O novo secretário de
Estado António Mendonça Mendes é irmão da deputada e dirigente máxima
socialista Ana Catarina Mendes. Esta, por sua vez, é casada com o antigo
ministro Paulo Pedroso. Uma ligação excecional na política portuguesa?
Infelizmente, não. Este absurdo é o corolário lógico dum sistema político
dominado por laços familiares.
No Governo, Parlamento e
na alta administração pública, estamos cheios de casados, primos e cunhados. O
ministro Eduardo Cabrita é casado com Ana Paula Vitorino, que também integra o
Governo. Já a secretária de Estado adjunta de António Costa, Mariana Vieira da
Silva, é filha de outro Vieira da Silva, o ministro da Segurança Social. A
titular da Justiça, Van Dunem, é casada com o ex-administrador da Caixa Geral
de Depósitos, Eduardo Paz Ferreira. A ministra da Administração Interna,
Constança Urbano de Sousa, é filha de Alfredo José de Sousa, ex-provedor de
Justiça. Ainda no atual Executivo, temos o secretário de Estado Waldemar de
Oliveira Martins que é filho de Guilherme Oliveira Martins, ex-presidente do
Tribunal de Contas e atual presidente do Conselho Fiscal da Caixa; este, por
sua vez, é cunhado de Margarida Salema, que preside à Entidade das Contas e
Financiamentos Políticos; esta é irmã da deputada Helena Roseta, casada com o
ex-ministro Pedro Roseta, que é cunhado do também ex-ministro António Capucho.
Elisa Ferreira, administradora do Banco de Portugal, é casada com Freire de
Sousa que preside à Comissão de Coordenação do Norte.
No Parlamento, também os
cargos políticos se congeminam no lar. O exemplo familiar mais exótico nos dias
de hoje é constituído pelas gémeas Mariana e Joana Mortágua; o mais romântico
será constituído pelo casal de deputados Teresa Anjinho e Ricardo Leite. Na
Assembleia da República, cruzaram-se, ao longo dos últimos anos, mais
familiares do que numa ceia de Natal: Luís Menezes, filho de Luís Filipe
Menezes, Nuno Encarnação, filho do ex-ministro Carlos Encarnação, todos do PSD;
e os deputados Candal, pai Carlos e filho Afonso, ambos do PS; a que se juntam
Paulo Mota Pinto, filho do anterior primeiro-ministro Mota Pinto e da
ex-provedora da Santa Casa da Misericórdia, Fernanda Mota Pinto; Clara Marques
Mendes, deputada, é filha e irmã de dois outros Marques Mendes, António e Luís.
António foi eurodeputado, Luís ministro e líder parlamentar; Teresa Alegre
Portugal era deputada na mesma bancada do seu irmão, o histórico dirigente
socialista Manuel Alegre.
A consanguinidade reina
no... reino político. Paulo Portas, ex-ministro e líder do CDS, é primo do
todo-poderoso socialista Jorge Coelho. O ex-secretário de Estado de Passos
Coelho, João Taborda da Gama, é filho do socialista Jaime Gama, antigo
presidente do Parlamento. António Campos, ex-ministro, é pai de Paulo Campos,
deputado. O ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar é primo do Conselheiro de
Estado Francisco Louçã. E este é cunhado de Correia de Campos, presidente do
Conselho Económico e Social e ex-ministro da Saúde. A histórica presidente do
Partido Socialista e ex-ministra dos governos de Guterres, Maria de Belém
Roseira, é tia de Luísa Roseira, membro da Entidade Reguladora para a
Comunicação Social.
Esta é uma lista
interminável que se inscreve numa tradição que transitou do antigo regime. E
que se manteve, transpondo - e suplantando até - a Revolução de Abril. O
ex-ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho é filho de um governador civil de
Viseu, nomeado pelo Governo de Salazar. O presidente de Assembleia Constituinte
da jovem democracia de Abril, Henrique de Barros, era cunhado do último chefe
do Governo do velho fascismo, Marcelo Caetano. Em sua homenagem, o atual
presidente da República herdou-lhe o nome. Marcelo Rebelo de Sousa é, ele
próprio, filho de um ministro do Ultramar de Caetano.
E é neste quadro de
sucessão dinástica que Portugal, uma arruinada República, mantém uma Corte
decrépita, dominada por umas poucas dezenas de famílias que estão agarradas ao
poder público e às benesses que este proporciona. Para aceder ao poder, não
será necessário grande consistência política ou ideológica ou sequer sentido de
interesse público. Em primeiro lugar, o que prevalece, são os laços de sangue.
Sem comentários:
Enviar um comentário