Uma das poucas boas
notícias no meio deste terrível Verão tem sido o papel que a comunicação social
tem desempenhado desde a tragédia de Pedrógão. Há vários meios que têm razões
para estar orgulhosos do trabalho que têm feito — o PÚBLICO é um deles —, e eu
sinto-me tanto mais à-vontade para dizer isto quanto sou altamente crítico da
capacidade dos jornais nacionais para desempenharem o seu papel de watchdogs e
actuarem como efectivo contrapeso num país onde o Estado detém demasiado poder
e os meios de comunicação se encontram, por razões económicas, profundamente
fragilizados.
É obra! Todos socialistas. E os que não eram, passaram a ser. Não é de admirar que os parvos sejam manipulados! |
Agora que o número de
mortos evoluiu de 64 para 64+2, há quem nos venha dizer que o Governo e os seus
apoiantes é que tinham razão, e que assim se demonstrou que ninguém estava a
mentir, nem a esconder vítimas. Eu próprio fui acusado de ter escrito um
artigo “deplorável” na terça-feira, e de ser um dos que
andam a promover a utilização “sem vergonha” dos mortos para obter dividendos
políticos. Não me lixem, senhores. Quem isto afirma comete mais uma vez o
prodígio de não perceber coisa alguma.
O importante não é sequer
o facto de o número de mortos ter efectivamente crescido, e de se ter provado o
rigor da notícia do Expresso quanto à 65.ª vítima. O importante é que isto
nunca foi uma questão de números, mas de básica transparência no acesso à
informação. É obviamente inaceitável num país civilizado considerar o nome de
quem morre numa tragédia natural como informação privilegiada ou ao abrigo do
segredo de justiça. Aliás, era tão fundamental, mas tão fundamental, que a lista
se mantivesse secreta, e tão crucial, mas tão crucial, manter todos os poderes
minuciosamente separados neste tema, que a lista dos mortos foi divulgada pela
Procuradoria-Geral da República assim que a temperatura começou a atingir
níveis proibitivos ali para os lados de São Bento.
Se alguém falhou aqui — e
muito — foi a política de comunicação do Governo e das instituições do Estado,
que através da costumeira falta de transparência alimentaram as teorias da
conspiração. Os jornais — e os partidos da oposição — fizeram o seu papel. E
conseguiram, pela sua insistência, obter com provas a verdade dos factos. Se é
isto o populismo, então eu quero continuar a ser populista.
Sem comentários:
Enviar um comentário