NÃO
COMENTEI na semana passada a entrevista de António Costa a José Gomes Ferreira
porque não a vi na altura.
Entretanto,
em nome da verdade e da justiça, acho que vale a pena falar de dois temas que
lá foram tratados.
Primeiro:
António Costa disse que, quando tomou posse, em fins de Novembro de 2015, o PIB
estava a cair.
Assim,
o mérito de pôr a economia de novo a crescer pertenceu por inteiro ao seu
Governo e não ao anterior.
Ora,
Costa sabe muito bem o seguinte: a economia já estava a crescer com Passos
Coelho, e só desceu no 2.º semestre de 2015 por causa das eleições (em
princípios de Outubro) e por causa da ‘geringonça’.
De
facto, em vésperas de eleições ninguém investe: todos ficam à espera para ver
em que param as modas.
E
depois, com o chumbo do Governo PSD/CDS e a agitação política causada pela
formação da ‘geringonça’, o investimento caiu a pique.
Assim,
a economia só retomou o seu ritmo normal no 2.º semestre de 2016.
Mas
a inversão do PIB (de negativo para positivo) deu-se de facto em 2013,
continuou em 2014 e na primeira metade de 2015 – só caindo no fim desse ano em
consequência da turbulência referida.
António
Costa sabe isto muito bem, e não devia ter fingido o contrário, arrogando-se
méritos que pertencem na verdade ao seu antecessor.
O
SEGUNDO tema sobre o qual quero falar diz respeito à afirmação feita pelo
primeiro-ministro de que a sua política é muito diferente da de Passos Coelho.
Segundo
António Costa, os resultados que têm sido obtidos provam essa verdade.
E em
jeito de síntese, adiantou que, enquanto Passos cortava rendimentos, ele
devolve-os.
Ora,
a comparação entre as duas políticas tem de fazer-se em dois planos: a
‘estratégia’ e a ‘táctica’.
Quanto
à estratégia, o Governo de Costa não se distingue (felizmente) do de Passos
Coelho: aposta na redução do défice público para conquistar a confiança externa
(e das agências de rating) e no crescimento económico assente sobretudo no
aumento das exportações e não do consumo.
Aliás,
é por causa desta semelhança estratégica com a direita que o PCP e o BE
protestam.
A
DIFERENÇA existe na táctica, isto é, no modo de alcançar estes objectivos.
No
que toca às exportações, António Costa não teve de fazer nada para elas
crescerem: os turistas encarregaram-se de lhe resolver o problema.
Quanto
ao défice público, é que há uma diferença grande.
Enquanto
Passos Coelho reduziu a despesa do Estado à custa (além de outras poupanças)
dos cortes de ordenados e pensões, Centeno recorreu às cativações e ao corte no
investimento público.
Claro
que este caminho foi muitíssimo menos impopular.
Mas
Centeno fez outra coisa: substituiu alguns impostos directos por impostos
indirectos (como o dos combustíveis), que são psicologicamente menos
penalizantes.
TUDO
SOMADO, as coisas não estão muito diferentes.
Os
funcionários públicos e alguns pensionistas estarão um pouco melhor do que
estavam antes – o que se percebe, pois são os eleitores que a esquerda quer
seduzir; mas outros grupos sociais estarão na mesma ou até perderam um pouco,
por via dos tais impostos indirectos.
A
ideia que ficou, porém, é que Passos Coelho cortou ordenados e pensões – ao
passo que António Costa devolveu rendimentos aos portugueses.
Ora
esta ideia, além de injusta, contém uma inquietante incógnita.
Que
é esta: na economia, como na agricultura, há um tempo de semear e outro de
colher.
António
Costa está a colher o que Passos Coelho semeou.
Vamos
ver se o que Costa está a semear hoje permitirá vivermos melhor amanhã.
Ainda
é cedo para sabermos no que irá dar esta política malabarista de Costa e
Centeno, assente em dar com uma mão e tirar com a outra.
P.S.
– A imprensa tem referido a arte revelada pelo 1.º-ministro para não ser
atingido pelas polémicas que têm envolvido o seu Governo. Desde o caso da CGD,
que se arrastou por um ano e em que o presidente nomeado acabou por se demitir,
passando por assessores que foram afastados por não terem as habilitações
académicas que declararam, à história das offshores em que membros do Governo
se contradisseram, à nomeação do secretário-geral do SIRP que acabou por
renunciar antes de tomar posse e à escolha de um administrador da TAP que tem
como principal cartão de visita ser seu amigo – por tudo isto António Costa tem
passado sem se chamuscar. É certo que é preciso jeito para o conseguir. Mas
também é preciso contar com a cumplicidade dos media. Ou seja, alguns que lhe
elogiam a habilidade são os mesmos que não o confrontam com os problemas.
Veja-se como Miguel Relvas foi perseguido implacavelmente durante meses até
cair… E veja-se o desgaste a que Passos Coelho era sujeito.
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