a nossa fé é vã!”. Parece-me que a gente simples das nossas aldeias, neste caso concreto a gente da freguesia da Lagoa do Furadouro, sem ser, certamente, perita em alguma teologia dogmática ou bíblica, compreende perfeitamente essa afirmação central da fé cristã. Foi o que eu pude notar nesta eucaristia de corpo presente, nesta procissão ao cemitério e nas orações finais antes do enterro propriamente dito. Foi um grande testemunho para eu fortalecer também a minha fé. A fé de cada um de nós fortalece-se e consolida-se na fé da comunidade cristã.

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