O
sol deitou-me a sombra no telhado
A
lua desceu a serra pela maré
As
estrelas já cercavam o povoado,
Bailando
com o vestido dela, em rodapé.
O
som que entrou pela janela
Leva-me
ao interior do seu jardim.
Cortei
uma flor com a cor dos olhos dela
Guardeia
em silêncio só para mim.
Peço
ao luar que venha mais baixinho,
Me
empreste ao corpo frio mais calor,
Me
dê uma luz mais viva pró caminho
E
eu possa encontrar o meu Amor...
Abílio
Bastos, inédito - New York, 1995,
Nota:Já passaram uns anos. Mas, a imagem daquele
homem de cabelos brancos como a neve ali nas Barrocas, em «Abadim», a olhar na
direcção do Vale, continua indestrutível. A noite vinha próxima e do Sol só meio circulo restava sobre a serra de Celeirô.
Caminhei
ao seu encontro e nem por isso o vi preocupado. Só quando o chamei pelo nome me
olhou.
- É noite Senhor Avelino e você por aqui!?
Responde-me:
- Então, não importa rapaz!
E
mostra-me um ferrugento e velho chumbadoiro preso a um pedacito de madeira já
carcomida.
-
Olha! Fui ao Rochado ver o lugar onde criei os meus filhos… Não existe lá vida
viva... Casa sem telhado, os moinhos não moram lá, a janela por onde me chamava
a minha Sara está vazia, mas ainda passei sobre o lugar onde ela plantava o seu
Jardim… Por ali brincavam os meus meninos quando acordavam ao som do tramelo ou
das cotovias… Vida de Moleiro… Mas a tragédia… Sabes, a tragédia foi matarem-me
a Sara...
Limitei-me
a preencher o tempo com as minhas palavras que nada lhe diziam...
Responde-me:
-Tenho o Luar, as estrelas!... E abalou.
Pois
é… Sol, Luar, Telhado, Estrelas, Jardim, Flores…
Não
sei se daqui ao «Hudson River» será grande a distância… Mas o rio é grande de certeza...
Estas
palavras não cabem no rio! São as palavras do Senhor Avelino...
Nota: A Sara era de uma beleza extasiante
e um tresloucado tirou-lhe a vida a seguir ao 25 de Abril.
Sem comentários:
Enviar um comentário