JORGE LAGE |
Acompanho o
percurso de escrita da Virgínia do Carmo há uns quinze anos e foi a clareza e a
criatividade da sua escrita que me cativaram. Foi com expectativa que soube da
edição do seu novo livro, «Poemas simples para corações inteiros», na «Colecção
Poesia», da «poética edições». O livrotem desenhos do filho Bernardo e foi
apresentado, na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga, dia 17 de Junho,
pelas 17H00 e contou com uma brilhosa assistência. A poetisa, Lídia Borges, fez
uma brilhante e detalhada apresentação, com leitura de alguns poemas, acabando
por contagiar os restantes participantes e muitos (mesmo crianças, leram vários
poemas. O livro está dividido em duas partes, «Do mundo de mim» com dezasseis
poemas e «Do íntimo» com vinte e nove poemas. É um livro com um «universo
poético feito de raízes num solo de afectos fecundo» que mexe com os leitores.
Actuou o Grupo de Cavaquinhos desta Casa Regional em caloroso convívio e com
jantar ao jeito e sabor dos santos populares. Parabéns à organização e em
especial à Virgínia por mais este bom livro! Pode ser consultado em
poeticaedicoes.blogspot.com e pedido nas livrarias ou a geral@poetica-livros.com
.
Provérbios
ou ditos:
Junho provém de «Iunius»
porque os romanos dedicaram este mês à sua deusa «Juno», protectora da mulher e
deusa do lar.
Chuva de Julho, por Santa Marinha, vem com a cabacinha; por São
Tiago traz o canado.
De castanhã em castanhã se faz a má manhã (Os maus hábitos vão
entrando aos poucos).
Pelo São Tiago, na vinha acharás bago; se não for maduro, será
inchado.
O
Medo *
Tenho medo de chegar
tarde.
Medo de tudo já ter
acontecido à minha
porta antes de eu própria
habitar a minha casa.
Tenho medo que o medo me
ate as mãos
enquanto durmo. Tenho
medo de chegar
cedo e que nada mais
chegue depois.
Tenho medo que me caia
dos bolsos
esse papel gasto onde
escrevi
à pressa
a morada da alegria
enquanto corro para fugir
da tristeza.
E tenho medo das
cicatrizes dos outros.
E do útero seco de um
mundo sem lágrimas.
Tenho um medo tão cheio
de medos dentro
que receio afundar-me com
o peso dos sustos.
* Virgínia do Carmo, in
«Poemas simples para corações inteiros», Abril 2017,
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